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30 DE ABRIL DE 2021

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PROJETO DE LEI N.º 806/XIV/2.ª

ALTERA O CÓDIGO DO TRABALHO COM VISTA A REGULAR O TELETRABALHO DE FORMA MAIS

JUSTA

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o stress e a depressão são as maiores causas de

morbilidade nos países desenvolvidos. Razões relacionadas com a saúde mental, nomeadamente causadas por

stress, são hoje dos principais motivos de baixas no trabalho. Em Portugal, um em cada três trabalhadores tem

problemas de saúde mental relacionados com stress laboral, depressão ou burnout. Por tudo isto, o bem-estar

psicológico dos trabalhadores deve ser alvo de atenção e requer a garantia de condições para a sua efetivação.

As condições em que vivemos há mais de um ano, decorrentes da pandemia de COVID-19 e das medidas

decididas para lhe fazer face, obrigaram a uma mudança acentuada de hábitos de vida, a períodos extensos de

confinamento e recolhimento domiciliário obrigatório e à aplicação do teletrabalho em múltiplos casos.

Desde 2003 a legislação laboral prevê o teletrabalho, mas de forma voluntária e por acordo das partes. É

esse o pressuposto que norteia as normas relativas a essa específica forma de trabalho. Ocorre que, hoje, se

discute o teletrabalho partindo de um pressuposto totalmente diferente, que consiste na sua aplicação como

uma obrigação, por motivos de exceção (saúde pública), o que, importa sublinhar, já evidencia potenciais

consequências negativas identificadas por alguns psicólogos, como sejam o aumento da instabilidade

emocional, a ansiedade, e o stress. Assim, no que ao teletrabalho diz respeito, a atual legislação laboral não dá

respostas que se impõem.

Com a enxurrada de legislação, criada para dar resposta ao problema de saúde pública causado pela COVID-

19, previu-se ultrapassar condições excecionais. Porém, não pode ser assumido existir à luz dessa legislação

uma resposta às alterações do mundo do trabalho e é preciso ter em conta que, por via da inovação tecnológica

e de alterações que estão a ser forçadas pelas entidades empregadoras, está-se a criar o objetivo de tornar

normal a exceção.

Mais, o que se está a verificar é que existem limites da dignidade da pessoa humana que estão,

frequentemente, a ser ultrapassados no regime de teletrabalho, por parte dos empregadores, através de controlo

remoto e abusivo, da desregulação horária e de aumento das formas de pressão sobre os trabalhadores.

O controlo do cumprimento dos deveres do trabalhador não pode ser efetuado de forma abusiva. Têm de ser

respeitadas as regras do Regulamento Geral de Proteção de Dados e o princípio de não invasão/intromissão na

vida pessoal do trabalhador, respeitando os seus tempos de trabalho e de não trabalho, quer existam, quer não

existam horários rígidos. Sempre que a atividade o justifique, como é o caso de funções em que existe a definição

concreta de horário de trabalho, o rastreamento deve ser feito por escrito, e o trabalhador deve ter,

inequivocamente, acesso ao registo dos seus tempos de trabalho.

O teletrabalho realizado hoje na sua maioria é feito no domicílio. Porém, não tem de ser realizado no

domicílio, podendo sê-lo em instalações da empresa, em locais públicos, em espaços de terceiros ou mesmo

ao ar livre. Em bom rigor, o que o define é a forma de comunicação com a organização. Ou seja, é o trabalho

realizado fora do estabelecimento/centros de produção, dirigido pela organização, mas por meio de tecnologias,

sem contacto pessoal, mediante a utilização de tecnologias de informação para receção e entrega do mesmo.

Os meios tecnológicos e outro material utilizado no teletrabalho devem ser propriedade do empregador,

podendo, ainda assim, ser do trabalhador, mas a verdade é que este pode recusar a prestação de teletrabalho

por ausência de meios e condições.

O trabalhador está, portanto, dependente de instruções de trabalho da organização e tem o direito de utilizar

as ferramentas digitais da mesma, independentemente do local de trabalho. No caso de isso não acontecer,

compete à entidade patronal suportar os custos dos meios tecnológicos, das ferramentas ou dos materiais

necessários ao trabalho que não sejam fornecidos pela mesma, bem como compensar despesas com o aumento

de consumos energéticos, rendas ou outros gastos que recaem sobre o trabalhador por via da prestação do

teletrabalho em espaços onde estes consumos sejam da sua responsabilidade. O mesmo se coloca, por

exemplo, em relação à aquisição de mobiliário agronomicamente adequado à prestação da atividade.

Um estudo de 2017, realizado pela ADENE – Agência para a Energia, concluiu que as famílias portuguesas

gastavam cerca de 112 euros por mês em água e energia elétrica em casa. O regime de teletrabalho provoca

uma permanência em casa de no mínimo mais 7 ou 8 horas diárias, ou seja, mais que duplicam as horas ativas

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