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256 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

chefes nas nossas estações navaes. Ora, só para isso não póde, porque um navio de 1:600 toneladas comporta menos pessoal do que um de 4:000 ou 5:000 toneladas.

Ha mais. O custeio de dois navios de 1:600 ou 1:800 toneladas é maior do que o de um de 4:000, como v. exa. vão ver immediatamente.

Os dois navios de 1:600 ou 1:800 toneladas, tem cada um, pelo menos, 1 commandante, capitão de fragata; 1 immediato, capitão tenente; isto é, 4 officiaes superiores e cada um a 4 officiaes de guarnição prefaz um effectivo de 12 officiaes.

O navio de 4:000 toneladas terá 1 capitão de mar e guerra, commandante, 1 capitão de fragata de immediato, ou seja 2 officiaes superiores contra 4 dos outros 2; muito embora no caso do cruzador de 4:000 toneladas um seja de patente mais elevada, os outros dos dois navios menores compensam a despeza, e suppondo que o cruzador maior tenha 6 officiaes de guarnição, o que é sufficiente, vê-se que ficam disponiveis 2 officiaes superiores e 2 subalternos. Então quanto a pessoal graduado de machina a differença será de meio por meio e tudo o mais n'esta proporção.

Em marinhagem se igualasse o effectivo dos outros dois, tanto melhor e ter-se-ía um navio-deposito, com pessoal para render a guarnição das lanchas-canhoneiras ao serviço colonial, e ao mesmo tempo esses navios depositos, com pessoal para exercicios parciaes e promptos assim para entrar em acção, para avançar nos mares para um golpe de mão, se fosse necessario. Portanto, nem sob o ponto de vista de navio-chefe do estação se justifica a existencia de navios d'esta especie, nem sob o ponto de vista da acção colonial, porque a acção colonial ou se faz á beiramar, e as simples canhoneiras de 300 a 400 toneladas são mais que sufficientes para isso, ou tem de fazer-se no interior dos rios, aonde essa canhoneiras não vão, e muito menos os navios maiores.

Portanto, estes navios pela sua grandeza nem são navios coloniaes, por serem grandes, nem navios de guerra por serem fracos e pequenos.

Creio ter exuberantemente demonstrado que, na orientação que deve haver sob o ponto de vista do material naval, deve ser ponto de parte tudo quanto sejam, estes pequenos navios, que podem fazer um certo effeito de parada, apenas para os desentendidos no assumpto; mas os que administram os estados, sabem o que podem contar com elles no caso de ameaça ou de cooperação da nossa parte em qualquer questão internacional;

Poderemos ter um grande numero de navios, mas de mero apparato e sem utilidade nacional.

Aqui tem v. exa., pois, porque eu lastimo que este dinheiro se empregasse assim e não occorresse as commissões technicas que aconselharam a applicação dos dinheiros disponiveis, ao menos, a construcção de torpedeiros.

Sr. previdente, uma das cousas indispensaveis para a defeza de todas as nações, de seus portos e costas, é o torpedeiro. Dizem os entendidos que são estes os elementos proprios i indispensaveis contra as esquadras do bloqueio; e com a construção d'esta especie tambem se educava o pessoal do arsenal da marinha na construcção metallica, fazendo-se então alguma cousa util para nós como elemento de combate; faziam-se 1, 2 ou 3 torpedeiros de 120 toneladas, com a velocidade que se exige, que serviriam como elemento de defeza do porto de Lisboa e poderiam ser empregados, a despeito da opinião em contrario, no serviço de policia da nossa costa, como em França se faz; a despeito de muitos o reprovarem, mas com a vantagem de educar o pessoal a andar n'estas machinas de guerra, que realmente é uma cousa pouco convidativa: mas precisam estas machinas de guerra de delicado manejo, de pessoal muitissimo habilitado.

A França e a Inglaterra, em muitas das suas manobras em que nos primeiros tempos começaram a entrar os torpedeiros conjunctamente com os grandes navios, tiveram muitos desastres; foram obrigados uns a recolher aos portos, porque o pessoal se via embaraçado dentro d'elles, por falta de habito e outros por não estar o pessoal adestrado. Uni apparelho delicado, como os dos torpedeiros, para que possa facilmente ser manejado, é necessario ter o pessoal trainé n'este serviço; foi para isso que eu o empreguei, quando ministro, mandando-o auxiliar a fiscalisação aduaneira, da pesca e da policia na costa do Algarve. Fui censurado por isso, mas então tambem devia ser censurado o governo francez, que fez o mesmo o fel-o naturalmente, para ter o pessoal mais habituado n'esse serviço e tirando d'ahi algum proveito.

O sr. Presidente: v. exa. já falla ha uma hora e falta-lhe um quarto de hora para concluir.

O Orador: - Como v. exa. vê, tenho feito uma simples dissertação, que vou tratar de concluir.

Já desenvolvi largamente em que estado se acha e a sua construcção naval em varios paizes, para justificar a minha apreciação sobre o navio de que trata o projecto, classificando a sua construcção como um desperdicio e bem assim qual deve ser a orientação que convem tomar.

Pela minha parte, visto sermos um paiz de poucos recursos, limitar-me-ía a termos cruzadores de 4:000 a 5:000 toneladas, de grande velocidade e grande raio de acção, deixando á audacia, á coragem, á boa vontade de officiaes e marinheiros, o completarem com o seu esforço aquillo que lhes faltasse em elementos e garantia de defeza, que era o revestimento couraçado.

Referi nos principios d'esta exposição que havia differentes orientações e planos de varios officiaes da armada que desejo analysar; mas, antes d'isso, pedia v. exa. que me dissesse quanto tempo tenho ainda para fallar.

O sr. Presidente: - Tem até ás cinco e meia.

O Orador: - Muito bem.

Em 188H uma commissão, de que era secretario o sr. Ferreira do Amaral, propunha uma esquadra de 95 navios com 3:000 contos de réis, sendo o maior de 3:000 toneladas e 17 milhos, mas era um transporte, e os outros de 2:400 toneladas e 12 milhas, e os mais d'ahi para baixo.

N'essa epocha já havia grandes aspirações de velocidade; e desde o momento em que podia haver 17 milhas para um transporte, podia havel-as para os outros elementos navaes.

Em 1889 o sr. Teixeira Guimarães, pretendia 43 navios com os mesmos 9:000 contos de réis, mas com a differença de que os navios teriam 3:500 toneladas e velocidades que ascendiam até 22 milhas. O mesmo senhor em 1894 propunha os navios, que custariam 10:000 e tantos contos de réis, o maior dos quaes seria de 5:600 toneladas, 20 milhas de velocidade e 7:000 milhas de raio de acção, typo Eclipse.

É certo que homens muito considerados, como o sr. Testa, que já falleceu, quando em 1890 eu julgava que começava a conseguir ver realisada a minha aspiração de adquirirmos navios de certa tonelagem e de um raio de acção consideravel, o sr. Testa escreveu um folheto, em que criticava esta aspiração, dizendo que não merecia a pena ir comprar "busca-pés do mar", e propunha que em vez dos 4:400 contos do réis, que se destinavam á acquisição dos quatro cruzadores n'aquellas condições, se comprassem 13 navios, dos quaes o maior tivesse 2:500 toneladas e de uma velocidade menos que mediana, porque se contentava com 12 milhas. Eu a isto respondi que preferia ter busca-pé a ter valverdes.

Ainda em 1894 o sr. Baldaque da Silva, hydrographo, propunha tambem a acquisição de 68 navios, o que é de mais; e em que os typos maiores eram de 2:400 e 3:800 toneladas, com regular velocidade.

Em 1894 desenvolvia eu em artigos publicados na Tarde a minha orientação e depois apresentava no parlamento em 29 de outubro d'esse anno o projecto em que eu pe-