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11 DE OUTUBRO DE 2019

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diferente. Além disso, no mundo multipolar em que vivemos, a UE não é um dos polos em matéria de

produção de segurança. Para que a UE seja relevante e possa afirmar essa visão, tem de ambicionar ser um

dos polos, não bastando «ser bons a pregar valores (o que é de manter), mas também a projetar poder».

Heather Conley, Vice-Presidente do Centro para os Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington,

começou por afirmar que a relação transatlântica é fundamental e merece honestidade. Porém, considerou

que não podemos restaurar a relação, mas temos de a reconstruir. Reconheceu tratar-se de uma competição

de poder, mas mais uma crise do ocidente. Uma outra mudança significativa é que os EUA não estão a

exercer o seu papel, desinteressaram-se de ser moderadores de política internacional ao longo dos últimos 15

anos e, consequentemente, as parcerias perderam visibilidade e racional aos olhos da administração

americana.

Porém, existe um paradoxo: os EUA não querem exercer liderança, mas também não querem que outros

os façam por eles e no seu lugar. Finalmente, deixou uma palavra de cautela: se os europeus colocarem todo

o ónus no atual Presidente estarão a ignorar os últimos 20 anos e a perder a perspetiva estratégica global. Há

um realinhamento político nos dois lados do Atlântico e precisamos de um manual para reconstruir a relação,

precisamos de novo vocabulário, de novas formas de cooperação, bem como de novos grupos à volta da

mesa (empresas, academia, sociedade civil). Em jeito de conclusão, deixou duas sugestões para reconstruir a

relação:

i) Clima: é um ponto de convergência, dando exemplo de a UE estar a trabalhar com a Califórnia, com

empresas americanas;

ii) Ártico: lugar muito interessante para reconstruir a relação, por tudo o que representa para as várias

partes interessadas e para a geopolítica global.

Robin Niblett, Diretor da Chatham House, começou por questionar porque é importante a relação

transatlântica, avançado com a resposta: precisamos de estar juntos agora, para não estarmos totalmente

isolados daqui a uns anos. Com efeito, afirmou que a proliferação de Estados fracos, a incapacidade de lidar

com a demografia, as alterações climáticas e as ameaças híbridas aumentam os riscos de desestabilização

das nossas sociedades.

No que diz respeito ao curto prazo, afirmou, sem equívocos, que o problema é a atual administração: uma

UE mais fraca é boa para Trump, que considera a UE, conceptualmente, como uma construção contranatura.

Por outro lado, as divisões no seio da UE não são benéficas para esta afirmação, motivo pelo qual é

improvável que a UE venha ser esse polo de poder num multipolar.

Finalizou, avançando com algumas pistas para que a UE se afirme e reconfigure:

I. dinamizar e liderar um sistema de comércio livre internacional, estando na vanguarda de acordos

comerciais equilibrados e ambiciosos, o que inclui também reforma da OMC;

II. investir na sua capacidade de defesa e de resiliência;

III. usar este tempo difícil para definir posições europeias relativamente às questões difíceis,

nomeadamente com a China, que considerou ser o maior desafio para a relação transatlântica;

IV. desempenhar um papel no apoio às várias democracias no mundo que se sentem abandonadas pelos

EUA e pela natureza transacional da atual administração americana;

V. o relacionamento já cuida apenas de governos. A agenda moderna das relações internacionais é

marcada pelas alterações climáticas, pela disrupção tecnológica, e pelas redes que se tecem entre

novos atores, como empresas, sociedade civil, etc.

Concluiu assinalando que aquilo que a UE fizer internamente agora é muito mais importante do que o

acontecerá na relação com EUA nos próximos anos.

No período de debate que se seguiu, a Sr.ª Deputada Inês Domingos usou da palavra para sublinhar que a

relação transatlântica tem sido um sucesso e que é importante preservar os ganhos alcançados nas últimas

décadas. Citando Lampedusa, considerou que talvez seja preciso mudar algumas coisas para que, no

essencial, tudo fique na mesma.