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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 53 4

E temos de agradecer à Providência Divina, o não ter sido muito mais elevado o número de vidas sacrificadas entre tantas devastações produzidas. Favor verdadeiro do Céu, que a todos profundamente emocionou !

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Apressou-se o Governo, pelas pessoas ilustres dos Srs. Ministro das Obras Públicas e Subsecretário de Estado da Assistência, a levar àquela boa gente, em hora de tanta dor e de justificadas apreensões, a certeza da sua reconfortante presença e, com ela, os melhores motivos de confiança no Estado, que, consciente da sua grave função, acudiu àquela enorme desventura com surpreendente prontidão e generosidade.
E tão rápida foi a assistência do Estado que nem tempo houve para formular pedidos. Que eu, Sr. Presidente, não sei se aquela boa gente tem algum jeito de pedir ...
Sabe o Governo, sabem todos que a gente da Beira é talvez, entre a gente portuguesa, como algures já tive oportunidade de afirmar, a que conhece menos bem os caminhos de Lisboa e muito menos ainda as escadarias do Terreiro do Paço.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Porque não tem precisões? Porque lhe falece a confiança?
Simplesmente porque a generosidade do seu coração prefere servir a servir-se, prefere dar a receber, e porque o seu carácter, forte como o granito das suas montanhas, aprendeu a trabalhar, a sofrer, a reagir, a lutar, sempre na certeza de vencer. E só quando as dificuldades se lhe tornam invencíveis é que o Beirão se decide a vir até Lisboa e a subir aos gabinetes ministeriais.
Na cruciante emergência que houve de se viver nem os pobres souberam pedir.
Foram os ilustres membros do Governo que, medindo toda a extensão da horrível catástrofe, espontânea e pressurosamente acorreram ao encontro das mais graves necessidades que de todos os lados impressionantemente surgiam - o Sr. Subsecretário de Estado da Assistência, trasbordando cristianíssima solicitude, a mandar distribuir prontamente agasalhos e subsídios que protegessem os pobres sinistrados contra as torturas da fome e do frio, e o Sr. Ministro das Obras Públicas, em rasgo de decidida generosidade, a determinar que se promova sem demora a construção de novas moradias para as pobres famílias que a espantosa tragédia impiedosamente deixara sem abrigo.
Edificante e soberanamente consolador tudo isto, Sr. Presidente.
Quão distantes vão já os tempos em que os Poderes Públicos olhavam com estranha indiferença a sorte dos que tinham de suportar todo o peso dos grandes e duros reveses da vida. Hoje, graças a Deus, tudo mudou. O Governo da Nação é verdadeiramente da Nação, está com a Nação, vive exclusivamente para a Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E ainda haverá quem teime um fechar os olhos à vida nova que, de há tempos a esta parte, normalmente se vive em terras de Portugal?
Aos ilustres membros do Governo que pressurosamente ali acorreram em jornada linda de caridade e ao Sr. Ministro da Defesa, chefe ilustre da família militar, que ali se deslocou também em generosa preocupação de assegurar a todos o seu melhor e mais vivo interesse, eu quero disser aqui, em nome da cidade martirizada, o mais profundo e sentido agradecimento pelo amparo valioso que àquela boa gente souberam prodigalizar em jeito de doação do próprio coração.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Justo é deixar também aqui uma palavra de louvor e reconhecimento às ilustres autoridades do Castelo Branco, que, com o seu distinto e dedicadíssimo governador civil à frente, a todos deram o mais impressionante exemplo de serena decisão, de sacrifício generosíssimo e de superior confiança.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Merecem igualmente ser lembrados aqui, em louvor e agradecimento, os preciosos serviços médicos e de enfermagem prestados com incomparável e humana solicitude; o distinto corpo docente do Liceu, com o seu ilustre reitor, que amargamente teve de viver momentos de indizível dor e ansiedade ao ver tragicamente ferida a sua família escolar, que é todo o cuidado do seu coração; os briosos comandantes militares e seus distintos oficiais - heróis de sempre; os beneméritos bombeiros voluntários, que a todos os perigos e canseiras abnegadamente se entregaram; a zelosíssima delegação do Instituto de Assistência à Família, cuja actividade foi verdadeiramente modelar; as dedicadas assistentes sociais, que, sob a inteligente e cristianíssima direcção da nossa ilustre colega Sr.ª D. Maria Leonor Correia Botelho, foram simplesmente admiráveis na obra linda que sacrificadamente souberam realizar . . .

Vozes: - Muito bem!

U Orador: - . . . os serviços de urbanização, sob a hábil e vigorosa orientação do seu distinto director, e tantos, e tantos que nessa hora de amarga desventura de si quiseram esquecer-se, para só cuidarem dos que mais sofriam.
Benditos quantos heròicamente se houveram em tão tormentosa conjuntura.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: não foram, porém, só os pobres os grandes sacrificados na tremenda catástrofe. Os não pobres tiveram nesta grande tragédia o maior e mais pesado quinhão, e tão extensamente que impossível é calcular a quanto sobem os prejuízos sofridos, tanto em edifícios e móveis como em prédios rústicos, onde as devastações foram simplesmente espantosas e desoladoras.
E que espécie de auxilio solicitaram do Estado estes sacrificados proprietários? Subsídios? Comparticipações?
Isto apenas: rápida concessão de empréstimos a juro módico àqueles que, por si e de momento, não tenham possibilidade de suportar o peso das despesas com a reconstrução e reparação dos prédios urbanos e rústicos gravemente devastados, empréstimos que eles liquidarão pontual e honradamente.
E assim, Sr. Presidente, a nossa gente, a admirável gente da nossa Beira! Nenhuma outra a vence em espírito de generosidade e de sacrifício!
A esta atitude de confiante imolação não pode o Governo deixar de corresponder com carinhosa solicitude. E tudo merece a boa gente da Beira.
Como já um dia tive oportunidade de dizer, aquele rincão abençoado é, e foi sempre, forte c seguro baluarte da ordem. A sua dedicação ao bem comum dis-