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II SÉRIE-A — NÚMERO 70 48

se uma série de constrangimentos: não existe legislação laboral que assegure às mulheres o tempo para extrair

leite; não existe legislação que regule a existência, nas empresas, de condições físicas para que se proceda à

extração do leite nos moldes acima enunciados e uma parte substantiva das famílias poderá não ter recursos

financeiros para aquisição de um extrator de leite materno, recipientes próprios para a sua conservação e

material para acondicionamento e transporte de leite materno.

Assim, muitas mulheres, por não conseguirem ultrapassar estas dificuldades acabam por desistir de

amamentar, sendo introduzida a diversificação alimentar antes do tempo recomendado, com prejuízo para a

saúde do bebé e da mãe.

As vantagens do aleitamento materno são múltiplas e já bastante reconhecidas, quer a curto, quer a longo

prazo.

No estudo “Aleitamento Materno — A importância de intervir” que tem por base artigos dos últimos seis anos

publicados por organizações de referência, como a Organização Mundial de Saúde, sobre esta matéria, o

aleitamento materno está claramente associado a benefícios para o lactente, incluindo efeito protetor

significativo para infeções gastrointestinais (64%), ouvido médio (23-50%) e infeções respiratórias severas

(73%), bem como para leucemia linfocítica aguda (19%) e síndrome da morte súbita do lactente (36%). Foram

ainda encontrados benefícios a longo prazo para a prevenção da obesidade (7-24%) e outros fatores de risco

cardiovascular em idade adulta. A mãe também beneficia do efeito protetor para neoplasias da mama, ovário e

para a diabetes mellitus tipo 2, proporcionais ao tempo de amamentação.

De acordo com estudos da Direcção-Geral de Saúde, ao leite materno são reconhecidas diversas vantagens

como sejam nutricionais, por conter vitamina A que reduz a prevalência de infeções respiratórias e a proteção

da mucosa intestinal; Imunológicas por conter glutamina e arginina que possuem uma ação anti-inflamatória e

por fornecer imunoglobulinas, lisozimas, oligossacáridos, bem como permitir a recuperação de peso de

prematuros e de recém nascidos de baixo peso; psicológicas por facilitar o estabelecimento do vínculo afetivo

entre mãe e filho e económicas. No caso das mães aparece associado a um menor risco de osteoporose, cancro

da mama e do ovário. No que diz respeito ao cancro de mama, estudos apontam para que nos casos de

amamentação superior a 24 meses, o risco de aparecimento é 50% menor quando comparado com aquelas que

amamentaram de 1 a 6 meses.

Igualmente, estudos realizados demonstram que o consumo de leite materno aumenta a visão e contribui

para o aumento tanto do desenvolvimento verbal como do QI.

A amamentação, especialmente essencial nos primeiros seis meses de vida, contribui para um reforço do

sistema imunitário, proporcionando à criança melhores condições de vida e, consequentemente contribui para

a redução da mortalidade infantil. Ainda, protege o bebé contra a anemia por falta de ferro porquanto o ferro

presente no leite materno é melhor absorvido sem a alimentação com outros alimentos.

De acordo com uma série de artigos publicados pela revista The Lancet em 2003, sobre a sobrevivência das

crianças, foram identificadas um conjunto de intervenções nutritivas que têm comprovadamente um potencial

para impedir até 25% das mortes de crianças, se elas forem implementadas em grande escala. Uma destas

intervenções é a amamentação exclusiva que consiste em não dar aos bebés quaisquer outros alimentos ou

líquidos durante os primeiros seis meses de vida e que poderia salvar anualmente até 1,3 milhões de crianças

em todo o mundo.

De acordo com uma meta análise realizada por uma Equipa de Estudo Colaborante da Organização Mundial

de Saúde (WHO Collaborative Study Team) que avaliou o impacto da amamentação na mortalidade devida

especificamente a infeções, o risco de morte de bebés com menos de 2 meses é aproximadamente seis vezes

maior nos bebés não amamentados com leite materno.

Durante os primeiros anos de vida, sobretudo ao longo do primeiro ano, o cérebro do bebé sofre milhares de

transformações neuronais. Isto significa que estes anos são fundamentais para toda a sua organização ao nível

cerebral, do sistema nervoso e para a construção da sua personalidade. Durante estes primeiros tempos de

vida, para um bom desenvolvimento, os bebés precisam de um contacto quase constante com a mãe e de uma

grande disponibilidade da sua parte. De acordo com o conceito de adaptabilidade evolutiva — que procura definir

o tipo de ambiente em que os seres humanos nascem programados para viver, através das descobertas mais

recentes das neurociências mas também do estudo das sociedades tradicionais e dos nossos antepassados —

é possível perceber que a presença quase constante da mãe durante o primeiro ano de vida é um elemento