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30 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

apresentar a lista quintupla, para a escolha dos seus presidente e vice-presidente, foi recebida por Sua Magestade com a costumada cortezia e amabilidade.

Cumpriu tambem a sua missão a deputação encarregada de felicitar Suas Magestades, o Senhor D. Carlos e Senhora D. Amelia, bem como Sua Magestade a Senhora D. Maria Pia pelos brilhantes e gloriosos feitos de armas dos nossos soldados nos nossos dominios de alem-mar sendo recebida com a mesma deferencia, e dignando-a Suas Magestades agradecer as felicitações que lhes foram dirigidas.

Sou informado de que estão nos corredores os srs. deputados eleitos José Bento Ferreira de Almeida e Amadeu Augusto Pinto da Silva; convido, pois, os srs. deputado Adolpho Pimentel e Barbosa de Mendonça a introduzil-os na sala para prestarem juramento.

Foram introduzidos na sala, prestaram juramento e tomaram assento.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Hintze Ribeiro): - Mando para a mesa uma proposta de lei pedindo que seja relevado o governo da responsabilidade em que incorreu, pela promulgação de medidas do caracter legislativo ordinarias e constitucionaes durante o interregno parlamentar, e por ter deferido a reunião das côrtes até ao dia 2 de janeiro corrente.

Mando tambem para a mesa mais duas propostas de lei de igual caracter. Pela primeira é renovada a iniciativa da proposta de lei n.° 110-A, de 18 de janeiro de 1893 ácerca das medidas de caracter legislativo, decretadas até 31 de dezembro de 1892, que excederam as auctorisações da carta de lei de 26 de fevereiro do mesmo anno.

A segunda renova a iniciativa da proposta de lei n.° 116-B, de 20 de outubro de 1894, ácerca das providencias de caracter legislativo, decretadas pelo governo desde 28 de agosto de 1893 até 27 de setembro de 1894, inclusivamente.

As propostas vão publicadas no fim da sessão a pag. 32. O sr. Manuel Joaquim Fratel (por parte da commisão de resposta ao discurso da corôa): - Participo á camara que a commissão de resposta ao discurso da corôa escolheu para seu relator o sr. Luciano Monteiro e para secretario a mim participante.

O sr. Luciano Monteiro: - Mando para a mesa o projecto de resposta ao discurso da corôa.

A imprimir.

O sr. Presidente: - Creio que interpreto os sentimentos da camara, propondo que se consigne na acta das nossas sessões um voto de profundo sentimento pela morte do João de Deus, e que só dê conhecimento d'esta resolução á familia do illustre finado. (Apoiados.)

A noticia da morte de João de Deus espalhada ante-hontem rapidamente, emocinou todos os corações, porque João de Deus era uma gloria nacional e um benemerito da patria, podendo considerar-se a sua morte uma perda nacional. (Apoiados geraes.)

João de Deus foi um verdadeiro genio; occupava entre os poetas contemporaneos o logar mais proeminente, e na opinião de muitos, foi o primeiro poeta depois de Camões.

Pela simplicidade, pela naturalidade e pela belleza dos seus versos foi considerado como o poeta mais popular e querido do paiz. Illustrou as letras patrias com as producções do seu grande genio, e, apesar d'isto, a sua modestia era tamanha que parecia desconhecer, elle mesmo, a grandeza do seu merecimento e a excellencia das suas producções, muitas das quaes, se não fossem os seus amigos, não teriam visto a luz da publicidade, e teriam sido perdidas para o paiz. (Muitos apoiados.)

Alem d'isto, João de Deus prestou valiosos serviços a instrucção nacional com a sua Cartilha maternal, novo methodo do ensino, que libertou as creanças das torturas dos antigos methodos. (Apoiados.)

Os serviços prestados por João de Deus á instrucção nacional foram taes e de tal modo apreciados que, o que é rarissimo, ainda em vida, em março do anno passado, teve elle uma gloriosa e imponentissima apotheose. E agora, que deixou de existir, que o seu grande coração deixou de palpitar, creio bem que a camara quererá tambem prestar o seu sentido preito e homenagem á memoria do homem que foi um benemerito da humanidade, e deu lustre e gloria á pátria que lhe foi berço.

Vozes: - Muito bem.

O sr. Luiz Osorio: - A moção que vou mandar para a mesa é a seguinte:

"A camara dos deputados da nação portugueza, pranteando, profundamente commovida, a morte do grande, do poeta unico, do modestissimo cidadão, do sublime e desinteressado amigo das creanças, que foi João de Deus, alma e suprema encarnação litteraria da patria no scculo XIX; lança, por acclamação, na acta do dia de hoje, um voto de profundo sentimento e de inolvidavel saudade, por si, e porque sabe que interpreta assim o coração e o sentir de todo o povo portuguez."

O sr. Presidente do Conselho de Ministros (Hintze Ribeiro): - Peço a palavra.

O Orador: - Sr. presidente, duas palavras apenas. Muito sinceras, muito sentidas, muito pouco meditadas. Sinto-me incommodado, mas o dever tem de cumprir-se.

Não é hoje um dia de apotheoses; tambem a critica, que tem de vir, depois da sua morte, não póde fazer-se ainda.

O infortunio chegou, a desgraça feriu-nos, a camara e o paiz lamentam-se e choram.

É bem certo o que, ainda ha dias, aqui disse o nobre ministro do reino e meu amigo o sr. João Franco.

As felicidades e os infortunios, as alegrias e as tristezas; as grandes aspirações do gloria e as decepções tremendas, tecem-se e entretecem-se diariamente na vida.

Abrimos esta sessão annual, com um enthusiasmo doudo pelas nossas victorias e pelos nossos triumphos.
Volvidos apenas um ou dois dias, a camara vestia-se de luto e, em sentidos diversos, lamentou tambem a perda de alguns homens importantes do paiz.

Agora, acabâmos de perder um grande, um bondosissimo amigo; mais modesto (embora os outros o tivessem sido) do que aquelles de quem já se fallou aqui, tão grande, porventura maior, do que todos elles.

Um livro vale às vezes tantos livros!

Parece que perdemos n'elle um amigo de todos os dias.

Ninguém o via.

Se atravessava, furtivamente, essas ruas, naturalmente acompanhava-o alguns dos simples como elles, cujo espirito elle tivesse aberto á luz.

Ninguem o via; e todos eramos amigos d'elle. (Apoiados.)

Ninguem o via; e todos tinhamos, por elle, um respeito profundo. (Apoiados.)

Ninguem o via; e todavia a falta que nos faz, o vacuo subito que nos abriu a sua morte é extraordinario! (Apoiados.)

Os camaradas descobrem-se, mudos e respeitados, ante o cadaver quente do mestre; as creanças lamentam a perda do seu grande e bondosissimo pae espiritual; as mães arrazam-se-lhes os olhos de lagrimas e choram a morte do maior, do mais bondoso amigo de seus filhos. (Vozes: - Muito bem.)

Sr. presidente, ninguem póde, a meu ver, assignalar bem nitidamente os atavismos litterarios de João de Deus. Muitos filiam-no em Camões e em Bernardim Ribeiro, e é certo que muito, de um e de outro, a obra d'elle possue. Mas este quid imponderavel que, na sua obra, o mantinha, por igual, e apenas por uma aresta, afastado do povo; que tantas vezes se lamenta sem arte, e dos anjos, que cantam no céu, com uma arte insondavel, divina: este quid é que