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3 | II Série C - Número: 036 | 21 de Junho de 2008


ciclo, os créditos tornaram-se incobráveis e os bancos viram-se descapitalizados. A descida rápida das taxas de juro do FED visou facilitar o refinanciamento dos bancos (e não alimentar nova especulação imobiliária). O refinanciamento poderia durar de nove meses a um ano, período durante o qual o crédito estaria seriamente dificultado. O afluxo dos sovereign funds — apesar das reticências que levantam — tem contribuído para acelerar este processo de estabilização, podendo contribuir para uma saída da crise en douceur.

(iii) Política monetária do FED: Como se disse, a rápida reacção do FED baixando as taxas de juro visou facilitar o refinanciamento dos bancos e não facilitar de novo o crédito à habitação. Contudo, simultaneamente, vai permitir sustentar o consumo, evitando o afundamento deste (segundo o orador, não é de prever a repetição da crise de 29/33). O problema é que o consumo será assegurado essencialmente pelas classes mais ricas (40% do consumo é assegurado por 20% da população) enquanto as classes de mais baixos rendimentos serão as mais afectadas pela contracção do crédito (para estes, a procura de crédito não é função da taxa de juro, mas do rendimento disponível).
Face à pergunta «terá o FED cometido um erro contribuindo para a emergência de uma nova «bolha» especulativa?», a resposta não é simples. Por um lado, reagiu — e reagiu bem —, porque não se esperava a chegada em força dos fundos soberanos e, sem essa intervenção, ocorreria provavelmente uma crise grave (na opinião do especialista, o FED «teve medo»). Contudo, se a China mantiver a taxa de câmbio fixa e não refrear o seu crescimento económico, estarão criadas as condições para surgir uma nova «bolha» especulativa, mas desta vez sobre as matérias-primas e produtos de base, o que terá efeitos bem mais graves que as anteriores «bolhas» do sector tecnológico e da habitação e afectará quase de imediato os níveis de consumo no resto do mundo.
Uma coordenação das políticas entre as grandes economias seria desejável, mas é muito improvável.
Segundo a expressão do orador, trata-se de «escolher o veneno»: recessão vai haver, resta saber se os reequilíbrios se operam por via do mercado (com taxas de câmbio flexíveis) ou por via da inflação (com taxas de câmbio fixas), como atrás se referiu.

(iv) Papel dos Bancos Centrais e regulação prudencial: Ao disseminar no mercado os «produtos estruturados», os bancos comerciais sabiam que estavam titularizando créditos potencialmente incobráveis. Sabiam igualmente que exploravam a informação deficiente dos investidores, num contexto em que as agências de rating desempenharam um papel essencial ao declararem sem risco produtos que não passam, segundo o orador, de «lixo financeiro». No quadro regulamentar criado por Bale II, que atribui aos próprios bancos liberdade em matéria de adequação dos capitais próprios em função dos seus níveis de risco, o resultado não poderia ser outro: dispersão dos riscos «na natureza» e descapitalização das instituições.
O Sr. Blundell-Wignall admitiu possibilidade da emergência de Bale III, embora tenha prevenido contra os riscos de um excesso de regulamentação. De qualquer forma, considerou o caso do Northern Rock resultado do colapso do sistema actual. Desenvolvendo o tema, o orador considerou que os bancos centrais não intervêm em apoio destes bancos (na situação de Northern Rock) para evitar um problema de «área moral», isto é, para não ajudar os culpados a pretexto da protecção das vítimas.
Foi essa a atitude do Banco de Inglaterra. Contudo, face à não intervenção do Banco de Inglaterra, foi o Governo inglês que se viu forçado a intervir recorrendo — contra toda a «racionalidade» económica — primeiro, à garantia dos depósitos e, depois, à nacionalização. Os bancos não aceitam (sublinhou o orador) partilhar os benefícios quando tudo vai bem, mas acabam por partilhar os prejuízos quando tudo vai mal. O que se poderá esperar de Bale III é um novo quadro prudencial que preserve melhor a simetria — e o equilíbrio — dos interesses em presença.»

3 — Em cada um dos temas, seguiu-se um período de debate que permitiu aprofundar o âmbito e extensão da crise no mercado de capitais. Destacam-se algumas reflexões no âmbito do debate da crise financeira:

— Estamos perante uma crise com natureza e dimensão complexas e com contornos ainda difíceis de avaliar. A turbulência dos mercados financeiros que emergiu com a crise do subprime vai prolongar-se e pode vir a afectar de forma significativa a economia na Zona Euro; — Em termos sociais os trabalhadores que vivem do seu salário e que vão perder poder de compra serão os mais afectados; — O montante e a extensão total dos prejuízos das instituições financeiras não estarão apurados antes do fim de 2008; — Apontados contextos que contribuíram para a crise, designadamente os seguintes: informação assimétrica ou desequilíbrio da informação (exemplo, a banca sabe que o crédito tem risco e transfere-o para investidores no mercado financeiro, que, por sua vez, compram o produto com base numa informação de rating positiva e a crise veio mostrar que o produto era de elevado risco); o papel das agências de rating e o facto de a transição do Bale I para o Bale II ter reforçado o seu peso na margem de manobra para os bancos constituírem o seu ratio de solvabilidade; o papel/omissão dos auditores e dos técnicos de contas; e a criação