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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

de ser o portador do dinheiro da pagadoria para o quartel, e tinha de o entregar ao conselho administrativo, que depois fazia a distribuição d'elle, e quando a quantia entregue fosse conforme com a verba descripta nos recibos, a sua responsabilidade estava completamente eliminada.

Esse homem confessou-se réu do crime, e foi demittido por isso; mas não foram punidos os membros do conselho de administração, que, se não tinham sido cumplices no extravio do dinheiro, haviam sido causadores d'elle pela falta do cumprimento dos seus deveres.

A um impoz o governo a pena de demissão; a outro, que mostrou claramente que era incapaz de governar um corpo, mandou-o governar uma provincia! Essa provincia é a India.

É verdade que o nobre ministro e os seus collegas já tinham trabalhado muito, e a provincia resistia aos seus esforços. Vendo que aquelle estado ainda não estava completamente infeliz com umas certas medidas, que eu espero que ainda se hão de discutir no parlamento, e reputando que era possivel levar mais longe os males que ella soffre, mandou-lhe para lá um homem que mostrou esta incapacidade, e mandou-lh'o para lá para elle inventar novos meios de affligir os povos (apoiados).

É por esta fórma que o governo, é por esta fórma que o sr. ministro da guerra administra justiça aos seus subordinados; infringe as leis, punindo os que sem delinquirem pretendem fazer valer os seus direitos e premiando com uma generosidade inimitavel os que delinquem! (Apoiados.)

Se eu levasse por diante esta enumeração de factos, cada um dos quaes excede o outro na admiração que causam aos que os ouvem narrar a primeira vez, e não estão habituados a presencia-los, teria ainda muito tempo que tomar á camara; mas eu nem desejo nem devo faze lo.

O governo ha de responder-me, do mesmo modo que respondeu ao sr. Luiz de Campos, com o silencio. Lá está a prerogativa regia para abrigar o governo; mas, se o governo cala, falla o sr. Pinheiro Chagas. O que a mim me surprehende mais é que fosse a voz do sr. Pinheiro Chagas a unica que se erguesse no parlamento para tomar a defeza de actos d'esta natureza...

(Apartes que se vão perceberam.)

Foi aquelle cavalheiro o unico que se inscreveu...

(Ápartes.)

Perdão, não o sabia eu. Tambem está inscripto o sr. Affonseca; s. ex.ª ha de exprimir sem duvida bem as opiniões da maioria. Mas o sr. Pinheiro Chagas, que começou a sua vida publica por aggredir, com a eloquencia da indignação a mais santa, todas as tyrannias; que soffreu uma perseguição por castigar com a sua penna inspirada o cesarismo de Napoleão III; que tambem foi castigado por censurar o governo corrupto de Izabel II, é o primeiro que vem levantar a voz para defender um governo que praticou arbitrariedades, actos de corrupção, verdadeiros delictos. É uma triste sorte para quem tão bem começou!

Defende o governo, porque mandou fechar as portas do Casino (apoiados). Defende o governo porque... Mas s. ex.ª não defendeu o governo, atacou-o ainda com mais acrimonia do que o sr. Luiz de Campos; foi mais feliz em atacar o governo com a sua defeza, do que o tinha sido o proprio sr. Luiz de Campos com o seu ataque eloquente (apoiados); porque s. ex.ª não só mostrou que n'aquelles pontos em que queria defender o governo, a defeza era absolutamente impossivel, porque ninguem seria capaz de fazer o que não faz o talento do sr. Pinheiro Chagas; mas ainda demonstrou que a maior parte dos actos do governo nem de uma tentativa do defeza eram susceptivel.

S. ex.ª começou por dizer que as accusações do sr. Luiz de Campos tinham sido um pouco violentas e um pouco injustas; é o que a mais affectuosa amisade, a mais intima convivencia, a mais profunda sympathia pelo governo pôde achar de reprehensivel nas expressões do sr. Luiz de Campos. Um pouco de violencia, e um pouco de injustiça!!

Um pouco de violencia e um pouco de injustiça poderia achar-lhe alguem que fosse adversario politico do governo; mas muita justiça e muita verdade, em tudo quanto s. ex.ª affirmou, lhe acharão todos quantos forem imparciaes; e eu ainda vou mais longe, porque julgo que as asserções de s. ex.ª, o sr. Luiz de Campos, se peccam, não é pela sua demazia.

Disse o illustre orador que me precedeu, que «não censurava a opposição, porque esta escolhia a resposta ao discurso da corôa para entrar na discussão dos actos politicos do governo, porque essa discussão era vantajosa actualmente para a opposição, porque lhe permittia reunir as suas forças para dar batalha». Não ha vantagem em reuni-las ou dissemina-las. Se a opposição não tivesse força propria, encontra-la-ía nos actos governamentaes. Não ha mesmo necessidade de mais do que de fazer a simples narração dos actos praticados pelo governo, para se deduzir d'elles a sua condemnação. Que esta narração se faça conjuncta ou separadamente, isso é indifferente, isso não altera em uma virgula aquillo que é affirmado pela opposição. Os factos são inqualificaveis, para mim, de injustos que são; foram praticados pelo governo, a responsabilidade d'esses actos pertence-lhe; e se a não tornar effectiva o parlamento, a opposição ha de ao menos protestar levantando aqui a sua voz (apoiados).

Aggrediu s. ex.ª ainda o sr. Luiz de Campos, ou antes a democracia d'esta terra, por achar pessimo que o governo, ou os seus amigos, os seus agentes emfim, atacassem os filhos do povo, porque elles se atreveram a vir lançar-se aos pés do throno, na phrase cortezã da resposta ao discurso da corôa, a deporem os seus queixumes contra os conselheiros da corôa, e ao mesmo tempo notou certa contradicção entre isto e a asserção feita por aquelle cavalheiro de que as eleições não tinham um verdadeiro caracter popular. Como o hão de ter se o governo comprime, com a sua interferencia, as manifestações do pensamento popular. E é precisamente porque o governo pratica actos de violencia contra a livre manifestação do pensamento, que toda a democracia, toda a opposição em nome d'ella, protesta contra essas violencias (apoiados).

E é o sr. Pinheiro Chagas o homem de talento; o homem que illustra o seu paiz com os seus escriptos (apoiados), que, com a sua palavra eloquente, no parlamento, vem defender d'estas prepotencias, d'estas violencias e d'estes vexames contra a livre manifestação de pensamento! Essa defeza da parte de s. ex.ª escandalisa as minhas crenças liberaes, e profundamente convictas (apoiados).

Achou tambem s. ex.ª que não havia causa para a applicação d'aquelle simile eloquente, estabelecido pelo meu illustre amigo, entre os tempos dos Sejanos e Tigelinos e a epocha actual, porque faltava um tyranno para complemento da allegoria. D'esta vez tem rasão o illustre defensor do governo e este tambem concorda com s. ex.ª tranquillise-se porém s. ex.ª, essa falta tambem preoccupa o governo; sente a falta de um tyranno, e é precisamente isso que trata de inventar (apoiados).

Não ha tyranno em Portugal, mas se o houvesse seria o proprio governo quem o conduziria pela mão aos pés do throno, cujos degraus elle saberia facilmente subir.

Tambem eu não era nascido no tempo em que o papel anonymo que se disseminava occultamente por esse paiz, evocava as bacchantes, e outros personagens igualmente distinctos e igualmente elevados no conceito da antiguidade pagã (muitos apoiados). Não sei a quem se referiam essas evocações, nem se a pessoa a quem se referiam se poderia lisongear com ellas, até mesmo declaro a v. ex.ª que nunca li essas publicações anonymas; mas sei que a democracia, então como hoje, protestaria contra as insinuações, contra os ataques feitos contra a honra de uma senhora (muitos apoiados).

Mas, sr. presidente, se o partido progressista d'esse tempo não protestava contra essas accusações injustas e comple-