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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Discursos do sr. Barres e Cunha, pronunciados na sessão de 21 de janeiro, que deviam ler-se a pag. 80, col. 1.º, e pag. 84, col. 1.º e 2.' d'este Diario.

O sr. Barros e Cunha: — Tomo a palavra n'este momento para chamar a attenção da camara sobre um dos factos mais importantes que a corôa expõe á camara, occorrido no intervallo da sessão. —

Manifestando a corôa esperança de que as providencias adoptadas pelo governo, para soccorrer a provincia do Algarve, mereçam approvação do parlamento, proponho que esta camara não se mostre fria para com a sympathia e sentimentos generosos que a corôa manifesta.

A provincia do Algarve, pela falta de chuvas, encontrou-se e acha-se ainda em circumstancias taes, que muitos

proprietarios d'aquella parte do reino não esperam já pelas aguas pluviaes para melhorarem a sua agricultura, mas esperam por ellas para arrancarem o arvoredo, a fim de o reduzirem a carvão; e como no espirito publico se tem espalhado que ha exagero na narrativa dos males que a provincia soffreu o soffre; tendo-se predisposto os animos a não acceitarem bem as medidas que o governo adoptou, o que nos hão do ser presentes, offereço á camara uma pequena substituição, que desejo que se adopte, na qual exponho o reconhecimento que presto, como deputado da nação, á solicitude com que o governo procurou, por meio do obras e melhoramentos publicos, dar trabalho aos habitantes pobres da provincia do Algarve.

Quando se tratar mais tarde das circumstancias especiaes d'aquella provincia, direi ácerca de muitos outros assumptos as medidas especiaes que tem de propor-se á adopção do parlamento, por agora parece-me unicamente necessario enfiar com a corôa na utilidade do que se fez. Ao sentimento manifestado n'este documento cujo o illustre relator acaba de pedir a palavra, eu só peço que a camara ao mesmo tempo manifeste ao governo a sua approvação pelas medidas que adoptou, e diga ao mesmo tempo á corôa, que está certa, que essas medidas quando lhe forem presentes merecerão a sua approvação.

Limito aqui as minhas considerações, reservando-me para sustentar esta minha proposta no caso de me parecer ou julgar que a camara não faz justiça á boa fé e aos sentimentos que esta proposta manifesta na sua redacção, que é a seguinte:

«A camara lamenta que a provincia do Algarve tenha soffrido tão sensivelmente por falta de chuvas; mas compraz-se em saber que o governo de Vossa Magestade acudiu com providencias extraordinarias e está certa de que ellas hão de merecer a sua approvação».

O sr. Barros e Cunha: — Não podia querer, e a camara está certa de que fiz todas as diligencias para me desculpar perante ella da substituição que apresentava a um documento partindo de pessoas tão auctorisadas; mas eu que não podia de maneira nenhuma deixar de propôr que a maioria ou que a camara adoptasse uma substituição que exprimisse clara e terminantemente o que eu como individuo ou como membro da opposição, entendo justo para a provincia do Algarve.

Não foi desaire para a camara o que eu propuz.

Mas o meu muito antigo amigo o sr. relator da commissão expoz a justiça e a necessidade que havia de se adoptar a minha emenda,

Disse o illustre relator: a commissão está completamente de accordo com o sr. deputado Barros e Cunha, ou o sr. deputado Barros e Cunha está completamente de accordo com a commissão; a unica differença está em que nós, tendo plena confiança no governo, estando resolvidos a viver e a morrer com elle, entendemos que por decencia devemos guardar uma certa reserva, que é propria do nosso decoro e alem da qual o sr. deputado quer ir, porque quer comprometter antecipadamente a opinião da camara ácerca de medidas que ainda hão de ser submettidas ao nosso exame.

Ora, ahi é que eu peço ao meu honrado e illustre amigo que veja bem a minha proposta, porque, depois de elle a ver bem, estou certo de que, pela rectidão do seu animo, e pela justiça que sempre preside a todos os seus actos, ha de perceber que não reside similhante idéa n'essa proposta.

Eu lamento, como lamenta a commissão, as circumstancias que affligiram a provincia do Algarve, digo que a camara folga de ver que o governo tratou de lhes dar remedio, e digo que a camara está certa de que as propostas que o governo lhe apresentar ácerca das medidas que adoptou hão de merecer a sua adopção. Isto não compromette a camara em cousa alguma.

Sessão de 1 de fevereiro