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Sessão de 16 de Março de 1922 7

Parece incrível como escapei uma enormidade desta natureza em diploma dêste género. Exclui os vinhos verdes e os vinhos Colares. Está muito bem, na ordem de ideas de quem elaborou o decreto.

Mas os vinhos do Douro? E da região demarcada?!

Por Deus! Haverá alguém neste pobre País que ignore serem os vinhos da região demarcada no Alto Douro os mais ricos vinhos de Portugal e, para boas autoridades, os melhores vinhos licorosos do mundo?

Êsses são então directamente potáveis, como vinhos higiénicos; não tem 11°, não podem sofrer desdobramentos?

Por Deus! Que êste senhor técnico, que seria o Ministro da Agricultura, e que como técnico foi apregoado na imprensa, ou não o era; ou estava a sonhar, ou estava, permita-me a frase, a caçoar com a viticultura.

Sem querer insistir, porque não desejo alongar-me, nem fatigar a atenção de S. Exa. o Ministro e da Câmara, creio que S. Exa. começará a estar edificado.

Mas há mais: O artigo 3.°, § 1.° não está com meias medidas. Classifica de autoridade de vinho desdobrado o que tiver menos de 11°. Não diz porquê.

Ignora vá então o Ministro que os vinhos podem, e higienicamente até devem, ter graduação inferior?

Ignorava que os vinhos de pasto, os vinhos de mesa de bastantes regiões do País, não são aguardentados e não atingem, mesmo nos anos bons ou normais, essa graduação?

Não sabe o Ministro, não sabem as estações técnicas, que, no dizer do decreto, foram ouvi das, que muito s vinhos podem ser excelentes, com graduação bem inferior?

Haverá alguém que ignore que a baixa graduação ligada à excelência de qualidade não é privilégio dos verdes e dos de Colares?

é Que os verdes têm 7° ou 8° e pouco mais de 8° o Colares genuíno, e que os vinhos de 10° abundam por êsse País fora e são excelentes em milhares de rincões do nosso abençoado torrão?

Condenar assim, com esta semcerimónia, os vinhos do Alto Douro a emparceirar-se, a aviltar-se, na promiscuidade odienta dos vinhos neutros e anónimos de taberna!

Como se revoltariam, se fossem vivos, o Barão de Forrester, o Barão da Rueda, o Visconde de Vila Maior, o Visconde de Vilar de Alen, que eu conheci no Pôrto, aí por 1883, quando a filoxera nos começou a assolar a Estremadura, e a quem António Batalha Reis, outro homem útil, chamou a chave do Douro, e que tanto orgulho tinham em afirmar que o vinho do Pôrto é rei entre os vinhos afamados?!

Do que tenho dito suponho que fique justificada a afirmação que diz respeito à base técnica e aos fundamentos higiénicos, que estão igualmente assentes.

E cito só por memória a imperfeição do critério, que manda fazer os ensaios por mãos inexperientes, com o ebulioscópio, hoje absolutamente condenado, quando se trate de análises rigorosas, de cuja exactidão dependem interêsses consideráveis e que, ainda recentemente, foi condenado oficialmente em França.

A respeito da base higiénica do projecto, parece-me que disse o suficiente para que o Sr. Ministro veja a razão com que eu falo. Base fiscal? Vejamos.

Os vinhos apareciam, em geral, à venda em Lisboa com uma fôrça alcoólica que em pouco excedia 10°, e creio que ainda hoje sucede o mesmo, apesar de supor que não tenha sido alterada a tabela de entrada das barreiras de Lisboa que era de 13° graus com tolerância dos décimos, na prática 13°,9, riqueza que tinha sido fixada para atender às conveniências de alguns lavradores do sul e, sobretudo do Alentejo, que ainda vivem na doce ilusão de que podem abalançar-se a competir em vinhos com o Alto Douro, esquecendo-se que esta região é privilegiada, inimitável e única no mundo.

Está, infelizmente, muito atreigada entre nós a idea falsa de que o vinho é tanto melhor quanto maior é a sua fôrça alcoólica e, apesar dos esfôrços para melhor orientação por que tein pugnado desde muitos anos os nossos melhores enólogos, ainda não se conseguiu modificar essa maneira de ver de muitos dos nossos produtores.

Bastam os nomes de António Augusto de Aguiar, químico, conferencista, parlamentar e estadista, a quem a viticultura e a vinificação tanto devem, o Visconde de Vila Maior, Ferreira Lapa e António