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26 DE NOVEMBRO DE 1943 5

Mas, Sr. Presidente, o que me fez pedir a palavra foi ter um apontamento pessoal sôbre o carácter, sôbre o feitio generoso e alevantado dêsse grande homem.
Apesar das críticas que aqui lhe fiz, encontrei sempre em S. Ex.ª a mesma amabilidade e o mesmo acolhimento generoso. Nunca o Sr. engenheiro Duarte Pacheco me mostrou o mais pequeno desagrado, como seria porventura legítimo e até tam português.
S. Ex.ª foi sempre para comigo de uma gentileza extraordinária e até excessivamente amável naquilo que dizia respeito aos assuntos do concelho a cuja Câmara Municipal presido.
Tive, então, ocasião de ver, Sr. Presidente, como êsse homem era verdadeiramente o homem no seu lugar. Embora rodeado de excelentes colaboradores, o pensamento era dêle, a orientação era dêle; êle sabia tudo o que queria e como queria, e, por assim dizer, o traçado principal era dêle. E sempre se acabava por reconhecer que S. Ex.ª tinha razão e tinha um extraordinário gôsto em tudo aquilo que projectava e realizava.
Dum homem assim, Sr. Presidente, não pode deixar de se lamentar a perda. Na verdade, a sua falta há-de ser brevemente reconhecida, porque será muito difícil igualar as suas excepcionalíssimas qualidades de trabalho, de iniciativa e de resistência, porque era verdadeiramente um infatigável trabalhador.
Quando um dia se levantar a êsse homem o monumento que êle merece, êsse monumento será apenas o reflexo da nossa gratidão; não será para lembrar a sua existência, porque o verdadeiro monumento o erigiu êle a si próprio desde o norte ao sul de Portugal em todas as obras, em todas as grandes realizações verdadeiramente belas e grandiosas que êle executou.
Ainda há dois dias tive ocasião de visitar a nova estação marítima e fiquei maravilhado com aquilo que vi. Mesmo no estrangeiro nada vi tam bem delineado, tam grandioso, tam completo. De facto, todas as obras de Duarte Pacheco tiveram sempre como cunho o desejo de construir perfeitamente.
Ouço dizer, Sr. Presidente, que S. Ex.ª morreu pobre: ouço dizer que o engenheiro que o acompanhava e foi vítima do mesmo desastre faz falta a numerosa família. É impossível que o Estado não reconheça os serviços prestados por aqueles que o serviram tam devotadamente e tenho a convicção de que o Govêrno procurará, na medida do possível, que é só na parte material, reparar esta falta para com suas famílias. A Assemblea Nacional teria orgulho e compungida satisfação em votar qualquer medida que trouxesse publico reconhecimento dos altíssimos merecimentos do S. Ex.ªs

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente:-Tem a palavra o Sr. Quirino Mealha.

O Sr. Quirino Mealha: -Sr. Presidente: em todas as terras do País, casais ou montes, lugarejos ou aldeias, vilas ou cidades, chora-se com lágrimas bem sentidas de profunda gratidão a perda trágica de Duarte Pacheco!
De entre aquelas uma sobressai na sua dor, a que lhe foi berço e à qual me orgulho de pertencer, porque as suas lágrimas são também de eterna saüdade, tanto mais viva e amargurada quanto mais próximo dos lugares predilectos da sua juventude elas se derramam.
Neste momento de emoção, investido na elevada honra de seu conterrâneo, pretendo transmitir humildemente a esta Assemblea êsse terrível e sublime sentimento que é a saüdade, pela crueldade e doçura que simultâneamente encerra, para que, integrando todos os sentimentos nacionais, a homenagem seja mais viva, se é que é possível, e mais perfeita na sua sensibilidade, pela refracção do calor animador que nos dá a imagem dêsse homem colocada no meio que o viu nascer.
Pode dizer-se que nasceu em todas as terras de Portugal, pelo aparecimento do seu impulso dinâmico em aurora resplandecente de progresso e renovação, mas só uma pode reivindicar para si a germinação do seu espírito e a escola inicial que fomentou a luz que o abrilhantou. Essa é Loulé -Laurus est-, nobre, notável e laboriosa vila, onde entre as suas muralhas, cuja existência é conhecida desde o século VIII, se alberga um povo sonhador, aventureiro, artista, activo e lutador. A sua linguagem rápida traduz plenamente a velocidade acelerada dos seus movimentos numa ânsia de engrandecimento.
Estas virtudes são bem a expressão do seu horizonte, que de um lado dá-nos a visão do infinito pela imensidade do Oceano a incitar miragens maravilhosas do desconhecido, e do outro precipita-nos na serra altiva a provocar meditação com o mistério da grandiosidade da sua sombra e em que a natureza na época da sua nudeza sorri pelo desabrochar das lindas flores das amendoeiras.
Qual foi a extensão ou profundidade do reflexo destas qualidades agitadas em ambiente de tam rara magnitude no temperamento de Duarte Pacheco? Não o sabemos, mas o que podemos afirmar seguramente é que toda a sua vida de estudante, professor e homem público atingiu o expoente máximo dessa potencialidade que, ligada a uma invulgar inteligência e integridade rígida e absoluta de carácter, lhe deu figura nacional.
O seu espírito puramente patriótico acordou a Nação, adormecida nas suas energias criadoras, e conduziu-o a um sonho de perspectiva de grandeza que jamais parara na sua febril e tenaz execução. No gôsto fervoroso pela matemática, em que sempre se distinguiu, encontrou um dos mais belos tesouros humanos, que é o número a excitar-lhe a imaginação de construtor do ressurgimento nacional.
A sua acção encadeou-se na afirmação do nosso passado, restaurando velhas e históricas muralhas, castelos e igrejas e levantando apoteòticamente em facho de radiosa luz a Exposição dos Centenários. Encarnou ainda o presente pela onda de progresso que fez nascer, enriquecendo o nosso património com fontes, caminhos vicinais, estradas, portos, aeródromo, aeroporto, barragens, electrificação, edifícios públicos magníficos, monumentos deslumbrantes, higienização e urbanização das aldeias, vilas e cidades, melhoramento dos transportes e das comunicações telegráficas, telefónicas e postais, emissora, estádio e casas económicas. Emfim, uma obra material imensa com recheio espiritual, de gigantescas proporções para a nossa valorização, que se projectará no futuro pela inspiração do ideal que a anima da nossa continuïdade histórica e pela esperança que difunde o escol de técnicos e artistas seus colaboradores.
Tudo se realizou num ritmo do mais veloz dinamismo, em obediência a uma vontade inflexível, sob a ambição insaciável de recuperar, em tarefa árdua e rápida, o atraso e inércia em que nos encontrávamos.
O seu espírito e a sua acção são fruto do seu génio, que deu realidade monumental ao pensamento da Revolução na mais segura confiança do seu Chefe.
Continuar a sua obra é o maior dever que se nos impõe como consagração nacional da sua imortalidade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Albino dos Reis.

O Sr. Albino dos Reis: - Sr. Presidente: farei breve uso da palavra, apenas para me associar à memória do