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4 Diário da Câmara dos Deputados

Discurso do Sr. Deputado Albano de Sousa, na sessão n.° 7, de 13 de Dezembro de 1918, agora publicado integralmente

O Sr. Albano de Sousa: - Sendo esta a primeira vez que tenho a honra de falar nesta casa, começo as minhas considerações por saudar V. Exa. e a Câmara.

Sr. Presidente: vou ocupar-me dam assunto que reputo urgente e de interêsse nacional.

Trata-se da maneira como estão decorrendo os serviços do caminho do Ferro do Norte e Leste. Não está presente o Sr. Secretário de Estado dos Abastecimentos, que alguns esclarecimentos nos podia dar sôbre o assunto; mas, como vejo sentado na bancada do Govêrno o Sr. Secretário de Estado do Interior, eu peço a S. Exa. o obséquio de transmitir ao seu colega dos Abastecimentos as considerações que vou fazer.

Sr. Presidente: em verdadeira oposição com os horários aprovados, os comboios de passageiros estão levando no trajecto de Lisboa ao Pôrto entro 19 a 20 horas do viagem!

Ainda há pouco, esperando uma pessoa que vinha do norte, eu verifiquei que o comboio em vez de chegar às 15,45, chegou depois das 24 horas, tendo saído do Pôrto às 22 horas do dia transacto.

Trouxe portanto uma velocidade do 13 quilómetros à hora.

Chega a gente a ter saudades da Mala Posta...

Os passageiros passam torturas.

Saí há poucos dias do Pôrto, no comboio das 10 horas da noite.

Sabem V. Exas. quando cheguei a Lisboa?

As 6 horas da tarde do dia seguinte!

Tive ocasião de verificar que o material do comboio era o mais ordinário que a Companhia tem.

No meu compartimento acumulava-se Hm número grande de passageiros.

Uma senhora que viajava com duas crianças, passou toda a noite com elas nos braços.

Para que esta senhora pudesse descansar um pouco, cedi eu o meu lugar durante algumas horas.

Sr. Presidente: é um assunto muito importante e é preciso que quem de direito obrigue a companhia a cumprir os contratos que mantêm com o Estado.

Trata-se dum serviço público de grande importância, que não pode continuar no estado caótico em que se encontra funcionando e que está causando graves prejuízos.

Há poucos dias ainda um infeliz que embarcava na estação da Marinha Grande, para Lisboa, a fim de nosso mesmo dia seguir no vapor que saía pura a África, ficou inibido de executar o seu propósito, visto que o comboio chegou às 5 horas da tarde em vez de chegar às 11 horas da manhã.

Viu assim perdido o seu bilhete que talvez representasse toda a sua fortuna.

Entretanto, a companhia, indiferente ao interesse público, continua a alimentar as suas caldeiras com lenha verde, obrigando as máquinas a demorarem-se nas estações o tempo necessário para tomar a pressão precisa para arrastarem o comboio até a estação seguinte.

Quem pela primeira vez viesse agora a Portugal viajar nos comboios, havia de supor que em Portugal não entrou ainda a civilização.

Creio bem que o Sr. Secretário de Estado dos Abastecimentos, com a sua energia, com a sua boa vontade, já deve ter tomado providências para acabar com êste actual estado de cousas.

Lamento que S. Exa. não esteja presente, porque, se estivesse, não deixaria de dizer desde já à Câmara quais as providências adoptadas.

Não se trata apenas dos comboios de passageiros, há outros serviços importantíssimos que merecem ser remodelados.

Refiro-me aos serviços de correio entre Lisboa e Pôrto, que de tal forma está feito que uma carta leva dois ou três dias para chegar ao Pôrto quando expedida de Lisboa.

Como a Câmara sabe, a demora de entrega de correspondência pode ocasionar enormes prejuízos ao comércio e indústria.

Eu lembrava que se utilizasse o serviço marítimo ou de automóveis, a fim de remover os inconvenientes apontados.