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SESSÃO N.° 18 DE 29 DE MAIO DE 1908 5

Havia varios grupos. Os que davam vivas a republica, viraram para a Rua do Alecrim. Dois estudantes que eram conhecidos de meu filho perguntaram-lhe onde era o Hotel Durand e elle disse-lhes que ia indicar.

Foram andando e chegaram ao Largo do Quintella, declarando elle que não passaria já d'aquelle ponto, pois que chegava um grupo dando vivas á republica, á liberdade, gritando abaixo a monarchia, e de mistura com esses gritos bastantes pedradas.

O meu rapaz, vendo isto e suppoudo que eu pudesse estar proximo, disse, ao que lhe pedira informações sobre o hotel, onde elle era, e que ficava ali.

Encontrava-se nesta occasião proximo da casa Monteiro, que todos conhecem.

Neste momento, uma pedrada, das muitas que estavam sendo atiradas, bateu-lhe na testa, o só por milagre o não cegou. Perdeu os sentidos, foi amparado por alguns companheiros e conduzido á pharmacia que está ao principio da Rua do Alecrim, onde o pharmaceutico declarou, depois de ver o ferimento, que necessitava a presença do medico.

Os amigos acompanharam no então á pharmacia Azevedo, da Rua de S. Roque, onde tambem o aconselharam a que fosse ao posto da Misericordia, onde foi por fim pensado, recolhendo depois a casa.

Sr. Presidente: não desejo offender ninguem. Respeito muito os representantes, nesta Casa, do partido republicano que me merecem a maior consideração, e a cujas qualidades de caracter presto a devida homenagem.

Tenho mesmo relações de amizade com alguns membros do partido republicano, como o Sr: Antonio José de Almeida e outros, aos quaes dedico toda a sympathia. Mas pergunto. Porque foi apedrejado meu filho? (Apoiados).

O meu rapaz nada fez que tal merecesse. O unico crime que elle podia ter commettido foi o de haver soltado algum viva á rnonarchia.

Vi um grupo dando vivas á republica e aggredinclo os estudantes com bengalas. O meu filho nada fez. Apenas daria algum viva á monarchia e nem sequer ia no préstito.

Pois por ter solto algum viva á monarchia foi immediatamente alvejado e com mão tão certeira que soffreu um ferimento grave.

Qual foi o crime, de meu filho? Talvez por ter dado um grito á monarchia, quando se ouviam outros á republica.

Tenho muita consideração por todos, porem, se a todos não satisfaço, sou absolutamente indifferente a isso, e emquanto não despejar o saco não me calo (Risos). Não quero novamente pedir a palavra sobre este assunto, por isso desejo levar ao fim todas as considerações que tenho a fazer.

Não quero aggravar o Governo, por cujo chefe tenho toda a consideração. Não só como partidario, mas pessoalmente, presto toda a homenagem a S. Exa., acreditando no seu bom- desejo de levar a cabo a missão tão patriotica e difficil em que está empenhado. (Apoiados). Mas não posso deixar de perguntar se já é crime dar vivas á monarchia. (Apoiados).

Pergunto: se já chegámos ao tempo em que não é licito darem-se vivas á monarchia, e só são permittidos os vivas á republica. (Apoiados).

Sou pennittido dar vivas á republica?

(Interrupção do Sr. Brito Camacho que não se ouviu).

Isto não pode ser.

Não venho queixar-me da falta de meios que o Governo tenha empregado, mas é necessario dar remedio.

Estimo muito que exista no país o partido republicano, que é um dos grandes elementos de progresso e de civilização, mas cada um no seu logar.

O partido republicano entende que só elle está acima da lei.

A policia, quando serve para reprimir, dizem que faz um mau serviço. Se ha monarchicos que teem medo de dizer isto, eu não tenho, sejam quaes forem as consequencias, porque eu digo o que penso.

Quero a acalmação, mas não a quero como os Srs. republicanos a querem; não quero a acalmação que se chame submissão.

Nunca fui militar, mas tenho pelo exercito uma adoração, e devo dizer que me fez uma impressão dolorosa e uma magua bastante profunda ver rapazes com a sua honrosissima farda dar vivas á republica.

Não me importa que esses rapazes sem a farda sintam dentro de si as suas tendencias republicanas, mas o que me parece é que quem veste uma farda, debaixo do regime monarchico, não pode dar vivas á republica, não pode manifestar-se.

Quando vi isto, foi minha intenção vir aqui propor ao Governo, visto que estamos no tempo dos inqueritos, um inquerito a esses acontecimentos.

Ha inqueritos que morrem á nascença, outros que vão por deante, e espero que irá aquelle de que está encarregado o Sr. general Gouveia sobre os acontecimentos de õ de abril.

(O orador não pode ser ouvido).

Como é que a policia ha de manter a ordem sem empregar a força?

A policia neste país não sabe o que ha de fazer, se mexe o pé direito é criticada, se mexe o esquerdo acontece-lhe a mesma, cousa. E sobre este ponto, já que estou com a palavra, não sendo orador, e não tendo a pratica de estar constantemente a chilrear, lembro ao Governo a grande conveniencia de se dar mais autoridade á policia do que aquella que se tem dado até aqui.

Eu vou ler sobre este ponto o que tenho escrito:

(Leu).

Isto é a justificação do que vou dizer.

Não posso terminar sem deixar de me referir a uma conversa que tive ante-hontem á noite com um amigo meu de infancia. Eu disse-lhe que hoje não podia deixar de falar aqui na Camara sobre este assunto, pedindo ao Governo providencias.
Esse meu amigo levou-me ante-hontem a minha casa o Jornal do Commercio, jornal de que é director politico o Sr. Eduardo Burnay, um dos nossos melhores, jornalistas. (Apoiados). Diz este jornal:

(Leu).

(Interrupção do Sr. Brito Camacho que não se ouviu).

O Orador: - Estimo e agradeço a S. Exa. essa affirmação, por ter a hombridade de a fazer, porque eu não leio nenhum jornal republicano, a não ser a Lucia.

O Sr. João de Menezes: - Muito obrigado.

O Orador: - E. agora, Sr. Presidente, vou concluir as minhas considerações, agradecendo á Camara a attenção com que me ouviu e peço a V. Exa. o favor de não se esquecer das minhas queixas. (Vozes: - Muito bem, muito bem).

(O orador foi muito cumprimentado).

(O orador não reviu).

O Sr. Presidente do Conselho e Ministro do Reino (Ferreira do Amaral): - Sr. Presidente: começo por agradecer ao illustre Deputado os protestos que Si Exa. fez de estima e consideração pelo Governo, protestos a que o Governo diligenciará satisfazer cumprindo o seu dever.

Referiu-se o illustre Deputado aos conflictos que se deram com a vinda a Lisboa dos estudantes de Coimbra, queixando-se de nesses conflictos ter sido attingido por