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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

attenção do governo sobre este ponto, e nada mais, não ha necessidade de entrar em mais detalhes.

O que é necessario que a camara saiba é que o illustre deputado foi dos que recebeu com maiores demonstrações de approvação as minhas propostas que foram votadas pela commissão; e se assignou vencido em parte foi porque queria a immediata extincção da cordoaria e do hospital de marinha, como eu tinha primeiramente proposto, e que depois pedi que ficasse em conselhos para evitar crises politicas.

Passo agora a responder ao sr. Latino Coelho. S. ex.ª tem mais que fazer, e por isso não comparece na camara, pois sentindo fallar na sua ausencia, não posso deixar de me justificar das arguições que elle me dirigiu tão pungentemente, e para isso tenho de fallar dos actos de s. ex.ª como ministro da marinha, os quaes me decidiram a reclamar contra o seu procedimento para commigo.

Corria no parlamento a discussão do orçamento muito placidamente, sem questões pessoaes nem insultos, quando repentinamente entra o sr. Latino Coelho cercado de toda a sua mythologia, sobraçando uma estufazinha que continha uma arvore frondosa, seguido do exercito prussiano com 2:000 medicos.

Trazia s. ex.ª na mão um papel com ares de quem tinha achado o verdadeiro remedio para os nossos males. Arremessou-se logo com todo o peso da sua importancia de encontro ás portas do templo de Jano, mas por mais que empurrou não conseguiu abri-las; ficaram fechadas como estavam.

Chamou s. ex.ª em seu soccorro todos os deuses da fabula para discutir o orçamento da marinha, e depois de despedir os raios de Jupiter, sem poder alcançar os filhos de Titan, nem ter força para mover as montanhas com que os queria abafar; depois de abrir a sua estufazinha para fazer apenas uma surriba em parte dos orgãos respiratorios da sua querida arvore frondosa; depois de ter chamado em seu auxilio os 2:000 medicos do exercito prussiano em campanha para justificar a existencia de dois medicos da nossa marinha dispensados de tratar doentes; depois, finalmente, de um lindo melodiar de rouxinol, mas sem nada mais do que musica e cantiga, dignou-se s. ex.ª saír do Olympo e descer até os mortaes para nos ensinar como é que se deve administrar a marinha, e fazer um orçamento economico e em regra.

S. ex.ª começou dizendo-nos como s. ex.ª foi o inaugurador das economias, como s. ex.ª ganhou umas esporas de oiro n'aquelles torneios economicos em que s. ex.ª mostrou o que é e o que vale como ministro.

Comparando-se com o meu procedimento, mostrou s. ex.ª qual a sua abnegação em não reclamar a gratificação de 300$000 réis que tinha de vogal do conselho de instrucção publica, e com santa inspiração jurou sacrificar nas aras da patria o direito que tinha a ser pago d'aquella gratificação, emquanto eu, negando-me á subscripção nacional para acudir ao deficit, reclamára e conseguira desfazer a obra prima de s. ex.ª

N'isto foi s. ex.ª modesto, e não admira, porque fallava de si.

A gratificação que s. ex.ª perdeu correspondia a emprego amovivel, e por isso nenhuma analogia tem com um emprego inamovivel que tem as garantias dos juizes do supremo tribunal de justiça, e por isso é facil ver quanto é pequeno o sacrificio de um direito que não existe; mas s. ex.ª podia referir-se a muitos outros empregos retribuidos que tem accumullado, e se o não fez foi por modestia.

Podia, por exemplo, referir-se áquelle beneficio simples de director do Diario do governo que desde 1851 a 1861 s. ex.ª accumulou com os outros logares que exercia, e que expontaneamente largou, porque tendo caído o governo da regeneração que lhe tinha feito aquella concessão, s. ex.ª não quiz continuar a receber favores d'aquelles a quem não apoiava.

É verdade, sr. presidente, que s. ex.ª foi sempre um grande defensor do partido regenerador emquanto elle esteve no poder, mas ultimamente declara esbanjadores todos aquelles actos que tanto apoiou, e ei-lo a ganhar as esporas de oiro com a inauguração das verdadeiras economias.

Ora, sr. presidente, eu esperava realmente que s. ex.ª viesse impugnar o parecer da commissão por duas rasões — sendo a primeira, porque s. ex.ª já dissera n'esta casa, em um parecer sobre o orçamento de marinha, que n'aquelle ministerio não podem fazer-se mais economias, e a commissão vem agora tocar na arca santa das suas glorias, e propõe grandes reducções na despeza; e a segunda, é porque s. ex.ª não havia de perder a occasião de me aggredir com a sua panaceia, que é o seu pesadelo, isto é, o conselho ultramarino.

Comparando o orçamento por s. ex.ª proposto, notei eu que s. ex.ª julgava sufficiente 10:000$000 réis de madeiras para pequenos e grandes concertos e reparações de navios, emquanto o governo actual propoz só para pequenas reparações 20:000$000 réis.

Notei, que emquanto s. ex.ª propunha para material da cordoaria 18:000$000 réis, o actual governo propozesse 25:000$000 réis.

Emquanto s. ex.ª pedia 21:400$000 réis para as novas construcções, acquisições de navios, machinas e apparelhos, que a tanto se reduz a verba de 70:000$000 réis, depois de deduzidos os 48:600$000 réis de letras que se venciam pelo desastroso pagamento da celebre corveta Hawk.

Ora, sr. presidente, a commissão actual, de accordo com o governo, propõe que a verba de 90:000$000 réis, proposta no orçamento extraordinario, passe para reconstrucções, machinas e apparelhos, propondo o governo uma verba com urgencia para novas construcções.

Ha portanto grande differença no systema economico de s. ex.ª com o do actual governo, a que s. ex.ª chama inepto.

S. ex.ª propunha 49:400$000 réis para madeiras, material da cordoaria e construcções novas. O actual governo propõe 135:000$000 réis para os mesmos objectos.

Em compensação o sr. Latino Coelho propoz pouco mais de 181:000$000 réis para pessoal, e o governo, a quem s. ex.ª quer substituir, propoz para pessoal pouco mais de 146:522$202 réis.

Á vista d'isto esperava, sr. presidente, que s. ex.ª viesse á camara propor que se augmentasse a verba de pessoal com 37:000$000 réis, e se reduzisse a de material de 85:000$000 réis, para levar as cousas ao estado de verdadeira economia em que s. ex.ª diz ter ganho as esporas de oiro (riso).

Assim é que é regenerar a marinha e fazer verdadeiras economias.

Aprendam as gerações futuras! (Riso.)

Pois o sr. Latino Coelho havia de cortar o tronco á tal arvore frondosa que com todos os carinhos alimentava na sua estufazinha! Nada; s. ex.ª não gosta de cortar os troncos das arvores, e por isso pediu 10:000$000 réis para madeiras.

Basta uma surriba nos ramos, basta cortar algumas folhas, porque sem parte d'estes orgãos respiratorios vive a planta.

É por isso que a verba era ainda de mais para carqueja para o arsenal (riso).

Tambem s. ex.ª, quando em março de 1869 foi lançada ao mar a canhoneira Tejo, cuja cavilha mestra tinha sido batida em 1866, ficou a fazer um jogo de perguntas e respostas para ver como havia de assentar-se uma quilha de nova canhoneira; e a final, como o caso era grave e a surriba não chegava, resolveu s. ex.ª não fazer nada, e com decidido amor de patria e das verdadeiras economias resolveu s. ex.ª em agosto, quando estavam acabadas todas as chicanas dilatorias que a seu tempo resolveria, e lá se foi caminho do Olympo reunir conselho com os seus deuses favoritos (riso).