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6 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

muito em prestar homenagem a S. Exa. pelo modo como dirige esses servias.

É uma cousa que agora se aprecia muito, ser-se bem tratado.

Eu nunca fui preso, nem tive nunca questão alguma com os conductores e com os guarda-freios dos electricos, que no genero malcriado é o que ha de melhor. (Hilaridade).

É porque o espirito natural dos portugueses é ser mal criado. A primeira cousa que pé faz para se mostrar independencia é ser malcriado. Por isso digo que a corporação dos correios e telegraphos - dos faroes não falo, porque não embarco (Riso) - é muitissimo bem criada e trata toda a gente muito bem.

Eu vejo que entra um homem malcriado numa estação do telegrapho e diz: "Faça isto!" Bem sei que cada um tem o seu feitio, mas ahi é que se aprecia o bem-criado, e ainda se mostra a boa criação, que é ter-se a força precisa para não recalcitrar com uma má criação.

Mas eu vou fazer uma pequena comparação entre um aspirante auxiliar dos telegraphos e um empregado burocratico. O aspirante auxiliar ganha 200$000 réis, sujeitos a descontos, e o continuo ganha 250$000 réis. Por consequencia os continuos ganham mais do que os aspirantes auxiliares! E para se poder ser aspirante auxiliar tem-se muito trabalho, tanto ou mais estudo do que para ser bacharel formado.

Uma voz: - Á moda de V. Exa.

O Orador: - Está V. Exa. enganado. Eu sou dos melhores. Eu tive a fortuna de não me formar. Se me tenho formado, ainda vinha mais embrutecido do que estou! (Riso).

V. Exa. tocou na minha parte sensivel, que é a minha carreira literaria. Mas para lá vamos.

Dizia eu qne o continuo tem 250$000 réis. V. Exa. quer passar um telegramma, vae a uma estação telegraphica e tratam no muito bem. Agora V. Exa. vae a uma secretaria e dirige-se a um continuo, que não conhece V. Exa., nem sabe que é Deputado, nem politico. Chega ao pé do continuo, que está repimpado na sua cadeira:

- Que quer? diz elle.

- Desejo falar ao Sr. Ministro.

- Não sei se S. Exa. recebe ou não: Vou ver se recebe.

Outras vezes diz-se:

- Quero falar com o Sr. Fulano.

- Não é a mim. Vá ao meu collega que está lá em baixo. (Riso).

Mas se o continuo sabe que o sujeito que vae á secretaria é Deputado, então dirige-se a elle com todas as attenções:

- Então como está V. Exa.? ... (Riso).

Estes é que são os malcriados; tratam bem por medo!... Não é por mais nada.

Ora eu não serei mal educado. Tenho a convicção de que sou bem criado. (Apoiados). Tenho trinta e tantos cria dos e não trato nenhum por tu. Tenho criados de meu pae e trato os por vocemecê e senhor. Entendo que devo ter esta attenção. (Apoiados.- Vozes:- Muito bem).

Feitas estas considerações, peço ao Sr. Ministro das Obras Publicas que trate de remodelar este serviço dos correios e telegraphos, tendo em attenção a sorte d'estes pobres homens.

Mas, antes de terminar, tenho de me referir a um áparte do Sr. Martins de Carvalho e falar na parte literaria. E referindo-me a pila, digo a S. Exa. que eu sou contra a Universidade. Devo dizer que, de ha dez annos para cá, não; sei o que lá se passa, felizmente, mas, segundo me dizem, é como era dantes. Segundo a minha forma de ver, não serve para nada. E vou dizer porque.

Esta questão da Universidade divido-a eu em duas partes: a primeira, é o que é a Universidade e o que deverá ser para o futuro; a segunda, os acontecimentos que se deram, porque, em minha opinião, eu concordo com o Governo na forma como pretende resolver esta questão.

Quando eu era rapaz, um cabula, estive sempre ao lado dos rapazes, fui companheiro de Antonio José de Almeida de quem estive sempre ao lado nos grandes movimentos, fui victima das greves e apesar de ser cabula, fui victima de todos, mas devo dizer que nesta questão de rapazes ha uma cousa que me faz a maior confusão, e que se eu fosse estudante não me sentia bem commigo mesmo, se procedesse como elles procederam.

Eu comprehendo que se faça greve por isto, por aquillo, por aquell'outro, mas fazer greve contra uma confraria, porque eu chamo á Universidade uma confraria, por ter sido reprovado um que queria entrar para a mesma confraria, não posso perceber; por causa de um que queria ser lente, isso é que nunca.

Eu que sou tudo quanto ha de mais rapaz, nesta questão, não posso estar de acordo com elles. Mas eu digo a V. Exa., Sr. Martins de Carvalho...

O Sr. Martins de Carvalho: - Ao Sr. Festas.

O Orador: - Primeiro a V. Exa. V. Exa. disse me .quando eu estava falando na questão dos aspirantes do correio e affirmava que em Coimbra não se aprendia nada: - Isso é para si.

O Sr. Martins de Carvalho: - Eu não disse nada.

O Orador: - Ouvi um que disse que eu fui um grande cabula.

Eu vou fazer uma pergunta a V. Exas. e digo com a maior franqueza a todos os bachareis formados aqui presentes que me respondam com toda a sinceridade.

Digam-me, o que V. Exas. aprenderam em Coimbra serve lhes para alguma cousa?

Essa é que é a minha questão; não só não serve, como é prejudicial e vou dizer porque. É porque um pobre pae, que tem poucos recursos, dá ao filho uma educação de bacharel imaginando que essa educação e essa carta lhe podem servir para alguma cousa; é claro que, depois de ser bacharel, o individuo fica numa posição que não se pode sujeitar a outra cousa a que se sujeitaria, se tivesse o modo de vida de seu pae. O menino com a carta de bacharel é que não serve para nada, ficou desgraçado porque gastou o dinheiro á sua familia...

Esta questão de direito está comparada á questão vinicola, ha um stock de bacharéis, como ha um stock de aguardente. Para evitar este stock é apertar os estudos de tal maneira que haja muito menos bacharéis e que cada um d'elles tenha já o seu logar.

O curso de bacharel formado em direito nem para aspirante dos correios serve. Estou convencido que ha bachareis formados em direito que, se não fosse a vaidade de serem bachareis, acceitariam logares que, sem essa carta, lhes garantiriam decentemente meios de vida.

Mas porque é que não se sujeitam a esses logares? Porque teem a maldita carta de Coimbra, que diz que elle é um grande homem e afinal essa carta não lhe serve para cousa alguma.

É por isso que eu sou contra o systema de Coimbra.

No meu tempo, para se ser estudante de Coimbra e para se ser formado em direito, era preciso só estudar? Não, porque a maior parte dos que se formaram aprenderam tanto como eu.

Alguns alumnos da Universidade arranjavam empenhes de um fulano que servia de empenho para os lentes da