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2510 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

inuteis, se pelo caminho de ferro o litoral se approximasse do sertão, e á via ferrea fossem necessariamente attrahidas todas essas pequenas, mas multiplas correntes commerciaes, como á corrente de um grande rio affluem todos os ribeiros que elle encontra nos valles que percorre.
Mas ainda mesmo que não queiramos subir ao planalto, e procurar no interior todo esse importantissimo commercio para que o mundo industrial olha hoje como recurso salvador, encontramos, mesmo na região do litoral e na parto montanhosa da provincia elementos tão importantes da riqueza que bastariam para aconselhar a construcção de uma via ferrea que lhes permittisse tornarem-se realmente productivos.
No valle do Bengo vae-se alargando a cultura que veiu de novo animal-o e regeneral-o. Fundam-se estabelecimentos de distillação de aguardente, e fazendas agricolas importantes.
Á região dos Dembos, cuja fama de riqueza é conhecida, e que está hoje fora do nosso dominio effectivo, ha de ser reconquistada, não pelas armas, mas pelo silvo da locomotiva, e virá alargar consideravelmente com os mais ricos productos o commercio da provincia.
Da fertilidade da região montanhosa é quasi ocioso fallar-mos, porque é d'ali que derivam quasi todos os productos que constituem o commercio que afflue hoje ao litoral ; e portanto a ella se podem considerar especialmente referidas as informações estatisticas ácerca do actual commercio de Loanda.
E deixâmos de fallar das riquezas mineiras, que desde remotas eras se reputam consideraveis, mas que pelas difficuldades do transporte principalmente têem deixado de ser exploradas. E não nos referimos tão pouco às vantagens administrativas e politicas que para a nossa occupação definitiva hão de provir da exploração de um caminho de ferro atravez da provincia.
Se todas estas considerações não valem para justificar plenamente a construcção de uma linha ferrea que se dirija do litoral para leste em caminho do sertão, parece-nos que será difficil encontrar na Europa caminho de ferro cuja conveniencia possa deixar de ser contestada.
Notar-se ha que nos tenhamos alargado tanto em considerações para justificar a conveniencia de construir um caminho de ferro que, como a principio dissemos, e como bem se expõe no excellente relatorio que precede a proposta de lei, tem por tal forma conquistado a adhesão da opiniao publica, que e um verdadeiro pleonasmo apregoar a sua indeclinavel urgencia. Mas, se ninguem contesta a conveniencia de tal construcção, opiniões ha, que, amesquinhando por um lado as suas vantagens, e exaltando por outro a importancia de penetrarmos o mais longe possivel na região do interior, pretendem que o caminho de ferro parta, não de Loanda, mas de um ponto do Quanza, aproveitando-se mais ou menos a navegação d'este rio. Não nos parece que possa deixar-se sem exame esta questão, principalmente desde que na proposta de lei se fixa como testa da linha ferrea a capital da provincia de Angola.
Não nos deteremos muito com os argumentos dos que, para chegarem a esta conclusão, só fundam na probabilidade de um muito limitado trafico para o caminho de ferro. Se houvessemos de os acceitar como bons, se contra elles não militassem todas as considerações precedentes, a nossa conclusão seria outra ; diriamos francamente que a construcção do caminho de ferro se não devia realisar. Se devesse-mos contar, construido o caminho de ferro, apenas com um pequeno excesso de movimento commercial, mais acertado fôra então deixar a provincia ir progredindo lentamente, e não nos abalançarmos a uma obra que iria oneral-a com encargos importantes, que não compensariam os beneficios que se lhe pretendiam proporcionar.
Os argumentos que se referem á vantagem do aproveitamento da via fluvial do Quanza fundam-se na supposta possibilidade de que este rio satisfaça, realisadas as obras indispensaveis, ao movimento da linha ferrea. Não contestam elles as más condições do Quanza, mas partindo sempre da falsa base de um movimento muito restricto de mercadorias, julgam facil melhorar aquelle rio a ponto de satisfazer ao trafico provavel que por elle ha de encaminhar-se.
Acceitando apenas a hypothese de que por muitos annos se não deve esperar mais do que o duplo do movimento actual, nem ainda assim se póde admittir o aproveitamento do Quanza em substituição da linha ferrea, na sua primeira secção.
O Quanza é um rio tortuoso, cujas condições de navigabilidade variam conforme as epochas do anno, e conforme a maior ou menor estiagem, e que tendem successivamente a peiorar, quer pela maior difficuldade da entrada e saida da barra, quer pelos obstaculos que no seu curso se vão cada vez mais accumulando.
Durante alguns mezes do anno leva tão pouca quantidade de agua, que os vapores e batelões que n'elle navegam, só com grande difficuldade e demora seguem até ao Dondo. Em differentes pontos o curso é embaraçado por baixos. O serviço da navegação só se póde fazer por meio de barcos que não demandem mais de 2 a 3 pés de agua, quando carregados, e por meio de batelões de ferro de fundo chato, para os quaes se tem de baldear a carga dos vapores. Estes, não obstante demandarem tão pouca altura de agua, encalham ainda amiudadas vezes, em consequencia do açoriamento do rio, devido ao movimento repetido das areias que se deslocam, e dos ramos de arvores e outros objectos que são levados pela corrente, e que obrigam a repetidas sondagens, para determinar os canaes por onde póde mais facilmente effectuar-se a navegação.
Os vapores da actual companhia de navegação do Quanza não exigem mais de o pés de calado de agua, e só assim podem navegar na parte inferior do rio, porque na parte superior até ao Dondo, em occasião de estiagem, muitas vezes a navegação não é possivel para taes barcos.
Tem havido casos em que os passageiros e a carga têem tido que esperar mais de vinte e quatro horas que o vapor seja de novo posto em fluctuação. Os mesmos batelões encalham muitas vezes sem estarem carregados.
Na visita que o actual governador de Angola fez aos concelhos do interior teve de estar parado no Quanza vinte e oito horas, em consequencia do encalhe do vapor; durando a viagem no rio oito dias, pelas difficuldades que, successivamente ia offerecendo á navegação a pequena altura de agua que se encontrava.
Não são menores as dificuldades que offerece a barra. Hoje já não podem transpol-a barcos de mais de 5 pés de calado de agua, e só no preamar, ao passo que em outros tempos passavam facilmente por ella embarcações de grande tonelagem.
Aos obstaculos provenientes do açoriamento vem juntar-se em muitas occasiões as calemas, que não é raro tornarem impossivel transpor a barra durante alguns dias.
Convem ainda notar, que as difficuldades da navegação coincidem geralmente com a epocha da faculdade de obter carregadores que tragam os generos ao Dondo, o que faz que com grande prejuizo do commercio as mercadorias só accumulem então n'esta localidade. Quando o rio tem mais agua, isto é, de janeiro a maio, é exactamente quando os indigenas estão occupados no serviço da lavoura.
Os que tanto apregoam o aproveitamento do Quanza não podem negar estes factos, mas soccorrem-se ao alvitre da realisação de varias obras, e ao do estabelecimento regular do um systema de dragagem.
Não entraremos no exame d'estes alvitres, que não poderiam levar a outra conclusão que não fesse á possibilidade de attenuar um pouco as más condições do Quanza, á custa de obras, cujo orçamento mal póde computar-se com alguma exacção, e que ninguem ousa asseverar que