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SESSÃO N.º 32 DE 17 DE MAIO DE 1893 11

devia dar o exemplo de moralidade e de respeito á lei e ao decoro, é justamente quem a desrespeita com os seus exemplos perniciosos e inconvenientes.

O sr. Presidente: - Peço ao illustre deputado que não se dirija a quem não tem voz n'esta casa.

O Orador: -Sr. presidente, eu respeito muitissimo a v. exa. e, se porventura no calor da discussão proferi algumas palavras menos proprias do decoro d'esta casa do parlamento, estou pronto a retirai-as immediatamente.

mfim, eu não sei como possa descrever o estado como se encontra muitas vezes aquella auctoridade. Os jornaes da localidade até em verso têem contado o estado de alcoolisação em que se encontra muitas vezes o administrador.

Declaro que não desejo melindrai- nem offender o governo, que nenhuma culpa tem dos actos praticados pelo administrador de Obidos.

Propositadamente reservei-me para expor perante o paiz inteiro, as prepotencias de que têem sido victimas ós habitantes do concelho de Obidos.

Aquella auctoridade foi fazer uma syndicancia aos factos que acabo de narrar, sabem a que horas? Ás nove horas da noite!

Começou essa syndicancia por mandar apalpar as testemunhas, como se faz aos criminosos, as que eram meus amigos, entende-se.

Os interrogatorios eram feitos em publico na presença do accusado e dos seus amigos n'uma casa do rez-do-chão, com a porta da rua aberta para quem quizesse presenciar e ouvir.

O accusado de vez em quando permittia-se interromper o depoimento de qualquer testemunha!

O administrador quando entendeu que estava cansado chamou um individuo qualquer e mandou, que este continuasse o interrogatorio, emquanto elle foi beber mais vinho. De maneira que foi um individuo que o administrador investiu nas suas funcções para continuar os interrogatorios. Uma verdadeira orgia!

Foram estes os inicios da guerra mais cruel, que se travou no meu circulo durante o largo periodo que durou a lucta eleitoral.

As prepotencias, que esta auctoridade praticou, foram do tal ordem que obrigaram o sr. ministro do reino Dias Ferreira a licencial-o durante os dias da eleição de deputados, mas antes de largar a administração, que foi na vespera do dia da eleição, deixou tudo prevenido e preparado de modo que, a sua ausencia falta nenhuma fizesse aos seus amigos.

Não me refiro agora ás proezas que fez, para poder influir nos actos da eleição, simplesmente digo, que os meus amigos politicos soffreram toda a sorte de vexames e perseguições.

Como a eleição da camara devia ser d'ali a poucos dias, elle taes cousas fez, que conseguiu, que o sr. ministro do reino o deixasse ir assumir as suas funcções antes d'essa eleição.

O sr. Dias Ferreira caiu como um passarinho na esparrella que lhe armaram, e depressa foi bem comido por um passarão. E que passarão!

Correu a eleição municipal como corrêra a de deputados.

O administrador começou por prender á entrada da assembléa do apuramento um portador de actas, sob o pretexto de que tinha commettido um crime, pelo qual estava afiançado, e teve-o na cadeia como qualquer criminoso. O seu fim era, que os seus amigos tivessem maioria na assembléa de apuramento.

Depois, sr. presidente, não deixou fazer o apuramento, querendo tirar de sobre a mesa da assembléa as actas e mais papeis das assembléas primarias, para ir com a sua gente fazer o apuramento como muito bem quizesse. A isto oppoz-se o presidente da assembléa, que requisitou a presença da força, e foi o capitão que a commandava que obstou com a sua auctoridade ao roubo dos documentos. O administrador tornou incommunicaveis os membros da assembléa de apuramento, de modo que ninguem se podia approximar do edificio onde ella funccionava.
Estando a assembléa coacta entregou todos os papeis á guarda do commandante da força, e pelo, telegrapho pediu providencias ao sr. ministro do reino que as não deu.

Eu tenho pena de que não esteja ainda no poder o sr. Dias Ferreira, porque estas contas não deixariam de ser ajustadas.

Até hoje ainda aquelle apuramento se não fez, estando o processo affecto ao supremo tribunal administrativo.

Acabada a eleição, eu retirei-me para Lisboa, e d'ahi por diante não se calculam as arbitrariedades de que têem sido victimas os meus amigos.

Para que se veja de que natureza é aquella auctoridade, basta dizer que se vangloria de que não é monarchico, nem republicano, nem mesmo socialista, se é alguma cousa, diz elle, é anarchista! Ouvi-o eu e muitas outras pessoas, e isto mesmo eu communiquei ao sr. Dias Ferreira, e s. exa. deu-me tanta importancia como daria a qualquer negro das roças de S. Thomé.

Os clubs d'esta excellente auctoridade são as tabernas e as casas de batota, que elle frequenta para se emparceirar com os jogadores, vestindo-se de jaqueta, barrete e cinta, armado de varapau e revolver, e acompanhado dos arruaceiros de profissão.

O sr. Presidente: - Eu peço de novo ao sr. deputado que se abstenha de dirigir-se a pessoas que não têem representação n'esta casa.

O Orador: - Eu retiro qualquer expressão que porventura pareça inconveniente, mas eu, sr. presidente, não digo nem metade do que necessitava e devia dizer. Não me refiro aos actos particulares d'aquella auctoridade, refiro-me aos seus actos officiaes e publicos.

Desejo ser o mais cordato e suave possivel, mas s. exa. comprehende e a camara que, tendo sido victima das violencias ,e prepotencias praticadas pelo administrador do concelho de Obidos, não posso ser muito milifluo, nem deixar de defender os meus amigos, e a mim proprio que tantas vezes fui pessoalmente insultado por aquella auctoridade, que muitas vezes tambem sem o mais simples motivo, ameaçava de me prender, de me revistar e não sei quantas cousas mais. A minha prudencia attingiu todos os limites, porque a taes provocações limitava-me a sorrir.

Mais de uma vez disse e fiz constar, por amigos meus, estes actos praticados por aquella auctoridade e pedi que a retirassem de Obidos, emquanto não se abrisse a camara, porque então eu tinha o dever imperioso de desaffrontar os meus amigos. Mas continuemos.

D'ahi a dias o sr. administrador foi fazer uma syndicancia a junta de parochia do Bombarral, e primeiro que tudo dirigiu-se a casa do presidente da corporação que ia syndicar e pediu-lhe que lhe désse vinho para elle e para os policias que o acompanhavam! Não admira, são os seus refrescos. (Riso.) E elle ia cheio de calor! Depois foi para casa de Antonio Simão da Silva, pediu-lhe vinho que elle bebeu e ainda por cima se divertiu a troçar o homem e a mulher d'este. Da syndicancia da junta onde se provaram actos irregulares nunca mais se fallou, prejudicando assim o estado e os interesses de terceiros, não obstante affirmar que protestava pela inteira inobservancia do artigo 370.° do codigo administrativo, seus numeros e paragraphos, como consta da acta das sessões da junta de parochia do Bombarral, de 10 de setembro, de 1892. Emfim, os destemperos têem-se succedido de toda a ordem e natureza, assassinatos tem sido praticados e têem ficado completamente impunes, como um que se deu na povoação do Barrocalvo, que andou a familia do assassinado de Herodes para Pilatos sem haver uma auctoridade que desse providencias, e ainda até hoje não se procedeu contra os assassinos conhecidos de toda a gente, pois ainda andam