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SESSÃO DE 20 DE FEVEREIRO DE 1885 453

legiado é igual aos outros! E no entretanto perante os deveres da disciplina esse official não pude ter uma posição áparte!

Quem semeia, então a desordem no exercito?

Não serão, porventura, aquelles que de um modo tão flagrante vem mostrar, que ha uma justiça para os filhos do povo, o outra para os que, embora estejam ligados aos mesmos compromissos, por haverem jurado as mesmas bandeiras, tiveram a fortuna de dever ao acaso do nascimento uma hierarchia, nobiliarchica mais alevantada?!

O tempo escaceia-me, sr. presidente, e eu vou muito rapidamente resumir os pontos em que tenho ainda de tocar e que não vem mencionados no discurso da corôa.

É omittido n'este documento um facto que se deu em Lisboa no dia 24 de agosto do anno passado; facto importante, não só pelo que significa quanto á deliberarão propriamente governamental a tal respeito, mas ainda pelo que elle representa, quanto às consequências que teve e às que podia ter tido, se não fosse o patriotismo e o bom senso do povo lisbonense.

Alludo, sr. presidente, á celebração do anniversario da revolução do 24 de agosto do 1820, promovida por uma associação do Lisboa e á qual adheriu um grande numero de associações democraticas da capital.

Tem-se alcunhado o partido republicano de desordeiro; tem-se-lhe attribuido o proposito de procurar eliminar todas as tradições gloriosas do nosso passado nacional; e tem-se dito que elle apenas vive pelo descredito e desprestigio dos seus adversarios.

Pois bem, sr. presidente, n'aquella, occasião o partido republicano vinha levantar como lemma do uma consagração liberal e patriotica, não o nome de um homem nascido nos seus clubs, não o nome de um individuo a quem mais ou menos devesse gratidão a actual geração republicana, mas o nome de um dos grandes apóstolos do constitucionalismo portuguez, o nome de um dos grandes vultos da historia patria, que até á sua derradeira hora se não apartou da política monarchica, morrendo á sombra da bandeira da realeza!

N'essa fé fez o seu baptismo politico, por essa fé combateu, e n'essa fé exhalou o derradeiro alento!

Mas, embora monarchico, o partido republicano saudava n'elle o Nestor da liberdade portugueza.

Nós, prestando homenagem sincera á pureza de intenções d'esse homem, á inquebrantavel energia da sua honrada convicção, quizemos celebrar o dia 24 de agosto, indo depor uma singela, corôa de perpetuas no tumulo de Fernandes Thomás que foi o primeiro paladino que n'este paiz soube levantar a bandeira do governo representativo, em virtude de cujo triumpho podemos estar hoje aqui reunidos.

Mas o sr. ministro do reino não consentiu o cortejo civico.

O sr. ministro do reino, o eloquente orador que, embora monarchico, dizia ter idéas democraticas, o antigo estadista que muitas vezes, nas suas meias palavras sybillinas nas suas cautelosas reticencias, e até no seu silencio habilmente calculado, deixava entrever que, se não podia ser o Zorrilla d'este paiz, tinha talvez boas tendencias para ser o seu Cairoli; o sr. ministro do reino, de quem nós esperavamos que continuasse, se não por convicção, ao menos por uma certa inercia politica, permitta-se-me a phrase, a dar provas de uma larga tolerancia; o sr. ministro do reino, o servidor do constitucionalismo portuguez, prohibiu de uma maneira violenta e illegal, na parte principalissima, a manifestação que a associação Fernandes Thomás desejava fazer em homenagem ao cidadão cujo nome se celkebrava no dia que devia ser de festa para todos os liberaes portuguezes!

Contra o que se esperava, repito, o sr. ministro do reino prohibiu o cortejo civico em Lisboa!

Mas mais ainda. Não sei sã por ordem de s. exa., mas com certeza com o seu consentimento, porque não castigou, como mereciam, as delvagerias que n'esse dia em Lisboa se praticaram, a policia da capital abateu o prestigio da auctoridade, envergonhando-nos perante as nações estrangeiras, porque actos d'aquella ordem sómente em Marrocos ou em Tunes se podem tolerar e nunca n'uma nação que, como a nossa, se preza de pertencer á Europa culta!

Oh! sr. presidente, que ridiculos terrores, que criminosas imposições ou que suggestões illegaes imperaram no espirito, de ordinario tão lucido, do sr. ministro do reino a ponto do o levarem a deshonrar assim o seu passado politico?

O povo de Lisboa não é capaz em conjunctura alguma, porque já assim o tem demonstrado em occasiões bem solemnes, de macular o seu nome, com tentativas do desordem ou de perturbação da paz publica.

Quem diz o contrario calumnia-o, ou procura apenas vingar-se de miseraveis despeitos.

Demais a prohibição do sr. ministro do reino e o insulto que ella importa para o grande e generoso povo de Lisboa tem-se repetido mais vezes.

O facto occorrido no dia 24 do agosto não é unico. Esses terrores ridiculos a que ha pouco alludi, essas criminosas imposições, essas pressões illegaes que pesam sobre o sr. do reino, e em geral sobre todo o ministerio, e
Perfeitamente analoga era consentida!
Terá adivinhado do certo a camara que mo estou referindo ao facto de ser prohibido o bando precatorio, organisado pela imprensa, de sair pelas das da capital a implorar a caridade d'este bom povo em favor das victimas dos terremotos em Hespanha; a implorar a caridade d'este bom povo que nunca soube negar o seu obolo aos que lho fallaram a linguagem da philantropia, correndo pressuroso a dar o seu contingente a todas as abnegações o a prestar uma sincera homenagem a tudo quanto é grande, nobre e generoso!

Por que motivo prohibiu o sr. ministro do reino que saísse o bando precatorio pelas das da capital? Por que motivo prohibiu o sr. ministro do reino este tocante acto do solidariedade internacional aos jornalistas, á imprensa de
Lisboa? Por que motivo prohibiu o sr. ministro do reino o bando precatorio da imprensa, estando no mesmo proposito reunidos todos os grupos politicos, o que garantia ao governo que jamais os seus promotores se prestariam a fazer ou deixar praticar bqualquer acto que fosse contrario á nobreza.

Porventura a caridade em Portugal é monopolio de uma princeza? Pois o povo não está sempre prompto a prestar homenagem aos sentimentos caridosos de quem quer que seja ou elles partam do alto do solio, ou da humilde choupana do desvalido? Por que motivo é, pois, que os que estão nas eminências da nossa, sociedade, não hão de respei-