4 DE MARÇO DE 1965 1177
verificar-se em tempos mais recentes e concelho algum conseguiu atrair, no último decénio, mais gente do que a repelida de suas terras natais ou dos posteriores lugares de residência.
A população repelida da região somente nos últimos 40 anos bastaria para ter constituído, em sítio ermo, uma cidade 5 vezes mais populosa que Coimbra, 14 a 15 vezes mais que Viseu ou Aveiro, 26 vezes a Guarda ou 32 vezes Leiria.
Não parece, portanto, demasiado pedir um plano de desenvolvimento da região do Mondego ou, melhor, um plano de auxílio a uma região deprimida, que, tudo indica, sem impulso exterior continuará constituindo um dos nossos mais graves problemas regionais e, como reflexo, um problema nacional.
E, no entanto, a região do Mondego contém em si reservas magníficas de recursos humanos e naturais, que apenas aguardam ideias inovadoras que vençam as barreiras de penosos factores de inércia O rio, desde sempre abandonado, bem pode ser a força criadora de actividades que estanquem o êxodo da sua gente e limitem a fuga dos capitais
II
Exame na especialidade
17. O plano geral empenha-se em estudar com a devida profundidade duas barragens no curso médio do Mondego, mas apenas enumera as possibilidades existentes no curso superior ou nas cabeceiras da bacia hidrográfica. Julga-se que, nestas condições, os documentos apresentados correspondem a uma visão incompleta de toda a bacia do Mondego ou, pelo menos, destituída do necessário equilíbrio quanto ao estudo da totalidade dos problemas em causa. De qualquer modo, não deixa de constituir preocupação o facto de se ter decidido isolar o aproveitamento do curso superior, mantendo-se, em relação a parte da bacia hidrográfica, um apontamento de alternativas ainda não suficientemente estudadas
Não custa a aceitar a influência decisiva que as obras previstas como 1.ª fase, no curso médio do Mondego, terão no domínio das cheias e na criação de regadios. Mas, se em relação ao curso superior persistem aspectos pouco esclarecidos, a Câmara Corporativa não pode deixar de se aperceber da existência também de alternativas, mesmo no aproveitamento do curso médio do rio.
Na verdade, o plano geral e o parecer do Conselho Superior de Obras Públicas vieram revelar que a construção da barragem da Aguieira, a jusante da foz do Dão, constitui alternativa de construção de duas barragens a montante da mesma foz, uma no Mondego e outra no Dão (Caneiro-Dão)
Embora se possa situar este problema no domínio da técnica e da economia, a Câmara Corporativa sente a existência de outras realidades. Sabe-se, por experiência mundial, que a escolha do local de implantação de uma barragem resvala muito facilmente para outros domínios, pelo jogo de sentimentos vários logo desencadeados. Não admira, portanto, que a simples divulgação de hipóteses alternativas, aliada & perspectiva de destruição de valores públicos e privados (estradas, pontes, edifícios e terrenos), tenham alertado, como sempre, a sensibilidade dos povos, determinando um movimento por sua natureza extremamente difuso, mas real do ponto de vista sociológico.
Não é difícil tomar consciência de que o problema agora não é somente técnico, nem estritamente económico, nem sequer especificamente político - no âmbito dos interesses ou aspirações regionais, nem sentimental apenas, mas é tudo isto è talvez mais, constituindo um problema que exige opção equilibrada e urgente, de forma a não se correr o risco de protelar de novo o aproveitamento hidráulico da bacia do Mondego.
Se não existem condicionalismos técnicos e económicos indiscutíveis em qualquer das alternativas e se há valores a defender ou aspirações regionais já formuladas a atender, só um critério global pode informar a melhor decisão
De qualquer modo os problemas da opção quanto as barragens da Aguieira ou do Caneiro-Dão vão ser certamente considerados pelo Conselho de Ministros quando tomar posição sobre o plano, de forma a escolher a melhor solução.
18. Pela importância do investimento que. envolva e por respeitar a infra-estruturas indispensáveis, ao desenvolvimento regional, o aproveitamento hidráulico da bacia do Mondego merecia, e merece, um tratamento metodológico mais cuidado, com vista à exteriorização do efeito rendimento que, por certo, desencadeará.
Como condição de salvaguarda de uma indispensável eficácia social e tendo em conta que em relação ao empreendimento se pode considerar, sem dificuldade, uma multiplicidade de fins, importará que se elaborem, em tempo oportuno, estudos que permitam não só fixar, em termos quantitativos, um verdadeiro balanço global «benefícios-custos», bem como investigar se acaso, existem soluções alternativas de execução parcial, cujo ordenamento origine um custo final menos elevado ou um benefício mais amplo.
A Câmara, ao sugerir esta maneira de orientar eventualmente novos estudos, não pretende aconselhar a construção de um quadro analítico em função do qual se possa agora, tardiamente, discutir a prioridade do projecto (aproveitamento hidráulico da bacia do Mondego) em confronto com outros projectos que incidem no desenvolvimento regional de outras áreas. Está largamente convencida da feição prioritária deste plano, que o estudo económico apresentado, com todas as suas limitações, comprova largamente. A breve análise a que anteriormente se procedeu demonstra que a região do Mondego assume a feição de espaço crítico ou diminuído, o que aconselha o arranque das primeiras obras já planeadas com segurança suficiente.
No entanto, parece essencial que se afinem desde já as técnicas de análise dos projectos subsequentes, procurando um esquema de execução que alcance a «sequência óptima» e, portanto, a concretização do «benefício» máximo, com o «custo» mínimo
Assim, definido, a partir de estudos cuja índole genérica apontamos, um quadro de racionalidade em função do qual os projectos sejam concebidos e executados, mais fácil será programar as medidas que visem o aproveitamento integral da implantação de uma infra-estrutura de rega e de produção de energia, tendo em conta a sua capacidade suscitadora de novas actividades agrícolas e extra-agrícolas.
Na verdade, se no âmbito da agricultura regional é possível prever transformações do tipo das que ficaram enunciadas no plano, com profundas alterações da técnica produtiva, igualmente no sector secundário se poderá considerar as linhas principais de um movimento de industrialização dependente da agricultura, tanto pelo lado da utilização de matérias-primas agrícolas, como também pelo uso que esta deve fazer de meios de produção provindos da indústria, e, da mesma forma, será de admitir o florescimento de actividades novas no sector dos serviços. Ainda, como consequência de tudo isto,