O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

—108—

tendo-o tratado quando o parlamento estava pleno, que todas as suas capacidades podiam ser ouvidas, e não quando esta com uma maioria limitada, porque nós lemos falla talvez de trinta ou quarenta deputados.

Sr. presidente, ha um ponto grave; nós sabemos tudo; já as explicações estão dadas completamente: sabemos que se fez um contraio com Petto para dar a execução possivel a um outro contrato, quer dizer, que se fez um contrato novo, uma proposta á ultima hora; mas suppomos que esta proposta não ha de ter execução, estamos mais socegados.

Sr. presidente, o sr. ministro das obras publicas, cuja voz era tão fertil e activa como a de muitos dos seus collegas, imaginou que havia uma grande opposição, que estremecia tudo, porque se lhe perguntou se era verdade ler-se permittido a certos engenheiros irem estudar os terrenos por onde deve passar o caminho de ferro! Quem é que censurou a s. ex.ª por similhante concessão? S. ex.ª não lhe falta talento para, nas causas desesperadas e perdidas, como aquella em que se acha, voltar ao lado gracioso do debate."

Sr. presidente, os engenheiros tiveram tanto entrada como a tiveram outros engenheiros, e a minha opinião seria que todos os engenheiros, que quizessem fazer esses estudos, tivessem a mais ampla permissão; e se a ordem fosse dada pelo sr. ministro ou seu immediato, é a mesma cousa. Não sei se tem havido mais algum acto que signifique propriamente o começo dos trabalhos preparatorios com um caracter lai, que sem intenção decisiva e de voto do parlamento possa conceder a esta companhia certos e determinados materiaes, e pedia a s. ex.ª que houvesse de remetter a esta camara todos os documentos officiaes passados desde a chegada de Petto pelo ultima vez a Lisboa até hoje, tendente a facilitar a execução da sua proposta.

Sr. presidente, o illustre deputado imaginou, ou fingiu imaginar, que eu tinha dado por certo um accordo a respeito da proposta entre o sr. ministro e o sr. Affonso de Castro. Eu, sr. presidente, não posso acreditar que o illustre deputado tivesse alguma idéa sobre este ponto: não disse que a questão tinha sido preparada entre a opposição e o sr. ministro; o que disse foi = que a celeuma linha sido preparada»: a questão era a celeuma, porque aquelles a quem não se podia ha dias arrancar uma palavra sobre este objecto, estavam promptos hoje para dar todas as explicações. O governo hesitou por muito tempo... Fomos todos inexactos, porque não havemos de contar as cousas como ellas são? Hesitou por muito tempo em trazer o contrato á camara, porque temia a sorte do mesmo contrato. Decidiu em fim traze-lo; mas como nós não tinhamos conhecimento destes movimentos, antecipámos um pouco a apresentação do contrato. Não sabiamos que tinha dia designado para a sua apresentação, e que estavam decididas as scenas dramaticas que deviam acompanhar esta apresentação. Mas como estão promptos a dar estas explicações, nós não fazemos mais questão.

Sr. presidente, diga-se a verdade: o sr. ministro foi extremamente sincero a respeito da historia deploravel do caminho de ferro de Petto. O sr. ministro declarou que Petto lhe linha escripto, e acompanhado a sua carta de outras de diversos capitalistas que estavam promptos a ajuda-lo; mas que depois sobreveiu um acontecimento que perturbou todas essas negociações. O sr. Petto a final fazendo instancias sobre instancias, depois da impossibilidade de passar as acções na praça de París, viera render-se, e declarou que não podia fazer tal contrato Agora, sr. presidente, resta uma cousa: saber se este ultimo rendimento de Petto foi espontaneo, ou se o ministro por meio de participação telegraphica instara por lai com elle que o obrigára a deixar o seu paiz e vir declarar o que havia a similhante respeito; porque se diz geralmente que elle veiu porque o chamaram. Desejo pois saber se veiu ao chamamento do governo; e se veiu, porque não ha de fazer o contraio? Para que o convocou se tinha o negocio acabado? Não queria nada com o governo portuguez, não tinha senão pequena responsabilidade, porque o deposito é pequeno, é ficticio, são 10:000 libras em bonds, e creio que será ainda mais facil lançar mão sobre o deposito de sir Morton Petto do que obrigar o sr. ministro a dar explicações. Sr. presidente, o sr. ministro das obras publicas esperou e esperou que elle voltasse para apresentar a proposta; mas s. ex.ª diz = que lhe parecia que a esperança não fóra crime =; porém o facto d'esta esperança sem limites é desesperação geral.

Vou concluir, porque estou plenamente satisfeito. Sabemos que havemos de ler um caminho de ferro, que Petto não sáe pela malha, e que tem um condão especial. Foi nomeado inicialmente para fazer o caminho de ferro do norte: ha de faze-lo quer queira quer não. quer tenha meios quer não os tenha; porque ha uma união intima entre o actual ministerio e aquelle individuo; de sorte que o sr. ministro não tem senão uma só esperança, uma só idéa que é em Petto. Sr. presidente, quando o governo do estado chega a situações d'estas, quando o parlamento é obrigado a resolver uma questão d’esta ordem debaixo de taes impressos, o dever d'elle é esclarecer o seu paiz, e prevenir quanto em si couber que não voltem ao governo do estado homens que sejam tambem capazes de dar tão má direcção aos negocios publicos.

Não reputo possivel que houvesse a menor transacção, o menor sacrificio d'este principio tutellar da moralidade e do decoro de todos os governos, isto é, que o concurso não se fizesse por modo nenhum, e que os homens conspicuos do partido historico aberrassem d'estes principios, os quaes nós inscrevemos nas bandeiras revolucionarias, que muitas vezes agitámos n'este paiz; não digo já para enganar, mas para frustrar todas as suas promessas. Os concursos são de tal ordem, que não se devem dispensar nas cousas as mais pequenas...

O sr. Sant’Anna e Vasconcellos: — E o concurso do Hislop?

O Orador: — Este Petto é um homem singular, já existia no tempo do Hislop; veiu o Petto guerrear com o Hislop, e veiu sempre com esta reluctancia contratar. O sr. Petto depois de fazer muito mau negocio, e com mau credito, é que vem contratar com Portugal. Foi um bom emprezario de caminhos de ferro. Esta amizade intima com o sr. ministro é que o tem feito conhecer na Europa. Ora em quanto á construcção de caminhos de ferro pelo sr. Petto, não posso deixar de o dizer: é uma cousa poetica e idylica; e quer o sr. Petto tenha ou não tenha recursos, por força ha de fazer o caminho de ferro: e só o sr. ministro das obras publicas é que póde citar um testemunho a favor de um homem que fez um caminho de feiro sobre o campo de batalha; fallo de Balackava. Citar esse facto é uma cousa de que ainda ninguem se lembrou; é um brinco de creanças...

Sr. presidente, Peito é um favorito, e a historia dos favoritos é toda assim. Favorito quer dizer um homem que possue um merito, sem rasão visivel e explicavel, sem graça e maneiras, e que todavia influe em certas e determinadas pessoas. Qual é a rasão por que este homem é tão estimado? Ninguem o sabe. O ser favorito é devido á predestinação; por consequencia estava predestinado o sr. Petto para ser favorito do ministerio actual. Não creio que se façam caminhos de ferro com favoritos. O caminho de ferro faz-se com franqueza e lealdade, com uma dotação séria, forte, importante e expressamente destinada para o pagamento dos juros que d'ahi lhe provém.

O sr. Sant’Anna e Vasconcellos: — Sem bónus.

O Orador: — Os bónus não são bons, mas é peior votar por elles por considerações politicas.

O sr. Sant’Anna e Vasconcellos: — É uma herança.

O Orador: — Os governos que se succedem uns aos outros não têem obrigação de fazer o que faziam os seus antecessores. E tanto isto é assim, que se por algum governo for o contrato do caminho de ferro do norte dirigido da maneira como está, digo abertamente que é caso de accusação ao governo. Sr. presidente, desde 1834 para cá ainda não vi negocio mais irregular: é uma pretenção, absolutamente uma pretenção, a respeito da qual não ha lei, não ha im-