O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO 261

d'aquelle modo, mostra que não tem opinião formada, nem conhecimento do assumpto, e que apenas o apresentou por exigencias dos amigos.

Será assim que o governo representa o paiz e é a sua expressão, ou representa só e é a expressão dos seus amigos?

Eu não conheço no estado responsabilidade senão nos homens que ali estão sentados. Respeito-os; mas não quero saber dos seus amigos, nem das auctoridades que por elles são nomeadas, boas ou más, não podendo deixar de o censurar pelas nomeações que tem feito, e que têem ferido as susceptibilidades publicas, e a minha, pelo caracter dos individuos e má escolha que tem feito, suggeridas talvez, e que lamento.

Peço aos srs. ministros que acreditem que no que disse não tive intenção de offender s. exas.; apenas me desempenhei do meu dever, como a intelligencia o permittiu. A respeito do projecto, voto contra todos os seus artigos e assim cumpro o meu dever.

Tenho concluido.

O sr. Lobo d'Avila: - Sr. presidente, pedi a palavra para dar algumas explicações por parte das commissões de fazenda e de obras publicas, e não para discutir o governo, porque o governo está callado quando entende que deve ficar callado, e fallará quando o julgar opportuno.

Em primeiro logar vou dar uma explicação ao nosso collega, sr. Miguel Osorio. A substituição do digno par não estava junta aos papeis que foram remettidos ás commissões e que ellas examinaram. Creio que não estava na camara quando essa substituição impressa foi distribuida; o que é certo é que eu nunca a recebi, naturalmente foi isto devido á confusão que resulta da demasiada affluencia de projectos e propostas n'estes ultimos dias de sessão, sem culpa intencional de ninguem. Esta é a verdade. E declaro a s. exa. que foi este o unico motivo pelo qual as commissões deixaram de dar parecer sobre a sua substituição ao projecto de lei pendente; não podia haver em ninguem a menor idéa de falta de deferencia, porque sabemos que o nosso dever é considerar tanto a s. exa. como a outro qualquer digno par. (Apoiados.)

O sr. Miguel Osorio: - Peço a palavra.

O Orador: - Sr. presidente, aqui ha duas questões: a primeira é a questão do systema governativo, que tem por norma dotar o paiz com boas vias de communicação para desenvolver a sua prosperidade; a segunda questão é a do melhor methodo a seguir para realisar estes melhoramentos.

Ha inividuos que julgam devermos esperar que melhore a nossa situação financeira, empregando para esse fim a reducção de despezas e o acrescimo de receita, para depois tentarmos então pausadamente e por partes o acabamento da nossa rede de caminhos de ferro.

Eu entendo, sr. presidente, que o modo de desenvolver a prosperidade e a riqueza do paiz é construir as vias de communicação, porque ellas são um meio economico sem o qual não poderá prosperar a fazenda publica. É esta uma verdade tão reconhecida por todos, e em todos os paizes da Europa quando se trata d'esta questão, que, se por acaso houvesse um individuo que a desconhecesse, seria o mesmo que querer negar a luz do sol. (Apoiados.)

Portanto já se vê, sr. presidente, que estando eu convicto d'estes principios não posso deixar de estranhar que o sr. conde de Cavalleiros diga que podemos passar sem caminhos de ferro. Reputo esta idéa completamente inexacta e contrariada pelos factos, pois está demonstrado que os caminhos de ferro entre nós têem dado em resultado o desenvolvimento da prosperidade publica. (Apoiados.)

Os 7.000:000, ou antes perto de 8.000:000 de passageiros, que têem transitado pelos nossos caminhos de ferro, e as 1.600:000 ou 1.700:000 tonelladas de mercadorias que se tem transportado por esses caminhos, desde que existem em exploração até ao anno passado, têem dado á economia publica uma reducção de despeza de transporte que se traduz num grande elemento de prosperidade nacional. (Apoiados.) Isso tem-nos habilitado a desenvolver as differentes industrias, a levar os productos dos focos de producção aos de consumo, o que d'antes era em muitos casos impossivel pelas enormes despezas de conducção, que oneravam as mercadorias.

Ainda n'outro dia ouvi um illustre deputado apresentar o calculo com referencia ao custo do transporte de 75:000 pipas de vinho do Douro para os armazens e depositos ou para os sitios do consumo, custo de transporte que pelos meios imperfeitos de que se usa custa 450:000$000 réis, e pelos meios aperfeiçoados custará 112:000$000 réis, o que dá uma economia de 337:000$000 réis.

Essa economia lá fica na mão do productor, e se se tem de lhe pedir algum imposto novo para um caminho de ferro não terá já essa economia de 300:000$000 réis, que deixa de pagar pelo transporte d'aquelle genero? O que se dá com o vinho dá-se com os mais productos. (Apoiados.)

A exploração das minas, por exemplo, seria impraticavel sem os caminhos de ferro.

Como se havia de transportar assa grande quantidade de minerio em bruto não havendo caminho de ferro que proporcione transporte barato? Seria impossivel.

Ha uma infinidade de industrias que se têem creado, que seria absolutamente impossivel sustentarem-se e desenvolverem-se sem haver communicações acceleradas.

Portanto, é necessario completar a nossa rede de caminhos de ferro, não só em consequencia d'estas doutrinas altamente racionaes, cuja utilidade é comprovada pela experiencia, mas porque é uma necessidade impreterivel da nossa situação. Depois de termos algumas das nossas principaes linhas ferreas, se não completâmos a rede, não aproveitâmos todos aquelles capitaes que ali estão empregados do modo mais efficaz e conveniente á economia publica.

Devemos, pois, construir os caminhos de ferro da Beira e devemos ligar o caminho de ferro de sueste com o do norte; depois devemos ligar o caminho de ferro da Beira Alta com o caminho de ferro do Douro, prolongado até Traz os Montes, e formar assim uma rede de caminhos de ferro.

Agora querer parar no caminho encetado, depois de se terem obtido já tão bons resultados para a prosperidade nacional, e quando tudo faz esperar que o complemento da rede muito maior incremento traria a essa prosperidade, seria um acto irracional. (Apoiados.)

O sr. Costa Lobo: - S. exa. disse que todos desejam caminhos de ferro, o que não desejam é que se façam com precipitação, sem attender ás circumstancias financeiras do paiz, trazendo á camara projectos confusos para se votarem.

O Orador: - Quem é que quer que se caminhe com precipitação?

O sr. Costa Lobo: - S. exa. estranhou que o governo proponha nesta camara a construcção de caminhos de ferro, confessando ao mesmo tempo que nada conhece a esse respeito.

O Orador: - A ordem de idéas que eu tenho visto aqui apresentar é principalmente financeira, quer dizer que se julga que o paiz não tem recursos e que se deve estar á espera que haja os meios necessarios para occorrer a essa despeza.

O sr. Costa Lobo: - O digno par interrompeu o orador para lhe fazer sentir que não tinha dito o que s. exa. lhe attribue.

O Orador: - Eu não estou sóa responder ao digno par. Permitta-me s. exa. que lhe diga que, por muita consideração que eu tenha pelas observações do digno par, não posso sómente dirigir-me a s. exa. Eu estou aqui respondendo ás diversas idéas que se apresentaram. Por exemplo ao sr. conde de Rio Maior.

Ora eu folgo muito que o digno par peça a palavra,