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DIÁRIO DA CAMARÁ DOS SENHORES DEPUTADOS

o official não estava ensaiado carregou mais do que se queria sobre alguns cavalheiros.

Evidentemente não estava ensaiado e entrou mal, não aproveitando a deixa. Foi, por isso, posto de parte, e do mesmo modo a força que commandava.

Passa agora ao terceiro acto.

N'este não entrou a força de cavallaria, por indecente e má figura, pois .que ella tinha batido nos amigos do Sr. governador civil.

No terceiro dia em que elle, orador, e os seus amigos deviam sair de Faro, logo de manhã realizou-se uma reunião publica no Largo do Carmo, em que esses manifestantes e outros resolveram fazer-lhe â sua saída uma manifestação desagradável, devendo ser apupados e apedrejados. Pois apesar de ter toda a gente conhecimento d'este facto, a cavallaria ficou no quartel, porque o offi-ciai não se prestava á comedia baixa que o governador civil lhe queria fazer representar.

Pouco depois, tendo sabido elle, orador, que se ia fazer também uma manifestação favorável ao governador civil, em frente do edifício do governo civil,«tomou com os seus amigos a resolução de assistir a essa manifestação.

Effectivamente, ao meio dia foram para a praça onde é situado o governo civil e ali se mantiveram ato á l hora da tarde, sem nada presencearem, porque a tal manifestação não se realizou.

Constou-lhe depois que tinha ficado adiada para as três horas da tarde; mas como era essa a hora em que se devia realizar o banquete politico, com muito sentimento seu e dos seus amigos, não puderam assistir a essa manifestação. Concluído o banquete, encaminharam-se para a esta jão sob a ameaça de serem apedrejados, conforme fora resolvido na reunião do largo do Carmo.

Ha testemunhas promptas a declarar que n'essa occa-sião viram entrar em casa do Sr. governador civil o Sr. Bartholomeu Constantino, que tem com aquelle as melhores relações.

Elle, orador, e os seus amigos, não podendo ir a pé para a estação, porque a urgência do tempo não permit-tia, foram' em carruagens descobertas, a passo, cercados de muito povo que os acclamava. Então os manifestantes contrários tentaram, por vezes, approximar-se das carruagens, mas apenas eram empurrados immediatamente se afastavam, porque o seu papel não era senão de representação ; mas ao chegarem próximo tia estação do ca minho de ferro elle, orador, tevo a honra de ser mimo-seado com uma pedra que lhe veio cair em cima do casaco, não o contundindo, porque, emfim, não se tratava senão de uma partida indispensável n'aquella farça.

Não lhe atiraram a pedra; quasi a collocaram sobre o casaco, como se fora um bouquet de flores. Era uma pé dra á altura do grito:—Abaixo o Sr. Conselheiro João Franco!

Os seus amigos, em grande quantidade} entraram na estação, tendo occupado uma grande parte d'ella;'e como os contra-manifestantes queriam por força também entrar ali, e para isso não tinham espaço, porque quasi todo estava occupado por aquelles que acclamavam o Sr. Conselheiro João Franco e os seus companheiros, succedeu então um caso muito curioso.

Foi a policia quem se encarregou de abrir caminho a um pequeno grupo de contra-manifestantes e de prote gel-os para entrarem!

Parece-lhe que nada pôde haver de mais indigno e de mais vil, com a circurastancia aggravantc da inconveniência e da inconsciência com que se protegem desordeiros que pregam a revolução social n'um meio onde abundam operários, trabalhadores e pescadores!

É contra isto que elle, orador, protesta. K quer crer que o Sr. Ministro do Reino não dará o seu apoio a semelhante procedimento.

Concluo, esperando que S. Ex.a tomará na devida con-

sideração o que acaba de referir á Camará e que procederá de maneira a não continuar a ter n'aquella cidade a representação que actualmente ali tem.
(O discurso será. publicado na integra quando o orador restituir as notas tachyraphicas).
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Presidente do Conselho, mas previno V. Ex." que de faltam apenas cinco minutos para se entrar na ordem do dia.
O Sr. Presidente do Conselho de Ministros (Hintze Ribeiro): — Creio que a Camará me dará mais alguns minutos, se eu carecer, para responder ao illustro Deputado.
(Consultada a Camará resolveu afirmativamente).
O Orador: — O illustre Deputado que acompanhou o Sr. Conselheiro João Franco no norte e no sul do paiz,. em differentes cidades e localidades, limitou os seus reparos e as suas accusaçoes, ao que se passou na cidade de Faro. S. Ex.a referiu factos e accusou a auctoridade superior do districto; accusou-a de ter procedido por forma a que em Faro se fizesse uma comedia, uma farça.
E justo que eu dê quacsquer explicações sobre o que se passou, e exponha como os factos elfectivamcnte occor-reram n'aquella cidade.
Não é só urn dever meu como Ministro do Reino dar as instrucções precisas para que a todos seja assegurado o respeito que lhe é devido; é dever meu também defender as minhas auctoridades, quando entendo que ellas sào injustamente accusadas.
Considero o Sr. governador civil de Faro como uni perfeito homem de bem, com larga vida honesta, independente e seria. (Apoiados),
Ainda o Sr. Conselheiro João Franco não tinha ido á cidade de Faro e já eu havia recebido um telegramma do Sr. governador civil d'aquelle districto, informando-me de que o Sr. Dr. Virgílio-Inglez, em requerimento, solicitara permissão para fazer nas ruas da cidade de Faro, manifestações festivas com foguetes, musica e tudo mais.
O Sr. governador civil ponderava-me que a taes manifestações, assim ruidosas, feitas nas próprias ruas da cidade, se podiam contrapor outras manifestações, surgindo ao embate de umas o de outras conflictos ou perturbações de ordem publica. Estas ponderações eram bem cabidas. Todo o chefe de districto deve fazel-as ao Ministro do Reino. Podia eu entender, no intuito de evitar conflictos ou perturbações de ordem publica, que melhor seria não deixar que nas ruas houvesse manifestações ruidosas com musica e foguetes, que pudessem parecer provocação aos que tivessem opinião contraria aos manifestantes; poderia entender que sem deixar inteira liberdade aos que desejavam acclamar o Sr. João Franco, só se deveria per-mittir em recinto fechado, n'um banquete, n'um theatro, n'uma conferencia que o acclamassem conforme entendessem, mas que nas ruas não, por serem ahi perigosas para a ordem publica as manifestações. Poderia ter dito isto ao Sr. governador civil para que as não permittisse.