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6 Diário da Câmara dos Deputados

te lado da Câmara; depois de ouvir o ilustre Deputado que acaba de falar, cujas palavras ainda vibram em todos nós e tam profundamente calaram no nosso espírito, não teria neste momento coragem para usar da palavra se não me ligassem ao ilustre morto antigas relações de amizade e camaradagem académica, que aumentam a comoção que a todos nos toma e ao mesmo tempo me impõem o doloroso dever de manifestar a dor que sinto.

Largamente tem sido demonstrada quanto é grande a perda que o país acaba do sofrer com o desaparecimento de um homem que em pouco tempo conseguiu afirmar excepcionais qualidades do energia e acção e que adquirira a confiança geral como garantia da ordem pública, condição primordial para a prosperidade de um país.

E, infelizmente, nos revoltos tempos em que nos encontramos, quando as tempestades sociais sopram impetuosas e ameaçam subverter toda a ordem, destruir os mais sólidos organismos e cansar-nos nas mais graves perturbações, sem que de tais factos possa resultar para a humanidade outra cousa que não sejam duras provações e cruéis angústias, é sem dúvida o serviço que Sidónio Tais se propôs prestar ao seu país o mais importante que pode dever-se a um homem de Estado.

Mas eu não quero tomar tempo à Câmara, nem é neste momento, em que me sinto dominado pela mais profunda comoção, que eu poderia expor ao país e à humanidade o pezar que sinto ao contemplar a desorientação que para desgraça de todos se apossou dos espíritos, sem poupar tantos que dos seus conhecimentos deveriam tirar procedimentos bem diversos daqueles que com o maior prejuízo para a humanidade, que dizem servir, adoptam. Que enorme responsabilidade a dêsses homens! Como devem ser cruéis os remorsos que um dia virão a torturá-los!

Sidónio Pais, guindado ràpidamente à mais alta magistratura do país, no seu intenso empenho de opor uma formidável barreira às fôrças destruidoras da nação, prestou um serviço inolvidável.

Este homem, que assim alcançou tam notável glória, foi meu discípulo ilustre e meu colega sábio e considerado na Universidade em que o meu espírito há tanto se encarnou com ilimitada dedicação e a que o saudoso Presidente, através de todas as vicissitudes da sua vida e ainda no meio das mais graves preocupações do elevado cargo que ocupava agora, demonstrou sempre querer com o mais intonso carinho, não deixando um instante de demonstrar a sua dedicação à alma mater. Facto êste que não só demonstra o timbre das suas nobres qualidades, mas tambêm honra aquele estabelecimento, que tam intenso afecto sabe criar e cujos sentimentos aqui interpreto.

Vou terminar já. O trágico acontecimento que tam profundamente nos comove é daqueles que para sempre ficará inscrito com letras de sangue e perenes lágrimas na nossa historiei. Infelizmente outro não menos emocionante ainda há pouco aqui teve lugar.

Confiemos em que o horror produzido por estes lamentabilíssimos factos sacuda profundamente a consciência pública e torne impossível a sua repetição.

Tem-se falado muito na continuação da obra do ilustre morto. Há uma única forma de honrá-la: fazer desaparecer dêste desventurado país a atmosfera que permite a realização de tam horrendos crimes. Sejamos, para dignificação do país e de todos nós, homens animados de sentimentos nobres e altruístas, inacessíveis aos baixos impulsos, dedicados exclusivamente à causa da pátria e da humanidade e, assim, merecedores da consideração geral!

Vozes: - Muito bem.