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304 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

cer de que a papeleta subversiva a que me refiro, tresandava a policia preventiva, em manigancias de gestação de pavorosa.

Ainda não mudei de opinião, e por isso chamarei a terreno o Sr. Ministro da Guerra, a fim de que se deixe, de usar e abusar policialmente do exercito, desacreditando-o, no intuito perverso de illudir ingeriuos e papalvos, preparando terreno para repressões, cujo fundamento falta completam ente.

Ao Sr. Ministro da Marinha, de cujo Ministerio me vou occupar, não pedirei explicações d'este estranho caso policial, não obstante elle visar tambem a armada. Alveja-a porem de reflexo, e por isso chamarei S. Exa. preferentemente a campo, pelos atropelos e abusos em que as suas responsabilidades são directas e accentuadas.

N'este proposito, notarei succintamente a má situação em que se encontra o Sr. Ministro, perfilhando as duas circulares de que me tenho occupado: - a que se refere aos recalcitrantes em materia de cortesanismo cumprimenteiro; e a que arvora inconvenientemente o hymno da Carta em hymno nacional, com as exterioridades rituaes, vazadas pelo espavento caracteristico da megalomania retumbante.

Igualmente apparece o Sr. Ministro da Marinha e Ultramar, firmando, em-parceirado com o Sr. Presidente do Conselho e com o Sr. Ministro da Guerra, a proposta acêrca do Conselho Superior de Defesa Nacional. Quem tal nos havia de dizer! - o Sr. Conselheiro Ornellas, com 03 seus conhecidos antecedentes anglophilos!...

Por este modo, mais se identifica S. Exa. com o Sr. Presidente do Conselho, que é impenitente em fazer propaganda do contrario do que pratica. Na questão sujeita, conforme registei já, exaltou a culinaria allemã em 1901, para em 1906 affirmar a sua predilecção pela cozinha francesa, que, de resto, é a preferida, morbida e tradicionalmente.

Exalta os molhos francezes
Dos banquetes que lhe deram;
E balbuciará ás vezes, Fingindo que lhe esqueceram
Muitos termos portuguezes.

Pelo que se observa, ainda tem admiradores o vão peralta descripto por Nicolau Tolentino; e o peor é que os casquilhos politicos da actualidade são muito mais nocivos do que o antepassado alludido, que não ia alem do jocoso, sem ,maior damno.

Para não tomar tempo á Camara, não farei nova edição dos argumentos que adduzi quando versei os assumptos em que o Sr. Ministro da Marinha compartilhou de responsabilidades com outros seus collegas. Limito, pois, ao que deixo exposto, as minhas reflexões a tal respeito, e passo adeante, registando com magua que perante os graves e ultimos actos de insubordinação dados a bordo de alguns navios de guerra não se teve presente que, em questões de disciplina, as responsabilidades apuram-se de cima para baixo.

Fazer o contrario, pode harmonizar-se com a anarchia tão querida dos altos poderes do Estado - dos satrapas de todas as epocas. Mas com taes desmandos padecem indubitavelmente a rectidão e a justiça, cujo cultivo constitue requisito imprescindivel para quem governa e para quem commanda.

Na armada, como em todas as sociedades ou corporações solidamente estabelecidas, não se podem separar os elos da cadeia que a compõe. E indispensavel haver absoluta concordancia entre todos - entre superiores e subordinados. Dos primeiros teem que partir os bons exemplos, que fructificam a estima reciproca, inherente ao viver pautado e correcto. Os rigores excessivos são contraproducentes, nomeadamente quando na sua incidencia os grandes são poupados, para só os pequenos serem punidos.

Attentas as circumstancias occorrentes e o caracter melindroso da questão, não serei mais explicito. Creio, porem, ter dito o sufficiente para ser compre-hendido; e oxalá de futuro mais respeitada seja a sã doutrina que explanei, ou antes esbocei.

Sr. Presidente: estudando as questões da defesa maritima, desde 1888 que aconselho a acquisição de torpedos e torpedeiros. Então servia-me de incentivo p procedimento do almirante Aube, que vira melhor do que os seus contemporaneos, enaltecendo aquelles engenhos de guerra, e adquirindo-os em grande quantidade, como Ministro da Marinha em França. Agora impul sionam-me para proseguir em identica propaganda:

A declaração do Ministro Britannico Goschen, em 1899, na Camara dos Communs, de que o submarino é sobretudo a arma do fraco - a arma do pobre;

A lição colhida com a guerra russo-japoneza;

A affirmativa attribuida, sem contestação, ao almirante Fournier, de que uma numerosa esquadrilha de torpedeiros e de submergiveis basta para defender as extensas costas maritimas francezas;

O ensino resultante de experiencias varias de recente data;

Os meios escassos do nosso erario.

Os tres ou quatro torpedeiros de que dispomos notabilizam-se pela sua idade. São, por assim dizer, pre-historicos.

Foi Fontes que os adquiriu, ha trinta annos contados.

Como durante a vida d'aquelle estadista, não se conheciam praticamente o submarino e o submergivel, ainda nenhum possuimos.

Nem a acção efficaz que, por muito conhecida, ocioso é pormenorizar, dos torpedeiros e torpedos, na guerra entre a Russia e o Japão, arrancou os nossos dirigentes á inercia com que compromettem indiscutivelmente a defesa nacional.

Reforçando a lição russo-japoneza, apparecem as manobras navaes francezas no Atlantico e no Mediteraneo; e as manobras italianas no Adriático. Todas são de recente data: são d'este anno.

Todas aconselham o emprego, frequentemente preponderante sobre outros instrumentos de guerra, do modesto torpedo, servido por não menos modestos submarinos, submergiveis e torpedeiros de varias lotações.

Concernentemente á Italia, em seguida ás ultimas grandes evoluções navaes no mar Adriatico, mandou ella construir vinte e* quatro submergiveis.

Aprendam n'estes exemplos os nossos dirigentes, e convençam-se de que não dispomos de meios para adquirir uma esquadra de combate de alto mar.

Temos, com as nossas fortalezas costeiras, de substituir, na defesa maritima, os couraçados, cujo fabuloso custo nos não permitte alimentar veleidades acêrca da sua acquisição.

Serão os seus canhões, d'ellas, que darão apoio, nas suas investidas, aos torpedeiros e submergiveis, a quem cumpre a audaciosa offensiva contra os poderosos navios inimigos, que procurem bloquear e atacar o porto da capital, ou outro qualquer ponto da costa.

Dotados com a materia prima naval, para o desempenho d'esta ardua e arrojada missão, resta-nos preparar dois ou tres navios de parada e cumprimentos, dois navios escolas e outros tantos transportes, e remodelar parcimoniosamente a marinha colonial.

A magreza do erario não nos consente mais: - a magreza e o desleixo administrativo.

Acerca d'este assumpto recebi, gerindo a pasta da Marinha o Sr. Conselheiro Moreira Junior, um interessante trabalho, elaborado por um funccionario idóneo, e que não leio agora para não tomar tempo á Camara. Publica-lo-hei, porem, nos Annaes 1, e desde já chamo para elle a attenção dos poderes publicos, porque merece ser consi-

1 Veja-se adeante o documento n.º 1.