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Sessão de 29 de Janeiro de 1924

ríosa e o espírito nacional que presidiu e orientou a maior parte das suas obras, pondo na maior grandeza a obra de Camões, são apanágio que merece a nossa simpatia e a de todos os portugueses.

Ao trabalhador honesto, infatigável, que deixou uma grande obra, presto eu toda a nossa homenagem. E por isso. Sr. Presidente, que me associo ao voto de sentimento proposto por V. Ex.a e, como católico que sou, só peço a Deus que se amercie da sua alma.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. D. Tomás de Vilhena: —Sr. Presidente : em nome deste lado da Câmara associo-me ao voto de sentimento que V. Ex.a acaba de propor pela morte do Dr. Tcófilo Braga e, em meu nome pessoal, também mo associo comovidamente a esse voto de sentimento, e este «comovidamente», dito por mim, não é um destes advérbios que se costumam empregar duma maneira mais ou menos convencional; este «comovidamente» é sincero — e ó sincero porque eu durante mais de quarenta anos fui amigo pessoal de Teófilo Braga, amizade que durou ato ao fim.

Sempre que nos víamos nos festejava-mos como bons -amigos, porque eu fui seu discípulo e desde essa data ficámos com boas relações, apesar de nos mantermos sempre numa completa oposição, tanto sob o ponto de vista religioso, como político, literário ou filosófico. "

Teófilo Braga era livre pensador.

Eu toda a minha vida tenho sido católico.

Em política, Gle era republicano convicto e eu em toda a minha vida fui monárquico, mas monárquico conservador a valer.

Em princípios filosóficos, era discípulo de Augusto Comte, com cujos princípios eu estava também em completa divergência.

Ele ora naturalista e eu, embora não fosse romântico, também não podia aceitar o princípio naturalista.

Apesar desta divergência de ideas, vivemos sempre na melhor harmonia. E que ele era sempre um sincero, com certa grandeza de alma.

Podia, no campo dos princípios e ideas bater-nos e rijamente, mas isso não quero

dizer que não mantivesse aquela amizade e consideração que era devida.

Este homem, que era incontestavelmente um polígrafo completo, deixou uma obra importante.

Ele foi historiador, foi filósofo e foi conferencista, mas, incontestavelmente, o que reputo o seu maior grande serviço prestado às letras foi a sua História da Literatura Portuguesa, porque foi Gle o fundador dos estudos de história literária dentro daquela orientação que já vigorava na Alemanha, na Itália e na França, mas que estava longe de ser compreendida pelos nossos homens de letras.

Partindo emfeora desta doutrina, de que ele procurou servir-se para a formação da nossa história literária, mais uma vez se sentiu nele a.qualidade que lhe era inerente, a de revoltado, a de espírito sectário, como geralmente o têm os homens muito agarrados aos seus princípios.

Muitas vezes as conclusões a que ele chegou não teriam, por isso mesmo, aquela imparcialidade perfeita que bom seria que sempre houvesse. Mas devemos dizer que na história a imparcialidade é mais uma idealidade do que uma realização.

Sr. Presidente: incontestavelmente a perda deste homem é uma perda nacional; ele dotou a História e a literatura do seu País com trabalhos de altíssimo valor e veio fundar em bases seguras os processos scientíficos para a história da literatura em Portugal.

Com relação à sua acção política, ele combateu-nos rijamente no seu campo; fez-nos o mal que pôde e nós, por nossa parte, procuramos também combater essa Kepública que ele tanto amava.

O homem que tem crenças e crenças sinceras está agarrado à sua bandeira. Pondo acima 3e tudo o clesojo de realizar os seus ideais, cumpria um acto de nobreza ; ele cumpriu atacando-nos, nós cumprimos defendendo-nos.

Tenho dito.

O orador não reviu,