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cabe atribuir prémios nem sou crítica literária, devo dizer que foi possível a Saramago fazer um tal esforço por não viver no País.
Portanto, esse seu discurso oficial é enganoso, mas não deveria sê-lo porque esta questão deve preocupar-nos todos por igual.
No que diz respeito ao cinema, o circuito é igualmente pobre: vamos de Berlim para Cannes, de Cannes para Veneza. Os mesmos realizadores, sempre os mesmos realizadores, têm quatro linhas, cinco linhas, 10 linhas, conforme, ao longo de muitos anos - e é, por exemplo, o caso de Manoel de Oliveira -, foram constituindo as suas redes legítimas e se tornaram mais conhecidos no seu meio e no seu métier específicos.
Tanto quanto sei, no estrangeiro, realmente conhecidos são o Vasco da Gama, o Dr. Mário Soares e o Prof. Cavaco Silva…

O Sr. Lino de Carvalho (PCP): - Então e o Eusébio?! E a Amália Rodrigues?!

O Sr. Joel Hasse Ferreira (PS): - O Eusébio é mais conhecido do que o Cavaco!

A Oradora: - Esta é a pura das verdades, Sr. Deputado Hasse Ferreira! Goste-se ou não!
Continuando, é por isso que tenho de acentuar que, embora não seja da competência do Ministério da Cultura promover nem o Dr. Mário Soares nem o Prof. Cavaco Silva, já seria da competência do Ministério da Cultura lembrar-se de promover o Vasco da Gama. Na verdade, não é apenas o património que é uma herança, a cultura também o é. Ora, é exactamente porque nos esquecemos dos fundamentos desta herança que ela está tão mal.
Portanto, tenho de dizer que este Governo nada acrescentou à projecção da cultura portuguesa, a qual diria que se faz com a penosidade com que sempre se tem feito, com alguns esforços em casos mais visíveis quando são recebidos apoios por parte do Estado, que considero muito correctos. Há algumas manifestações que o Sr. Deputado Manuel Frexes já assinalou, outras que são do âmbito deste Governo, mas não há rigorosamente nada mais. Esta é a verdade!
Quero dizer ao Sr. Ministro que penso que o grande esforço de qualquer Ministro da Cultura, quer se situe numa perspectiva mais de esquerda quer mais de direita… E, Sr. Ministro, não tenho qualquer prazer em considerar esquizofrénica qualquer destas perspectivas! Já há muitos anos que "não estou aí"! Aliás, não mo permitiriam nem a minha formação, nem a minha experiência de vida, nem, talvez, a época que vivi. Portanto, nenhuma das perspectivas é esquizofrénica e penso que ambas tentam encontrar algo fundamental que é a reconciliação do público com as artes.
É que, efectivamente, é preocupante um país que não tem uma produção artística autónoma - e temos de reconhecer que Portugal não a tem nem vai tê-la tão cedo -, pelo que temos de reconhecer que Portugal tem obrigação de, através do Ministério da Cultura, dar um apoio efectivo à produção. Mas penso que o que não podemos perder de vista é que tal produção só faz sentido se, simultaneamente, houver a capacidade de incentivar e apoiar a procura.
Assim, a pergunta que lhe faço, Sr. Ministro, é a de saber se, no fim do seu mandato, olhando para os números, que não os do Orçamento, pode dizer que houve mais gente a ler, mais gente a ir ao cinema, mais gente a ir ao teatro, mais gente a ir aos concertos, ou se, neste pequeno carrossel onde vivemos, encontramos sempre as mesmas pessoas nos mesmos sítios, a ver as mesmas coisas, grande parte delas chegando lá através de convites enviados pelo seu Ministério e pelos organismos que o senhor tutela.
Portanto, penso que este problema de conciliar o público, o cidadão, com a cultura é o objectivo de qualquer ministro, de esquerda ou de direita, sem qualquer esquizofrenia. E depois, obviamente, cada um é livre de escolher os meios para lá chegar.
Não posso deixar de referir, ainda, que nenhum país tem 1% do Orçamento do Estado para o orçamento da cultura. Não é preciso, Sr. Ministro! Não lhes passa pela cabeça que assim seja e é por isso que não têm - e, às vezes, não é uma questão de tempo mas, sim, da base de que se parte. Talvez isso não suceda nos países que estiveram integrados na ex-União Soviética onde esse caminho vai ter de ser percorrido porque o salto de uma cultura oficial para uma cultura livre é um salto que demora. De certa forma - mal comparado! -, nós próprios também estamos ainda a pagar uma factura nessa matéria…

Protestos do Deputado do PS Joel Hasse Ferreira.

Sr. Deputado Hasse Ferreira, eu tenho sempre a liberdade de dizer estas coisas sem ficar com "urticária"!
Como dizia, passar de uma política cultural discutível, mas que tenho de reconhecer que era bem orquestrada, para uma cultura livre demora tempo e o que é preciso é não perder tempo, considerando essa morosidade.
Ora, os países onde estes mecanismos há muito estão implantados não precisam de 1% das verbas dos respectivos Orçamentos do Estado para o orçamento da cultura.
Quero acentuar aqui uma questão que diz respeito às artes plásticas: Deus nos livre que subisse, e muito, o orçamento para o sector das artes plásticas! É que, em Portugal, o sector das artes plásticas é um dos únicos que entrou correctamente nas regras de mercado - entendidas as regras de mercado como devem ser entendidas, sem excessos nem esquizofrenias - e, portanto, houve uma selecção. Assim, em Portugal, quem pinta mal não é pintor e quem pinta muito bem já não está em Portugal - e isto também dói!
Posto isto, se a Sr.ª Presidente mo permitir, vou dar uma pequena explicação muito rápida sobre a Fundação de São Carlos.
Até podia suceder que, em algum momento, eu tivesse endoidecido, mas que, me recorde, não endoideci. Assim, quando tomei aquela decisão, devo dizer que o fiz - e não gosto de citar os mortos, mas citarei este com muita ternura e muita amizade - com uma grande ajuda que me foi dada pelo Dr. Ribeiro da Fonte para resolver o que passo a expor.
O Teatro São Carlos era uma empresa pública. O São Carlos andava à procura de "uma fatiota" há muito tempo, mas não era fácil encontrar "uma fatiota" jurídica para o São Carlos. E, como empresa pública que era, considerei que era "uma fatiota" mortífera porque, na realidade, a contabilidade de uma empresa pública obrigava a considerar como prejuízos o que mais não era do que a necessidade de ter um teatro de ópera altamente financiado pelo erário público. Portanto, era constrangedor e confrangedor