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554 DIARIO DA CAMPEIA DOS DIGNOS PARES DO REINO

muito proceder para com Mousinho de Albuquerque da mesma forma, porque e]le deu-nos a provincia de Moçambique. Sem o audacioso feito de Chaimite estariamos a esta hora a organisar uma nova expedição para combater o Gungunhana, e sabe Deus com quantos sacrificios de vidas e de dinheiro teriamos a luctar.

Parece-me que não era nada extraordinario, que o governo tivesse isto em consideração.

Estou tratando deste assumpto sem indicar o caminho que deve seguir o sr. ministro da guerra, que é um distincto official, e melhor do que eu poderá apreciar os serviços de qualquer seu subordinado; comtudo, recommendo á benevolencia de s. exa. o tenente Sanches de Miranda, o que recebeu uma recompensa muito inferior aos seus serviços. Foi elle quem entregou a Mousinho o Zixaxa, e o acompanhou no aprisionamento do Gungunhana.

Chamo para este facto a attenção da camara, e a do sr. ministro da guerra. Officiaes de igual patente tiveram a mesma recompensa que teve Sanches de Miranda.

Não ponho em duvida os serviços prestados por esses officiaes, mas é certo que nenhum d'elles praticou, por não ter occasião, feito comparavel ao do tenente Sanches de Miranda, feito tão extraordinario, que mereceu ao proprio governo a distincção de o nomear governador do districto de Gaza, em substituição de Mousinho de Albuquerque, elevado a governador geral da provincia de Moçambique.

Bem sei que esta nomeação é uma recompensa bastante honrosa para aquelle official, mas de nada lhe aproveita na. sua carreira militar. Não venho aqui pedir postos por distincção, isso é uma questão linda, mas uma cousa é dar uma distincção superior áquelles que tanto se distinguiram n'aquella provincia e dar igual recompensa a officiaes que embora prestassem serviços importantes, comtudo não se podem comparar com os de Mousinho de Albuquerque e Sanches de Miranda. *

Sr. presidente, a maior parte dos officiaes que compunham a expedição já regressaram á patria; estão desfrutando o seu bem estar e Mousinho e Sanches de Miranda continuam ainda prestando os seus valiosos serviços n'aquella provincia, sujeitos ás inclemencias d'aquelle clima.

Vou terminar por um pedido ao nobre ministro da guerra. Como não vejo presente o seu collega, das obras publicas, peco-lhe a fineza de transmittir a s. exa. o desejo que tenho de saber se já está concluido e fechado pelo governo o contrato entre elle e a companhia das aguas, e se s. exa. tenciona trazer ao parlamento esse contrato, pois desejo estudal-o e aprecial-o para ver se estão garantidos os interesses do thesouro e as reclamações dos consumidores. Quatro olhos vêem mais que dois. É provavel que este contrato não seja approvado em dictadura, porque temos como garantia a estada no governo do nobre ministro da guerra que, pelo seu passado e pelas suas idéas liberaes, de certo não quererá associar o seu nome a uma reprise da dictadura de que tanto se abusou durante dois annos.

Portanto, repito, estou certo que este contraio não será approvado em dictadura, e que se o nobre ministro das obras publicas tiver tempo ha de trazel-o ao parlamento para aqui ser bem estudado e examinado.

(O digno par não reviu.)

O sr. Ministro da Guerra. (Moraes Sarmento): - Não conhece o projecto a que acaba de se referir o digno par o sr. conde de Thomar sobre recompensas ao major Mousinho de Albuquerque e outros officiaes, mas deve declarar ao digno par e á camara que tão depressa o digno presidente da commissão de guerra convoque a mesma commissão, elle concorrerá a ella e apreciará esse projecto, não tendo duvida alguma em dar n'essa occasião a sua opinião.

Quanto á segunda parte, que se refere ás circumstancias desfavoraveis por que foram remunerados os serviços prestados pelo tenente Sanches de Miranda, deve repetir o que aqui já disse. Quando entrou para o governo encontrou completam ente liquidada a questão das recompensas, e por esse motivo nunca tratou de a examinar.

Quanto ao terceiro ponto, declara ao digno par que transmittiá ao seu collega das obras publicas o seu pedido.

(O discurso será publicado quando s. exa. o devolver.)

O sr. Conde de Lagoaça: - Sente ter que voltar á questão das recompensas, mas não póde deixar de o fazer porque lhe parece má a resposta que o sr. ministro da guerra acaba de dar ao seu collega e amigo o sr. conde de Thomar, e parece-lhe má, porque o que s. exa. disse quando tive a honra de o ver aqui pela primeira vez, era que a questão das recompensas era uma questão liquidada.

Então a questão das recompensas é uma questão liquidada, ou não é uma questão liquidada?

Bem dizia elle outro dia que não percebia bem como essa questão era uma questão liquidada. Agora vê que tinha rasão em o dizer. Pois. não declarou agora o sr. ministro da guerra, em resposta ao seu collega o sr. conde de Thomar, uma cousa que se póde tomar exactamente como o contrario? Não disse agora s. exa. que daria a sua opinião sobre o projecto do sr. conde de Thomar quando a commissão de guerra o examinasse, o que mostra que s. exa. admitte que a questão das recompensas póde não ser uma questão liquidada?

Ora elle tambem apresentou um, projecto para se dar um posto de accesso ao coronel Galhardo, e, não sendo certo que a questão se deva considerar liquidada, parece-lhe que a commissão póde ainda dar sobre elle um parecer favoravel, attendendo a que se é verdade que Mousinho acabou com a insurreição na nossa África do sul com o feito de Chaimite, não é menos verdade que sem Coolella não teria havido Chaimite.

E para prestar toda a homenagem ao vencedor de Coolella tem elle a seu lado o augusto chefe do estado, que, ainda depois de o governo querer considerar a questão das recompensas como liquidada, foi lançar ao peito do coronel Galhardo a medalha. com que o galardoou a sociedade de geographia; e Sua Magestade procedeu assim, sem duvida, porque entende, como elle, que foi de mui alto valor o serviço que o coronel Galhardo prestou ao paiz.

Todos, a final, assim o entendem, menos o governo, que até creou um grau novo n'um a ordem militar, para não dar ao coronel Galhardo o mais elevado d'essa ordem. Faz ao illustre ministro da guerra a justiça de crer que s. exa. tem dos serviços do coronel Galhardo a mesma opinião que todos têem, menos o governo, segundo parece; e de suppor que só circumstancias politicas o impedem de manifestar desassonibradamente essa opinião.

Em conclusão: sente que não tivesse havido a coragem e o bom senso de se proceder em relação ao coronel Galhardo como se procedeu em relação a Mousinho de Albuquerque.

Nada mais dirá, quiz apenas patentear mais uma vez a sua opinião sobre este assumpto.

(O discurso será publicado quando o digno par devolver as notas tachygraphicas.)

O sr. Ministro da Guerra (Moraes Sarmento): - Deseja que se não o possa encontrar nas suas palavras qualquer incoherencia, que em verdade, lhe parece não existe.

Respondendo ao sr. conde de Thomar, começou por dizer que não conhecia o seu projecto; e que, portanto, só quando elle fosse examinado na commissão poderia tomar conhecimento d'elle e dar a sua opinião.

Em resposta á questão da promoção do coronel Galhardo conhece-lhe perfeitamente os termos e declarou desde logo que considerava essa questão liquidada, e não podia por forma alguma ter hoje uma opinião differente d'aquella que então apresentou.

São estas as explicações que tem a dar ao digno par,

(S. exa. não reviu.)