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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

povo é lama, que póde salpicar as suas fardas bordadas (apoiados).

O parlamento reclama e energicamente contra as propotencias do governo? Pois tambem o governo se cala perante as reclamações do parlamento, e, cousa espantosa, parece que se cala para se esconder por detraz da prerogativa real, e para evitar com esse abrigo os golpes certeiros e profundos da opposição.

Quem supporia possivel que, n'um paiz verdadeiramente constitucional, o governo se conservasse n'aquellas cadeiras silencioso, depois das accusações violentas e justas do sr. Luiz de Campos? Porque preço se sujeitaria alguem a desempenhar esse papel? (Muitos apoiados.)

Que governo poderia conservar-se silencioso, sentindo que pesavam sobre a sua cabeça as mais graves censuras, se essas censuras não fossem merecidas? (Apoiados.) Eu não sei qualificar este crime. Na lingua patria não ha termo para elle.

Disse o governo que tinha aprendido nas lições da experiencia. Mas que aprendeu elle? Alguma cousa foi.

Aprendeu que os seus actos não se podem sustentar discutindo-se, porque os seus actos não nascem de nenhum principio justo, porque os seus actos são todos fundados na injustiça, porque os seus actos não tem desculpa (apoiados). E demonstra-o com o silencio. É com o silencio que elle demonstra que aprendeu nas lições do passado (apoiados).

Todos os dias se appella para a situação da Europa; todos os dias se citam, se mencionam factos violentos, manifestações tumultuosas nascidas do embate de interesses os mais oppostos, da affirmação de idéas as mais extremas; e argumenta-se com a necessidade de manter a ordem.

Manter a ordem, como? Manter a ordem; não, levantando as instituições; não, respeitando o codigo das nossas liberdades, mas infringindo-o, mas violando-o a cada passo! (Apoiados.)

Todos diriam que o principio regulador da politica do governo seria dirigir o movimento social por um tal caminho, que dos attritos, da compressão moral, não resultasse uma grande perturbação. É porventura esse o caminho que o governo segue? Não é, antes vae no diametralmente opposto (apoiados).

Sabem que n'uma machina de vapor a garantia da segurança não é aquelle órgão que reprime, não é aquelle órgão que destroe o movimento; mas é precisamente aquelle que lhe permitte descarregar-se da exuberancia de força. Era este o caminho que os factos estavam ensinando ao governo. Pois não foi este o caminho que o governo adoptou nos seus actos! (Apoiados.)

Lançando os olhos para o nosso paiz, vemo-lo em uma situação economica precaria; é o proprio governo que não se atreve a occulta-lo, são os proprios factos que o proclamam. A situação financeira d'este paiz é desfavoravel. O governo devia pretender melhora-la, como o fez? Lançando sobre o povo precisamente aquelles tributos que mais podem reprimir o desenvolvimento da riqueza publica (apoiados).

A população foge em massa, e vae para terras de além-mar fertilisar com o seu suor, e por fim com os seus cadaveres, essas regiões devoradoras de homens. O governo assiste impassivel a este triste espectaculo, deixa que os povos saiam das suas terras e vão substituir os escravos em terras longinquas e inhospitas. Não o assusta isso, não lhe importa; ainda mais, aggrava esta situação, promoveu e continua a promover a emigração, lançando sobre o povo impostos que recaem justamente n'aquelles generos que constituem a alimentação das classes pobres (apoiados).

As colonias insurgem-se contra o despotismo da metropole... da metropole. Não, insurgem-se contra o despotismo dos governantes, contra a pressão violenta d'esses homens, dos quaes dizia um illustre orador a quem já hoje me referi: «Que a terra aqui não podia com elles.» (Apoiados.)

Convinha estreitar os laços de fraternidade que nos prende aos povos d'aquellas regiões, convinha promover por todas as fórmas as relações entre esses differentes paizes, que são como os ramos nascidos do tronco da mesma arvore.

Mas o que faz o governo? Exactamente o contrario; continua a mandar para lá os homens que se demonstraram inhabeis na mais insignificante administração aqui, e até os homens que deviam ser punidos rigorosamente! E é por esta fórma que elle, em vez de destruir, promove a indisposição nascente das provincias ultramarinas contra a mãe patria (apoiados).

O povo jaz na ignorancia, raras são as escolas disseminadas por este paiz. D'essas raras escolas a maior parte ainda está por prover, porque não ha professores. De quem é a responsabilidade?

Do governo, que não cuida em reparar os damnos que d'ahi resultam, organisando e dotando convenientemente a instrucção primaria.

É verdade que o povo ignorante e por isso menos consciente dos seus direitos, não poderá sustentar-se e defender-se contra as prepotencias governamentaes. O povo ignorante prestar-se-ha ás intimações violentas do regedor e do malsim eleitoral (apoiados).

O governo sempre silencioso, sempre indifferente a este miserando estado de cousas; sempre silencioso, sempre indifferente ás accusações que lhe fazem, exigindo-lhe a responsabilidade dos seus actos. Quer porventura o governo inculcar que a corôa, e não elle, é responsavel por tudo isto? Quererá porventura designar o neto do immortal D. Pedro IV como cumplice n'estes desvarios. Não, senhor. Não se atreveria talvez a tanto, porque sabe que receberia o desmentido mais formal de toda a população d'este paiz. Sabe o governo que este povo ama o seu rei e que o não póde reputar cumplice n'estes desconcertos que o infelicitam; sabe que o povo portuguez em 1873, se porventura podesse imaginar similhante attentado, teria a hombridade de lembrar ao rei o «senão», que ha quatro seculos este mesmo povo sabia intimar a um dos seus maiores.

Não é isto, a sua audacia não chega a tanto, esse silencio impõe-n'o a consciencia.

No intervallo das sessões parlamentares passaram-se factos n'este paiz a que eu não posso deixar de alludir, quando faço uma analyse da politica do governo.

Referiu-os hontem o sr. Luiz de Campos, na sua linguagem primorosamente artistica, e eu não posso fatigar a camara reproduzindo na minha, que é a antithese da de s. ex.ª, a narração dos mesmos factos.

Todos sabem que lavrava em um certo grupo, que vivia obscuramente n'este paiz, um desejo permanente de promover a anarchia. Todos sabem que os governos encontraram sempre esse grupo contrariando-os quando lhe era possivel. Mas o que esse grupo podia fazer era quasi nada.

Dava elle mais inquietação á policia por outras rasões, do que podia dar aos governos e ao paiz, receios pela sua tranquillidade e menos ainda pela independencia nacional.

Havia um fermento permanente de sedição a que o povo tinha dado o nome, permitta-me a camara que o diga, o epitheto que é sabido de todos, e a palavra tornou-se parlamentar, de penicheiros.

Mas tudo sommado ía muito pouco alem de umas arruaças que a policia conseguia dissolver sem empregar a força. Nunca governo algum pensou em fazer alarme d'essas arruaças, d'essas scenas burlescas, como muito judiciosamente hoje lhe chamou o sr. Pinheiro Chagas, perante o paiz, para em nome dos serviços feitos se galardoar a si proprio. Nunca passou isso pela mente de pessoa alguma. Bastava alguma policia para manter essas manifestações, estas scenas burlescas dentro de limites toleráveis, sem perturbação da ordem publica.

Mas o actual governo desejando reproduzir entre nós as peiores scenas do reinado de Jacques I de Inglaterra, enten-