1024 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 108
para apresentar a S. Ex.ª o Sr. Presidente da República as saudações e cumprimentos da Assembleia.
O Sr. Deputado Sousa da Câmara pronunciou o seguinte discurso:
Foi-me confiada a honrosa missão de saudar V. Ex.ª em nome da Assembleia Nacional. Ao formular os votos mais sinceros para que o período presidencial que ora se inicia seja afortunado, decorra em ambiente de paz e bem-estar, para que o nome de V. Ex.ª fique perpetuamente ligado a uma era de contínua prosperidade, dirijo as nossas efusivas saudações à Nação com o desejo ardente de que jamais pare a marcha ascensional do País em grandeza e prestígio.
Cumpro este dever com profunda alegria, alegria que não será só desta Assembleia mas de Portugal inteiro, de aquém e além-mar.
Enchemo-nos de júbilo sabendo que o f adio sagrado da chefia da Nação, que durante um quarto de século esteve à boa guarda do saudoso marechal Carmona, foi já confiado ao seu digno sucessor.
Esse regozijo deve transparecer da sessão, apesar da sua solenidade. Decerto palpitará nela, com o sentimento patriótico, a satisfação das poderosas certezas adquiridas -determinante de empresas maiores-, o incentivo permanente das grandes esperanças, em suma, a confiança que vence inércias e dificuldades, que arrasa obstáculos, que sempre aparece à clara luz do Sol, dominadora e triunfante.
Hás outro sentimento palpita ainda, sentimento tão forte que o vejo reflectido nos semblantes, dando-lhes uma uniformidade de expressão impressionante. Esse sentimento é a saudade.
E creio que com o significado destas duas palavras - saudade e confiança- podemos ter uma visão exacta do momento histórico que vivemos.
Saudade resultante da perda enorme que o País sofreu. As lágrimas vertidas são tão recentes que as recordações parecem imagens actuais. Quase se diria que esta saudade nos faz sentir a presença do marechal Carmona, que nos acompanha, que nos contempla com o seu sorriso bom, aquele ar de simplicidade que conquistava os corações, aquela fidalga cortesia para todos, dos mais humildes aos mais categorizados, com a irradiação de simpatia que inspirava aos Portugueses a maior veneração e reconhecida ternura.
Vozes: - Muito bem, muito bem !
O Orador: - Saudade é a palavra que tem de dizer-se primeiro. Mas logo há-de proclamar-se a segunda - confiança. E foi por haver confiança que, a despeito do golpe, do profundo desgosto que se experimentou, do luto que cobriu Portugal, o povo não se entregou ao desespero, quando soube que o marechal Carmona, que considerava como a bondade personificada, desaparecera. É que sabia que continuava no seu posto o timoneiro da barca nacional, esse homem que salvara o País da ruína, que o organizara, que lhe dera unia nova energia e um novo potencial produtivo, que lhe elevara a confiança em si próprio, que, por rasgos de génio, trabalho e dedicação ilimitada, com sacrifício pessoal total, conseguira essa metamorfose esplêndida de converter o nosso Portugal, à beira da bancarrota, da miséria ou do descalabro, numa nação de nome receitado no Mundo, vivendo tranquilamente no meio das inquietações gerais.
Vozes: - Muita bem, muito bem!
O Orador: - O povo, o bom povo português não se inquietou extremamente com o problema da sucessão.
Há muito que verificara que as boas soluções, mesmo para as questões mais delicadas, sempre apareciam por simples indicação do Chefe do Governo. Por muito que se discutisse, por muita agitação que se estabelecesse, no fundo as preocupações não seriam muitas, pois confiadamente se contava que no momento próprio a resolução lógica lá apareceria, equilibrada, sólida, eficaz.
Mas fizeram-se eleições: e foi eleito o general Craveiro Lopes. Nós, os da Assembleia Nacional, que já tínhamos a honra de conhecer S. Exa., que admirávamos a sua magnífica folha de serviços, que nos orgulhávamos de o ver nestas bancadas, emprestando o brilho da sua inteligência e saber aos problemas que se punham, rejubilámos! Lá fora, por todo o País, por tola a terra portuguesa, desde o Minho até Timor, em toda a parte onde se respiram ares de Portugal, tenho a convicção de que a satisfação é a mesma.
A confiança, essa palavra de ressonância profunda, de significado transcendente e de projecção decisiva nos actos dos governos, essa confiança cobrirá a Pátria inteira, ecoará por toda a parte, voará de terra em tem. como se repicassem festivos os sinos anunciando em suas vozes de bronze que Portugal tem um novo Presidente, e que esse Presidente é um soldado, com as virtudes estóicas que a profissão das armas exige e que a Nação reclama.
Na mensagem que S. Ex.ª dirigiu ao País proferiu as palavras singelas, dessas que o povo aprecia e compreende, palavras de cuja sinceridade ninguém poderá duvidar:
Ciente dos deveres que a lei orgânica impõe ao Chefe do Estado, consciente das dificuldades ou perigos que o destino nos pode reservar, empenhado em promover a união e solidariedade na grande família que todos constituímos, terei sempre bem presente que à estabilidade e à continuidade na governação deste país durante um quarto de século se deve a paz e o relativo bem-estar em que vivem os Portugueses.
Estabilidade e continuidade - eis as duas palavras mestras da nossa renovação, que, articuladas juntas, significam confiança. É que sabemos bem que foi justamente a essa constância de governo, a essa estabilidade de um quarto de século, mantendo a continuidade sem desfalecimentos, que, em grande parte, podemos atribuir o êxito incontestável do caso político português.
Continuidade significa persistência e esta quer dizer luta tenaz de todos os instantes, que requer coragem e máximo espírito de sacrifício.
Ninguém ignora que a persistência consegue obras portentosas, tão magníficas que se chega a duvidar possam ser realizadas com as forças humanas.
Parece que a natureza, em inúmeros casos, triunfando dos obstáculos, fazendo em suas realizações como que o elogio dos efeitos prodigiosos da tenacidade, incita o homem a copiá-la...
A natureza mostra-nos em suas obras os efeitos prodigiosos da continuidade. Em tudo se pode admirar a acção poderosa, as obras ciclópicas de que é capaz a tenaz perseverança.
Quando admiramos uma floresta povoando uma duna, fixando-a, defendendo os campos vizinhos das invasões insidiosas das areias, se reconhecermos o encanto das árvores, crescendo altivas como gritos triunfantes, fustes limpos e belos, como colunas de catedral augusta, quando nos maravilhamos perante tanta beleza e majestade, fazemos justamente o elogio da valorosa persistência.
Dizem-no junto ao mar essas árvores martirizadas, contorcidas, mutiladas, atormentadas pela força do tem-