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0024 | II Série B - Número 004 | 14 de Outubro de 2002

 

Não era só a voz: era, sobretudo, a grande capacidade interpretativa de Amália ao dizer as palavras. Ary dos Santos escreveu: "É por isso que quando Amália canta o que nós escrevemos, transforma os versos deitados no papel numa explosão de vida e de força interior que nos deslumbra, até a quem os escreveu". De facto, diversas interpretações de Amália, quer no fado quer no folclore português, são autênticas obras de arte.
Saga dos descobrimentos:
Camões cantou os feitos do povo lusitano que deu novos mundos ao mundo; Amália cantou a alma desse povo e levou-a a conhecer por toda a parte. Complementou, com idêntica genialidade, a obra de Camões. Foram duas grandes almas fadistas e duas almas gémeas. Cantaram, como mais ninguém, a tristeza e a saudade, sentimentos tão portugueses! Por isso, quantos reconfortam a alma num soneto de Camões ou num fado de Amália!
Mosteiro dos Jerónimos:
É o maior e o mais belo símbolo de Portugal dos tempos do Império. Acolhe grandes vultos das descobertas, mas também os maiores símbolos, até à data, da cultura portuguesa.
O ciclo dos descobrimentos e do Império findou definitivamente em Dezembro de 1999.
Amália morreu a tempo de não ver o fim do Império, porque ela era daqueles tempos, não dos tempos presentes e muito menos dos tempos do futuro. Amália revia-se no passado heróico de Portugal.
Os tempos actuais são os tempos da modernidade e da globalização.
O Mosteiro dos Jerónimos, com os seus mortos, ficará, para a eternidade, como recordação de um longo ciclo da história de Portugal cada vez mais distante.
Amália é a última oportunidade que Portugal tem de sepultar nos Jerónimos um dos seus maiores símbolos, generalizadamente recomendado como tal. E Amália gostava daquele belo monumento. Mostrava-o, com orgulho, a muitos que a visitavam!
Falta de visão:
O local onde Amália estiver sepultada será sempre um local de visita e de veneração - para não dizer de culto -, ainda que seja na gaveta 36 do Cemitério dos Prazeres, como se tem visto.
Quem ganha não é Amália: é o local onde ela estiver.
O Mosteiro dos Jerónimos só ganhará em acolher Amália. Para além do interesse que tem pelo seu simbolismo, passará a guardar duas almas muito amadas: Amália e Camões. O povo terá uma razão adicional para visitar o monumento e conhecer a história que ele compendia.
Amália levará o momumento ao povo, como levou muita da poesia dos nossos melhores poetas, até então só do domínio dos eruditos ou letrados. Mesmo depois de morta, fará mais pela democratização da cultura do que muita da dita intelligentsia, a mesma que se escandalizou quando Amália cantou Camões!
Amália fará crescer e rejuvenescer o interesse por aquele monumento, isto é, Amália "puxará" pelos Jerónimos, como "puxou" pelo fado, como "puxou" pela poesia e pelos poetas portugueses, como "puxou" pela língua portuguesa, como "puxou" por Portugal e como "puxou" pela sua cidade de Lisboa.
Sepultando-se Amália no Mosteiro dos Jerónimos colhem-se as vantagens referidas e junta-se o cumprimento da promessa feita, para além de se dar satisfação aos milhares de admiradores fervorosos de Amália espalhados por todo o mundo. E enriquece-se o monumento com a presença feminina do povo.
A sepultura de Amália não é problema de Amália: é de todo um povo, que lhe deve reconhecimento e gratidão.
E... Um povo que pensa pequeno nunca será grande ou... se nós próprios não reconhecermos, honrarmos e dignificarmos os nossos maiores, quem o fará?!

Lisboa, 5 de Junho de 2000. O primeiro signatário, Manuel Fernandes de Sousa.

Nota: - Desta petição foram subscritores 11 047 cidadãos.

A Divisão de Redacção e Apoio Audiovisual.