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8 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

todas as eleições, gritando-se pelas das contra os republicanos, gritos e manifestantes protegidos pela policia.

Se, porem, foi grande essa affronta, maior é ainda a que o Governo atirou á face. do país, com a nomeação de uma commissão propositadamente arranjada para liquidai os adeantamentos á Casa Real.

Tal, porem, não succederá. Essa liquidação, que, vergonhosamente, a ditadura queria fazer, e que custou ao Rei a sua morte e aos ditadores a sua deshonra. politica, e que, se não se fez pelos processos apresentados, tambem agora a ditadura parlamentar não ha de fazê-la, porque a isso os republicanos se opporiam.

Se os monarchicos querem affirmar a isenção do novo Rei, querendo liquidar os erros de seu pão, não vão agora destruir essa isenção, commettendo novos erros. Os monarchicos já levaram o pae á morte: não vão, agora, incompatibilizar o filho com a nação.

Por ultimo, e para terminar, limita-se a pedir ao Sr. Presidente do Conselho, em nome do partido republicano, que diga ao joven Monarcha, como conselho, ou aviso: "Fia-te na Virgem e não corras!"

(O discurso será publicado na integra quando o orador restituir as notas tachygraphicas).

O Sr. Pereira dos Santos (relator); - O illustre Deputado que acaba de falar fez um discurso de tal modo violento que elle, orador, convence-se de que em Parlamento algum do mundo se permittiria tal forma de falar. Não lhe falta o desassombro, nem autoridade para responder a S. Exa.; tem, porem, normas a que nunca, faltará; soube sempre respeitar o logar onde está.

O Sr. Alexandre Braga: - Pede que lhe provem em que faltou ao respeito parlamentar.

O Sr. Affonso Costa: - Isso é com a mesa.

Vozes na direita: - Ordem! Ordem! (Estabelece-se sussurro).

O Sr. Archer e Silva:- Isto não vae assim! Cada um no seu logar.

O Sr. Presidente: - Pede aos Srs. Deputados que occupem os seus logares.

Vozes na direita: - Ouvimos o Sr. Alexandre Braga com toda a attenção; havemos, pois, de ser ouvidos da mesma maneira. (Muitos apoiados).

(Aumenta o sussurro).

O Sr. Presidente: - Declara interrompida a sessão.

Eram 4 horas e 55 minutos da tarde.

As 5 horas e 35 minutos, reabre-se a sessão.

O Sr. Presidente: - Dá a palavra ao Sr. Pereira dos Santos, para continuar o seu discurso.

O Sr. Pereira dos Santos: - Lamenta que uma interrupção ao seu discurso obrigasse a mesa a suspender a sessão. Falando na Camara ha vinte e seis annos, nunca tal facto se deu, porque nunca da sua boca saíram palavras que pudessem determinar semelhante facto. Como, porem, é amigo da ordem, e só da ordem, pede toda a liberdade na discussão parlamentar, para que possa exprimir tudo quanto deseja dizer. E soccorrendo-se da protecção do § unico do artigo 128.° do regimento, pede á mesa que, mantendo, absolutamente, o que nelle se dispõe, não permitia as interrupções.

Alem d'isso todos viram que o Sr. Deputado a quem o orador está respondendo falou durante cinco quartos de hora, disse tudo quanto lhe aprouve e não foi interrompido.

Tinha dito que nunca- no Parlamento se proferira um discurso como o de S. Exa. e acrescenta agora que não o acompanhará no mesmo tom.

Se sempre se tem esforçado por manter, no Parlamento, toda a serenidade e urbanidade, hoje, mais do que nunca, se esforçará por proceder fia mesma forma. Acima do Parlamento só ha uma instancia e um tribunal, que a todos julga: - a opinião publica.

É ella que julga da essenciados discursos e da forma por que elles são produzidos e procura as intenções com que o são.

Appella, portanto, o orador, para o veredictum d'essa opinião publica do seu país, para o julgar.

Ha de ser lhe difficil seguir, passo a passo, as considerações do Sr. Alexandre Braga, porquanto não estava preparado para responder a S. Exa. Foi a excitação de momento que o levou a pedir a palavra. Em todo o caso, a sua reminiscencia o auxiliará para responder a quasi todos os pontos desse discurso.

S. Ex.a, como these principal, sustentou que os partidos monarchicos eram cumplices nos ultimos acontecimentos e, a esse respeito, fez varias e- violentas considerações contra a ditadura passada. Ora, sendo conhecido o sentir do partido regenerador e do partido progressista acêrca d'essa ditadura, expresso já, quer na tribuna, quer na imprensa, não a incriminará, agora, o orador.

O illustre Deputado a quem está respondendo, depois de usar da palavra, na ultima sessão, durante, vinte e cinco minutos, pediu para ficar com ella reservada, por achar-se incommodado de saude.

Apesar da estar dirigindo á Camara as maiores violencias, esta accedeu, quando podia ter indeferido tal pedido.

Não seria essa a primeira vez que tal se dava, porquanto na sessão de 1887-1888, tratando-se de um assunto importantissimo, coube-lhe a palavra dez minutos antes de se encerrar a sessão; e tendo elle, orador, que. então se achava doente, pedido que lhe fosse reservada a palavra para a sesslo seguinte, a maioria rejeitou, obrigando-o assim a aproveitar esses dez minutos.

Podia hoje, com um exemplo anterior, proceder da mesma maneira, evitando assim que a imprensa republicana fizesse reclame á sessão de hoje, para ouvir o Sr. Alexandre Braga.

A generosidade da maioria, porem, levou-a a interromper a sessão, para depois continuar a ouvir S. Exa. E neste ponto está coherente. A ditadura franquista foi devidamente atacada com justiça e com razão. No momento preciso, porem, em que se tratava de produzir a defesa d'ella, um orador brilhante e distincto que estava inscrito adoeceu, não podendo, portanto, comparecer na Camara. Para elle, orador, ha pois um compasso de espera, e emquanto esse illustre Deputado não puder vir produzir a sua defesa não o atacará.

Posto isto, dirá que o partido regenerador é um partido de ordem e disso se preza. Tem as suas responsabilidades, que não declina, bem como tambem os seus intuitos; sabe sofrear as suas paixões, pondo acima de tudo os interesses do país.

Quando a .ditadura empunhou contra o país o cutelo do mais despotico arbitrio, o partido regenerador protestou immediataniente, dentro da lei, e da lei não saiu; e com a lei, e só com ella, tem esperanças de vencer.

Não eram necessarios tumultos nem insurreições perigosas; bastava a lei e só a lei. Protestou, pois, o partido regenerador por todas as formas legaes; promoveu reuniões e pediu o cumprimento da lei, porque sabia que, con-