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primento, que eu não suppunha ter-lhe merecido até agora, isto é, que se levantaria para defender o projecto, quando elle fosse combatido] Ora, eu retribuo com a mesma delicadeza, e digo que o projecto ainda não foi defendido; o illustre deputado não respondeu ás observações, que se fizeram... (0 sr. Santos Monteiro: — Já respondeu o sr. ministro da fazenda) se já respondeu, n'esse caso foi o projecto combatido. (Apoiados.)

Sr. presidente, ponho de parte estes esquecimentos, esta falta de conveniencia na discussão, que eu entendo se deve guardar, assim como a consideração e attenção que devemos uns aos outros. (Apoiados.)

Eu não empreguei termo algum que podesse offender o melindre do illustre ministro da fazenda; a palavra favoritismo não inculca, como s. ex.ª julgou, uma injuria ao seu caracter; empreguei-a para significar, que pela apresentação d'este projecto eram pospostos projectos de interesse geral, deixados sobre a mesa a dormir, para se attender a uma cousa de interesse particular. (Apoiados.) Debaixo d'este ponto de vista é que empreguei a palavra favoritismo. Muito mais disse o meu illustre amigo, o sr. Cunha, e s. ex.ª não se julgou offendido. O meu illustre amigo disse: » O projecto que se discute, achou um padrinho, que outros não tiveram, por exemplo, as medidas propostas para a ilha da Madeira ainda não vieram; e eis-aqui a rasão porque o illustre ministro pugna por elle. »Eu não disse tanto. Usei da palavra favoritismo, mas não irroguei ao illustre ministro nenhuma especie de injuria; não gosto de irrogar injurias; não ha injuria na palavra, não póde have-la. (Apoiados.)

Sr. presidente, o illustre ministro suppoz que o argumento, per mim produzido contra a adopção do projecto, importava uma censura feita ao systema protector; parece-me que s. ex.ª n'esta parte do seu discurso esteve a combater-se a si proprio; porque se a industria se protege desviando, com a imposição de direitos sobre objectos vindos de paizes estrangeiros, a importação d'esses mesmos objectos, menos rasão tem o illustre ministro de trazer um projecto á camara para a sua introducção livre, de sorte que o argumento apresentado pelo illustre ministro, longe de ser contra o argumento que eu produzi, e inteiramente a favor d'elle. (Apoiados.)

Sr. presidente, eu entendo que o projecto, posto que no seu pensamento seja digno de sympathias, as tenha minhas, e as deva merecer em geral, abre todavia um precedente, que póde ser invocado n'outras occasiões em casos analogos; (Apoiados.) e que então não será possivel ao illustre ministro, apezar do seu pensamento de benevolencia e de protecção para cem todos os estabelecimentos dignos da attenção publica, tirar resultado igual a este. Se o illustre ministro promette, e a camara póde votar iguaes favores em todos os casos analogos, cessam em grande parte os meus receios; e eu, note V. ex.ª, não duvido nem da vontade do governo, nem da maioria; mas o que digo, é, que a repetição d'estes casos póde ser frequente, e a applicação do remedio não o póde ser. (Apoiados.) É debaixo d'este ponto de vista que combati o projecto. Escusa o illustre deputado de recorrer ao sentimentalismo para o defender, porque eu uno o meu coração e o meu sentimento ao sentimento do illustre deputado.

Agora o que ha mais singular, sr. presidente, é que o illustre deputado, relator da commissão, entendesse que eu, e o meu illustre amigo o sr. Cunha Sotto-Maior, notando a transposição que houve das materias dadas para discussão da camara, estavamos por esse mesmo facto inhibidos de discutir o projecto; que perdíamos o tempo; que estavamos perdendo o tempo! Tem rasão o illustre deputado, quando diz que nós perdemos o tempo; o illustre deputado sabe, que o projecto ha de ser approvado, não pela natureza das suas disposições, mas pela origem d'onde parte; (Apoiados.) tem toda a rasão para suppor, que nós perdemos o tempo; á illustre deputado diz: «Pois se isto ha de ser approvado, para que veem discutir?» Tem rasão; eu não sabia que, quando notava esta transposição de materias dadas para a discussão e resolução da camara, estava por esse mesmo facto inhibido de tomar parte na discussão d'esse projecto: fico sabendo mais isto, para me não tornar a enganar: e uma cousa que me não póde passar da memoria.

Sr. presidente, a maior censura q.ie se póde fazer á proposta originaria não a fiz eu, foi o nobre deputado que acabou de fallar. O illustre deputado disse=que o projecto em discussão não devia causar receios, e que se estivesse em discussão a proposta do governo, isso sim, que dava logar a grandes apprehensões. = A proposta estava organisada de modo, que dava logar a gravissimas apprehensões! Veja o illustre ministro como as suas propostas são consideradas pelos seus amigos da maioria: (Apoiados.) eu não disse tanto.

Já vê, pois, o illustre relator da commissão, que, pelo menos, exprimi a minha opinião tal como a tenho, e como é minha obrigação; hei de sempre exprimi-la com a independencia propria do meu caracter, (Apoiados.) e com taes ou quaes conhecimentos que Deus me deu, ou que eu adquiri com o meu trabalho. (Muitos apoiados.)

(O sr. deputado não reviu este discurso.)

O sr. Silvestre Ribeiro: — Sr. presidente, sinto muito não estar de accôrdo com o meu illustre e talentoso visinho o sr. Corrêa Caldeira; mas, usando da mesma liberdade, com que o nobre deputado emitte o seu modo de ver as cousas, não hesito em apresentar a minha opinião, tal qual a tenho.

Sr. presidente, muita rasão teve o illustre deputado o sr. Corrêa Caldeira em suppor que outros projectos muito mais interessantes havia para discutir, como, por exemplo, o projecto da moeda, o dos morgadas, e o projecto a respeito dos campos do Mondego. Mas a questão não e esta: eu vejo que se apresenta para a discussão este projecto, e por conseguinte acceito o facto, e discuto o que sou obrigado a discutir. É bom que a camara se occupasse de objectos mais interessantes, mas visto que não se trata agora d'elles, discutamos este que ora se nos apresenta.

Sr. presidente, eu approvo este prejecto, e compraz-me muito faze-lo, sem embargo de estar n'este logar; e direi mais, se, por uma proposição absurda, eu fosse governo, faria o mesmo que a actual administração fez n'este caso. (Apoiados.)

Apresentarei agora, em muito resumido quadro, as considerações que me levaram a esta approvação. Para eu chegar a approvar este projecto, propuz a mim proprio uma serie de considerações, uma serie de perguntas, e a mim proprio dei as respostas que me pareceram naturaes, e por ellas vim no conhecimento de que devia approvar o projecto ele que actualmente nos occupâmos.

Perguntei: « Não seria acaso mais conveniente que aos fabricantes Collares o governo fornecesse um soccorro pecuniario, equivalente á importancia dos direitos que por este projecto lhes pretendemos perdoar? «Disse para mim: «Não, porque um soccorro pecuniario não e.a Ião decoroso para os ditos fabricantes, não ficaria bem ao melindre de uma familia, que em tão vasta escala se t:m consagrado á industria, e por outro lado, é mais seguro para o estado conceder-se aos ditos fabricantes a dispensa elo pagamento de direitos, no acto em que importarem a,; machinas, por isso que se vê desde logo Utilisado o subsidio do thesouro em beneficio da Industria. » (Apoiados.) E n'esta parte não posso deixar de dar muitos louvores á illustre commissão de fazenda, por ter acautelado, mui avisadamente, certos inconvenientes, que porventura poderiam occorrer, pois que a proposta do governo deixava um vacuo, que havia de dar logar a duvidas e a inconvenientes.

Mas não foi só esta pergunta que fiz a mim proprio. Eu perguntei tambem: «Será perigoso estabelecer um tal precedente?...» E n'esta parte não posse concordar com as observações feitas pelo meu talentoso visinho o sr. Corrêa Caldeira. S. ex.ª achou perigoso, que se estabelecesse um precedente d'esta ordem, e eu entendo que não ha perigo algum em o estabelecermos: entendo que devemos conceder hoje este auxilio, por isso que um desastre deplo-