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10 DE ABRIL DE 2015 3

PROJETO DE LEI N.º 856/XII (4.ª)

ESTABELECE A GRATUITIDADE E A DESMATERIALIZAÇÃO DOS MANUAIS ESCOLARES

Na presente legislatura, Os Verdes apresentaram o Projeto de Resolução n.º 1070/XII, que estabelecia os

princípios orientadores para a garantia de índices de fecundidade e de natalidade desejados. PSD e CDS

chumbaram todos os pontos da referida iniciativa do PEV, e o PS não votou favoravelmente quatro dos dez

pontos propostos. Esse projeto de resolução centrava-se, sobretudo, na necessidade de combater o

desemprego e a precariedade no emprego, de modo a gerar estabilidade na vida e a permitir aos jovens a

perspetiva de constituir família, de garantir meios de subsistência dignos a essas famílias, de gerar condições

para a não saída de jovens do país por via do fenómeno da emigração forçada, mas centrava também atenção

no apoio à mulher trabalhadora grávida e no apoio à infância. O ponto 7 do referido projeto de resolução

apresentava concretamente uma orientação relativa ao direito ao acesso de crianças e jovens a dimensões

fundamentais como a educação, a saúde e os transportes. É justamente com vista a abrir caminho para

aperfeiçoar esses direitos que o PEV apresenta o presente projeto de lei, considerando que, com ele, se dá

um passo para combater uma política anti-natalidade, contrariando, portanto, opções políticas que têm sido

vincadas nos últimos anos.

Em Portugal está, claramente, colocado um problema de renovação de gerações: partir de 2011 tem-se

assistido, no nosso país, a uma acentuada descida do número de nascimentos: em números redondos, de

101.300 em 2010, passou-se para 96.800 em 2011, 89.800 em 2012 e 83.500 em 2013. A manter-se esta

tendência, estima, o INE (Instituto Nacional de Estatística), que a pouco mais de meio do século XXI (por volta

de 2060) a população portuguesa se situe aproximadamente nos 6 milhões de habitantes, podendo alcançar-

se um rácio de 464 pessoas idosas por 100 pessoas jovens, correspondendo a um significativo

envelhecimento demográfico. Assim sendo, o país precisa de assumir como desígnio nacional a promoção de

políticas que fomentem o nascimento de mais crianças em Portugal. E a verdade é que pensar uma política

que promova a natalidade é necessariamente pensar um conjunto de dimensões da vida que interferem no

dia-a-dia de uma criança, designadamente em setores tão fundamentais como a educação.

Ora, o encargo anual das famílias portuguesas com os manuais escolares (sempre mais caro à medida que

se percorrem os diferentes níveis de ensino) é muitíssimo elevado. Mas num quadro onde a opção pela

austeridade quebrou brutalmente os orçamentos familiares, estes encargos tornam-se ainda mais dolorosos.

As famílias portuguesas são das mais sacrificadas com estas despesas escolares, no âmbito europeu e ao

nível do ensino obrigatório (que deveria ser gratuito). Estes factos levam muitos estudantes a percorrer uma

boa parte do ano letivo sem conseguir adquirir os manuais escolares ou alguns deles, gerando-se, desta

forma, muitas desigualdades inaceitáveis e condições absurdas que fomentam o insucesso escolar. Isto dá-se

num quadro em que o Governo só atribui apoio à aquisição de manuais escolares aos alunos beneficiários de

ação social, considerando que mesmo os alunos do escalão A não têm acesso integral aos manuais

escolares. E se acrescentarmos a este dado, a forma como o Governo restringiu o número de alunos com

acesso a ação social escolar, deixando de fora muitos estudantes que integram famílias com profundas

dificuldades financeiras, percebemos como a questão é verdadeiramente inaceitável.

É por isso que se torna necessário garantir a gratuitidade dos manuais escolares. Não faz, de resto, sentido

que o ensino obrigatório acabe por ser tão caro para as famílias. Para além da questão de justiça social que

esta medida representa, ela deve também ser enquadrada no âmbito de uma política de incentivo à

natalidade, na medida em que a capacidade de gerar dignidade e qualificação na vida de um filho não é fator

de menor importância.

Para a operacionalização dessa gratuitidade, o PEV propõe que se proceda a um processo de

desmaterialização dos manuais escolares, através do fornecimento de tablets aos alunos, dispondo, neles, os

conteúdos educativos, onde se incluem os e-manuais escolares, em versão offline, permitindo a sua consulta

sem dependência de internet e em qualquer lugar. Com esta medida geram-se vantagens a diversos níveis,

designadamente pelo aproveitamento das novas soluções tecnológicas disponíveis; pela promoção da

igualdade que assim se pode assegurar, e por claros benefícios ambientais decorrentes da poupança de

recursos naturais.

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