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254 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Como v. exa. vê, estou produzindo os exemplos que a experiencia está dando para mostrar que não é necessario uma grande tonelagem, mas apenas uma tonelagem mediana; que não é necessaria uma grossa artilheria, mas uma artilheria de medio calibro para dispor do maior numero de bôcas de fogo que, jogando a banda, compense a differença a menos do calibre pelo maior numero de tiros. Portanto, a minha orientação em querer navios de 4:000 a 5:000 toneladas, de 23 milhas de marcha, baseia-se em factos.

Dir-se-ha: mas porque limitar a um navio de 4:000a 5:000 toneladas, a minha orientação? Porque não ha de elle ser maior? Porque o maior apenas me dava a faculdade de montar mais grossa artilheria, o que não é necessario, ou maior numero de bôcas de fogo e maior capacidade de carvão, que é de necessaria, como se verá; mas, para que hei de eu dispor de um só navio de 10:000 toneladas, por exemplo, com muitas bôcas de fogo, se eu posso distribuir a mesma força de artilheria em dois de 5:000 toneladas e com mais vantagens de combate?

Um navio de tonelagem superior a 5:000 toneladas o que poderá é ter um raio de acção maior. Raio de acção quer dizer que o navio faz um certo percurso sem carecer de renovar a provisão de carvão.

Ora, sem estar com divagações sobre a necessidade, de um paiz maritimo e colonial como o nosso, de ter navios, vamos ver em que podem ser empregados estes navios.

Independentemente da defeza da nossa costa, quer pela concentração de força, naval em dadas condições, quer no ataque que se faça ao inimigo, ha ainda a considerar a applicação dos navios em defeza dos interesses nacionaes em paizes estrangeiros, como por exemplo na America do sul.

Todos sabemos que a colonia portugueza no Brasil é numerosa, que ali surgem a cada momento conflictos; que a nossa colonia na Republica Argentina tambem é importante, e que se ali não tem surgido, podem surgir conflictos, que nos obriguem a ir proteger os interesses dos nossos compatriotas. (Apoiados.)

Como receberiam, o Brazil e a Republica Argentina os navios que ali mandassemos em defeza dos nossos compatriotas quando elles sabem pela capacidade do combustivel em que condições do utilisação elles estão?

Ou o estado de guerra rebentava e pela sua pequena capacidade de carvão que representa tambem o raio de acção a 10 milhas por exemplo, os nossos navios não podiam entrar em acção; ou não rebentava e em todo o caso, chegando lá com os paioes varridos, ficavam na difficil situação de metterem ou não o combustivel indispensavel, porque por prevenção podia o estado negar aos Bens commerciantes a faculdade de fazer tal fornecimento e os navios de guerra só navegam hoje a vapor.

Ora desde que a distancia entre Lisboa e o Rio da Prata, orça, numerou redondos, por 5:300 milhas e de S. Vicente por 3:800 aqui tem s. exa. a rasão porque eu desejo que o navio tenha nos seus paioes espaço para o carvão necessario para percorrer 10:000 milhas; é porque tendo consumido na ida o carvão necessario fica ainda abastecido com mais de metade de carvão para entrar em combate ou pelo menos para não ficar na dependencia forçada de um abastecimento immediato.

Eu não sei se esta demonstração cala no espirito dos meus collegas; é que dada uma certa distancia a percorrer é necessario que o navio tenha em si o carvão necessario para o dobro d'essa distancia, para não chegar exhausto tornando-se, portanto, a sua apresentação em paiz inimigo inutil e em pura perda.

É certo que no caminho entre Lisboa e o Rio da Prata, que eu figurei, ha a escala do carvão de S. Vicente, ainda colonia nossa, mas é claro que figurando este caso, e sendo elle concludente e o principal, estilo previstos todos os outros. A questão reduz-se a garantir para um navio a sua chegada a um ponto onde tenha de operar, com o maximo de carvão possivel, e desde que elle tenha abastecimento para 10:000 a 10 milhas de marcha por hora abrange todos os casos do conflicto quer este seja no sul da America, quer em Angola, quer em Moçambique, quer na India.

E já que me referi a S. Vicente de Cabo Verde, como escala de carvão, permitta-me v. exa. que eu renove a exposição das minhas aspirações sobre a fortificação d'aquelle porto e que com outro nos Açores e Lisboa faria um formidavel triangulo de apoio para as mais aventuradas emprezas maritimas com o limitado numero de cruzadores que eu proponho.

O sr. Matos falla tambem em Loanda, mas Loanda não tem ponto nenhum que se possa fortificar, porque uma das condições exigidas para que a fortificação seja proveitosa, é que o porto seja interior para não serem os navios bombardeados dentro d'elle.

Por identica rasão, não concordo com um porto militar em Lagos ou na Ponta do Altar pois seriam portos artificiaes em que quaesquer que fossem as fortificações com que os cobrissem estavam os navios dentro d'elle sujeitos á acção dos tiros lançados contra essas fortificações, em tal caso só Faro poderia prestar para esse fim por ficar o sen fundeadouro interior muito longe da costa.

Como protecção aos nossos grandes navios quando os tenhamos, pela sua velocidade, basta Lisboa, a defeza especial da costa, devendo fazer-se com as secções de torpedeiros em determinados pontos do litoral.

Em conclusão, carecemos de navios de 4:000 a 5:000 toneladas como já pedi em 1890, com uma velocidade de 20 a 23 milhas de marcha e 10:000 milhas de raio de acção, artilhados com peças de 15 centimetros e as competentes peças de tiro rapido, metralhadoras e torpedos, em resumo navios de uma certa efficiencia de artilheria, mas com a maxima velocidade e o maximo raio de acção é de que nós carecemos.

Não precisâmos de cruzadores de 11:000 a 15:000 toneladas, como tem a Inglaterra e a Russia, por isso que a orientação e o objectivo d'essas nações é differente do nosso. Limito-me aos cruzadores de grande velocidade com exclusão dos couraçados em attenção ao principio que a Inglaterra nos ensina, e citei em 1890 e no principio d'esta exposição que Lockroy consigna no seu relatorio e que o meu collega Matos no livro em que compendia varias opiniões de differentes auctores tambem defende, e é, que a guerra de futuro será menos em batalhas navaes e muito em acção singular dos navios de guerra sobre o commercio e sobre os portos do inimigo.

Ora com esta orientação, explicada e justificada por esta fórma comprehende v. exa. e a camara quanto me custa ver gastar os dinheiros do estado, que não póde dispor de grandes recursos em navios que não podem conter em si os elementos de acção precisos para este objectivo.

Um navio de 17 milhas de velocidade de experiencia, não é mau. Poderá dizer-se que os grandes couraçados de 14:000 toneladas têem na experiencia ao 18 milhas. Mas os grandes couraçados não são os cruzadores, são os substitutos das antigas naus de linha, para combaterem em grupo, tendo como auxiliares para sua defeza e caça de pequenos navios os cruzadores de grande velocidade, os grandes torpedeiros, e ainda os destroiers, que hoje vão até 30 milhas de marcha por hora. Portanto esta velocidade de 17 milhas em qualquer navio que tenhamos de adquirir, ou estejâmos construindo, não dá aos navios a condição de poder dar ou negar combate conforme convier, por isso que muitas vezes se determina que um navio sáia em acção de guerra, não para bater navio a navio de igual força mas unicamente para bater qualquer dos navios pequenos e dar caça ao commercio do inimigo, para fazer sentir aos cidadãos de uma nação poderosa os efeitos da guerra.