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Publica-se hoje o discurso que o digno par, o sr. Antonio Luiz de Seabra, pronunciou na sessão de 4 do corrente, e de que se tinha dado um extracto por não ter o mesmo digno par dado o seu discurso a tempo de incluir-se na sessão competente.

O sr. Seabra: — O pequeno numero de dignos pares que se têem inscripto, parece-me dar a entender que a camara não esta disposta a dar largas dimensões a esta discussão: accedo ao presuposto.

A pratica da minha vida parlamentar tem-me feito conhecer que, com raras e mui particulares excepções, d'estas discussões de omni scibili em politica, muito pouco proveito tira o paiz, emquanto é sempre certo um grande desperdicio de tempo e de trabalho; mas ainda mesmo, sr. presidente, que a camara estivesse resolvida a entrar n'esse campo de discussão da politica em geral, seria muito difficilmente que me resolveria a segui-la n'esse terreno.

Venham as questões especiaes, e venham em occasião propria em que possa esta camara votar, concluir alguma cousa em proveito do paiz, que eu prometto não abandonar os meus illustres collegas até onde chegarem as minhas forças.

Mas se isto assim é, se eu assim o entendo, porque rasão peço a palavra n'esta conjunctura? Peço-a, sr. presidente, porque sinto a necessidade de manifestar a esta camara e ao paiz um profundo sentimento, uma profunda convicção, que desde muito me senhoreia, e que tem relação com um ponto capital da nossa vida politica.

Peço a palavra porque, não obstante as considerações que fiz ácerca da inconveniencia de vagas discussões, não poderia achar momento mais opportuno que este, para occupar a camara do assumpto que tenho em vista, pois que o vejo naturalmente indicado na resposta ao discurso da corôa, que temos na ordem do dia.

Primeiro que tudo declaro que, em geral, approvo o projecto de resposta ao discurso da corôa, mas peço que se me permitta indicar, na especialidade, quaes os motivos que mais me impressionaram e me compelliram a tomar a palavra.

Sr. presidente, leio n'este projecto da resposta as seguintes palavras: (leu.)

«Nomeando os novos membros da camara electiva, pacificamente, o suffragio popular prestou á lealdade do systema representativo um testemunho valioso.»

E acrescenta (leu). «Sem o exercicio plenissimo dos direitos politicos o mandato não é honroso, e a liberdade prevertida torna-se o mais funesto de todos os sophysmas.»

Sr. presidente, eu felicito a illustre commissão, e acho que ainda quando este papel não contivesse outras palavras alem das que apontei n'este paragrapho, a commissão bem merecia ás nossas felicitações, pois de certo nenhum dos dignos pares recusará o seu assentimento a verdades tão incontestaveis.

N'esta phrase, sr. presidente, resumiu a illustre commissão a essencia da nossa lei fundamental, deu-nos a syntheze mais elevada, o epilogo de todo o systema representivo. A pedra angular em que repousa o nosso systema constitucional é sem duvida a liberdade do suffragio, e quando este não é livre, aquella desapparece, e todo o systema se vê desmoronado. É no exercicio d'este direito sagrado, n'este unico acto que a nação participa da soberania nacional, é por elle que o systema representativo se desenha e caracterise, é só por elle que o paiz póde salvar-se no meio das violentas tempestades da sua vida politica.

Mas para que veiu aqui essa phrase do projecto de resposta ao discurso da corôa?! Virá como um simples ornato oratorio, ou simplesmente para arredondar o periodo e torna-lo mais harmonioso? Ou será mais alguma cousa: — a expressão de uma necessidade profundamente sentida, de um mal a que devemos acudir com remedio opportuno? Quanto a mim, o elevado conceito que formo dos dignos pares que vejo aqui assignados, me auctorisa a pensar que ss. ex.as não podiam deixar de conhecer perfeitamente todo o alcance d'esta phrase, escripta em documento tão solemne como este. E muito mais me confirmo n'este juizo, ao ver que no discurso da corôa não se fez mais do que communicar, que o acto eleitoral tinha corrido pacificamente. E a commissão responde n'isso prestou a nação á lealdade do systema representativo um testemunho valioso; mas ha ahi alguma cousa igualmente importante, porque sem o exercicio plenissimo dos direitos politicos, o mandato não é honroso