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10 DE AGOSTO DE 1951 1025

poral - verdadeira geração do resgate-, as primeiras que juntaram esforços para vencer o inimigo, para que ao seu abrigo fossem surgindo as novas gerações, repetindo através dos séculos a mesma obra de tenacidade inquebrantável.
Quando o vento sussurra aias ramadas parece que são as vozes das próprias árvores a segredarem-nos: «Olhai que foi assim pela força da perseverança que protegemos terras e riquezas, assegurando o pão de muitos; vede que podeis erguer a vossa obra, por mais difícil ou arriscada que se apresente, se nos seguirdes o exemplo, procedendo com persistente continuidade».
Continuidade, eis a grande lição. Continuidade, eis a palavra que nos é proclamada por todas as obras que são grandes, quê merecem as atenções dos homens e que são dignas de passar à posteridade.
Bem haja, pois, Sr. General Craveiro Lopes, por logo na sua mensagem nos assegurar, com a sua honrada palavra de soldado, que a sua política se norteará
pela estabilidade e continuidade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Portugal, depois de um breve momento de inquietação, volta a respirar fundo. A atmosfera é de confiança, de franco optimismo. Depois que o glorioso Exército fez o 28 de Maio, depois do quarto de século que se viveu, fecundo de realizações, em que o regime se fortificou e, mais do que isso, se assistiu a um aperfeiçoamento moral inegável - pedra angular de toda a revolução construtiva que perdure - abre-se agora novo período, uma nova era para o Governo, com um novo Presidente, que, pelas suas qualidades, pela sua vida irrepreensível, pelos serviços prestados, pelo espírito de sacrifício que evidenciou em múltiplas situações, mostrando a mais alta compreensão do interesse público e das necessidades da Nação, inspira absoluta confiança aos Portugueses.
Em Portugal acredita-se na força de hereditariedade: «Tem a quem sair» é expressão que brota espontânea das massas populares, nascida da observação muitas vezes secular e repetidamente comprovada.
Pois o Sr. Presidente da República, que se pode orgulhar do valor da sua família, onde se encontram tantos tantos militares do mais alto relevo, há-de ter sentido o que a sita personalidade não podia ser outra senão a que lhe apontavam as carreiras brilhantíssimas dos seus maiores, nessas vidas corajosas de soldados, servindo na Europa e no ultramar, consagrados inteiramente à Pátria.
Será, por isso, seguramente, o Chefe nobre, leal e valente, tal como seu pai, um desses combatentes da Flandres, de La Lys, que com os seus fiéis oficiais e soldados, os «serranos», os «Antónios» - como então se chamavam, nessa primeira grande guerra, os que compunham a heróica «malta das trincheiras» - defendeu porfiadamente o seu sector, nessa manhã triste de 9 de Abril, quando sobre ele desabava a força imensa do inimigo, munia superioridade numérica esmagadora, quando a metralha varria a planície desolada, num vendaval de desgraça e morte.
Sim, o general Craveiro Lopes tem a quem sair! Nem essas medalhas que lhe cobrem o peito têm outro significado. E o povo, que sabe apreciar os valores, há-de querer-lhe como quis ao marechal Carmona! Portugal irá viver outro período fecundo da sua vida, iniciando agora um segundo capítulo da História da Revolução Nacional!
O nosso povo partilhará desta mesma confiança. Tenho fé em Deus que o provará exuberantemente.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Quando me refiro ao povo penso talvez mais nesse povo genuíno, nessa gente tão boa, tão simples, tão humilde, que possui verdadeiros tesouros de qualidade e de resistência.
Um povo como o português merece tudo, justifica todos os sacrifícios dos seus dirigentes. Um povo que mesmo sem educação cristã - que chegou a faltar-lhe por completo - continuava em grande parte a respeitar os valores morais, que, embora analfabeto -como o deixava, indiferente, o escol que o dirigia - revelava por vezes um fundo assombroso de cultura secular, que, a despeito da escassez dos bons exemplos, prossegue honesto, digno, trabalhador e generoso, um povo que se mostra dócil sem subserviência, forte sem crueldade, corajoso sem jactância, económico sem sordidez, um povo como este, bom e de poderosa vitalidade, merece todas as atenções, todos os esforços, todos os trabalhos para que possa viver em paz e felicidade, como Deus manda, com suas famílias, educando seus filhos, fazendo deles, em físico e em moral, a gente sólida de amanhã.
Esse é o povo que engrossa as fileiras milhares, o povo que esteve em toda a parte, através da nossa história, onde foi preciso defender a nacionalidade ou trazer novos mundos ao Mundo.
Quando marcha de baionetas erguidas ao Céu, com as faces vincadas sob os capacetes de aço, olhando bem em frente, respirando decisão, cônscio da sua força e do valor da sua disciplina, sabendo que pode ser necessário à defesa da Pátria, tem-se a visão clara de que foi daquela mesma massa que saiu a matéria-prima para sermos o que fomos, quando éramos grandes.
Esse é o povo que vai para o mar, como os marinheiros da nossa gloriosa Armada, os quais, onde se apresentam, são sempre as figuras galhardas da marinha portuguesa, cheios de nobreza e raça. Esse é o povo de onde saem os nossos pescadores, que se entregam à árdua e arriscada labuta de disputar ao mar as suas riquezas. Esse é o povo que anima as fábricas e as minas com o seu labor, onde evidencia rara aptidão para todos os misteres que requeiram habilidade e inteligência. Esse é o povo que se entrega ao pequeno comércio, aos empregos de escritório e toda essa multidão de pequenos funcionários, que diligentemente procura cumprir a sua função na sociedade. E, finalmente, refiro-me a ele agora, pois queria dedicar-lhe lugar de destaque - o povo agrícola, a verdadeira seiva de Portugal, o alfobre de gente sadia, a autêntica forja de raça, o alicerce da nacionalidade, o povo que mais espontaneamente trabalha, luta e sofre pela conservação dos valores tradicionais, esse povo, enfim, que tem a resistência e a duração de uma rocha de granito e jamais uma consistência do barro plástico.
Pois esse povo, que anima os campos benditos de Portugal, que sulca os mares com seus barcos, que labora nas colmeias fabris e urbanas, entregando-se às suas múltiplas actividades, que compreende claramente as vantagens da estabilidade dos Governos, assegurando a continuidade da obra que mais pronta e facilmente poderá dar satisfação às suas aspirações legítimas, à sua elevação social, manifestará eloquentemente a sua confiança, mostrando ser sempre o grande e fiel colaborador dos homens de Estado, trabalhando pelo engrandecimento da Nação.
Ao pronunciar estas palavras, sinto que já não é só a a minha voz obscura que se ergue desta tribuna. Com ela estão as vozes de milhões de portugueses a afirmarem, num conjunto impressionante, a sua confiança, declarando-a com uma fórmula simples - esse brado entusiástico e vibrante que em todos os tempos foi testemunho ardente do amor pátrio: viva Portugal!