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134 DIARIO DA CAMAEA DOS DIGNOS PARES DO REINO

declarações feitas pelo Gungunhana e mais prisioneiros de guerra sobre os motivos que os levaram a hostilisar Portugal; bem como todas as informações do residente portuguez junto do dito regulo, ou informações que sobre este assumpto tenham chegado ao conhecimento do sr. ministro da marinha.

Sala das sessões, em 25 de fevereiro de 1895. = 0 par do reino, Conde de Thomar,

O sr. Conde de Tlomar: — V. exa. dá-me licença?

Desejava que v. exa. me dissesse se já vieram os documentos que requeri por parte do ministerio das obras publicas, relativos á companhia das aguas. Esses documentos foram pedidos ha mais de tres semanas, e referem-se a um assumpto bastante importante, que tem occupado a attenção publica. Pedia, portanto, a v. exa. que, no caso de elles ainda não terem chegado se instasse para que viessem.

O sr. Presidente: — Vou pedir informações á secretaria, e se não tiverem vindo, renovar-se-ha a requisição.

Tem a palavra o sr. conde de Lagoaça.

O sr. Conde de Lagoaça: — Tinha pedido a presença do sr. ministro da guerra para tratar de um assumpto que mais directamente diz respeito ao titular daquella pasta,

S. exa. não está presente por motivo justificado, ter de assistir na outra casa do parlamento á discussão do projecto de recompensas apresentado pelo governo.

O assumpto, todavia, tem tal importancia, que nunca é de mais que ácerca d’elle a representação nacional diga algumas palavras.

Como se tem dito aqui varias vezes, o pagamento da. divida contrahida para com Mousinho de Albuquerque, para com a expedição á Africa, representa a satisfação de uma divida de honra nacional; e o governo, não a pagando, mostra não ter a consciencia dos seus deveres politicos.

O sr. ministro do reino, por quem tenho muito respeito e consideração, é um elemento preponderantessimo no governo.

A sua voz não terá sido ouvida sobre o assumpto.

Elle, porém, esperava que s. exa. dissesse a sua opinião, auctorisadissima por todos os motivos, com respeito ao facto heróico praticado por Mousinho de Albuquerque, facto raie excede tudo quanto ha muito tempo se tem praticado tanto no paiz como fóra d’elle, facto de tal ordem que as nações estrangeiras se apressaram a perguntar, por telegrammas, aos seus agentes consulares em Lourenço Marques, se effectivamente aquelle feito se tinha levado a cabo por uma maneira tão extraordinaria, em fim, se o facto era verdadeiro, tão impossivel elle se lhes augurava.

De todos os jornaes estrangeiros, não houve um só que não dissesse que o feito praticado por Mousinho era o mais notavel da guerra negra.

Sabe que não é de uso, ou não tem força, a, citação do que se passa em conversações particulares; mas, em todo o caso dirá que tendo a honra de entreter relações intimas com muitos diplomatas estrangeiros, póde afiançar á camara que todos elles têem como extraordinario, como unico, o valor d’aquelle valente soldado.

Toda a gente assim o entende, menos o governo de Sua Magestade ou, pelo menos, parece, que é a unica entidade que deixa de pensar como pensa toda a demais gente.

Não fallou ainda o sr. João Franco Castello Branco que, apesar de todos os seus erros politicos, occupa, e com muita justiça, um logar distincto na politica portugueza, e que tem um largo e prospero futuro diante de si.

É um homem novo; mas é um homem honrado.

Pois bem; é para a sua honradez que elle appella. para que s. exa. lhe diga, com a mão na consciencia, se não julga ser uma grande injustiça o que se está praticando, se não é uma situação indigna e affrontosa aquella em que nos querem collocar aquelles que têem a responsabilidade do mando.

Já disse em uma das sessões passadas que se não calaria emquanto se não pagasse essa divida sagrada a Mousinho de Albuquerque, o intrépido aprisionador do Gungunhana, e ao coronel Galhardo, o illustre chefe militar da expedição.

Disse que não se calaria, e não se calará.

Querem que voltemos á antiga?

Pois voltemos.

Felizmente é novo e, se Deus lhe der saude, ainda poderá fazer o que outros fizeram, isto é, recorrerá ao obstruccionismo.

Fallará um mez a fio, se tanto for preciso, quando ali chegar o projecto que actualmente se está discutindo na camara dos senhores deputados, visto que assim o exige a honra nacional.

Pede ao sr. presidente que empregue os seus bons officios, para que se reuna a commissão de guerra, achando inadmissivel que nesta altura da sessão, passados quasi dois mezes depois da abertura do parlamento, ella ainda não esteja constituida, quando ha tantos assumptos dependentes da sua approvação e questões tão importantes, como a dos postos de accesso aos que arriscaram a sua vida na defeza da patria.

Dizer-se que não tem havido numero para a commissão se reunir, não o convence, porque esse argumento póde servir para sempre, e; nunca a commissão se reune.

Appello para o nobre almirante Baptista de Andrade, que faz parte desta commissão, para o nobre almirante, que é tambem um heroe, um homem, a quem a patria deve assignalados serviços, e que arriscou a sua vida no campo da batalha em defeza das nossas instituições, para que empregue igualmente todos os seus bons officios a fim de que a commissão se reuna e de o seu parecer ácerca do seu projecto de lei.

O que se diz por ahi ácerca do exercito é, no meu entender, muito pouco sensato, e não passa de uma insidiosa insinuação.

A verdade, porém, é que o governo concorre pelo seu procedimento para que no animo publico se levantem estas opiniões, que tão contrarias podem ser aos interesses publicos e ás instituições.

Por isso pede ao nobre ministro do reino que, como ministro, como estadista que tem um logar proeminente, e como homem que tem diante de si um largo futuro, diga alguma cousa a esto respeito.

Quando vier a esta camara o projecto das recompensas, que actualmente se discute na camara dos senhores deputados, fará então mais largas e energicas considerações.

Deseja ainda fazer outra pergunta ao sr. ministro do reino.

O sr. Presidente: — Peço licença para interromper o digno par, a fim de observar-lhe que já passou o praso que o regimento marca, para, depois da leitura do expediente, se tratar de quaesquer negocios antes da ordem do dia. Por isso peço ao digno par, que não querendo ficar com a palavra reservada, seja breve nas suas considerações.

O Orador: —Vuo terminar. Quando se discutiu nesta camara a lei relativa aos anarchistas, o sr. presidente do conselho, interrompendo o digno par o sr. conde de Thomar, disse que já estava preso o individuo auctor do attentado praticado, bem como mais oito ou nove, que com elle eram cumplices.

Ora, pessoa que me merece toda a confiança, mas que póde estar mal informada, disse-me ha dois dias que tal facto não se dera; que o individuo que disse ter atirado a bomba estivera caçoando com a policia.

Custa-me acreditar similhante cousa; mas como o facto é grave, peço ao sr. ministro do reino que diga se .sabe alguma cousa a este respeito. Igualmente pergunto a s. exa.