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524 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 79

Kopke, Sundeman e as Companhias Velha, Real Vinícola e Sociedade dos Vinhos do Alto Corgo - sete unidades -, verifica-se a existência de cerca de setenta e cinco qualidades expressas em tipos s marcas. Se considerarmos ainda o grau de doçura e a cor, mais se alarga a variedade.
Um outro aspecto quereríamos ainda focar: o da saída dos nossos vinhos para o ultramar, aspecto que igualmente interessa a todas as nossas regiões vitivinícolas.
Além dos já anunciados e outros, dois motivos fundamentais se verificam em detrimento da nossa exportação para as províncias ultramarinas: um de técnica de envasilhamento; outro de melhor aceitação do produto dos nossos meios de além-mar.
O vasilhame utilizado (mormente barris e garrafões) agrava consideravelmente os preços de origem.
Em contacto que de há muito tenho mantido com os nossos meios ultramarinos, contacto por vezes directo, tem-me sido dado observar que existem por lá verdadeiros «cemitérios» de garrafões, porque o seu preço de aquisição não compensa o pagamento do frete de retorno ao continente.
Impõe-se urgentemente dotar os nossos barcos de transporte e mistos com tanques apropriados ao acondicionamento e transporte dos nossos vinhos. Assim se barateará o acomodamento e, consequentemente, o transporte.
Quanto à aceitação, por parte das nossas populações ultramarinas, sobretudo africanas, é indispensável que se pense a sério na concorrência que ao vinho está fazendo a cerveja.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ela não constitui somente um produto preferido fora das refeições, mas entrou até já no domínio generalizado dos repastos.
Gostos? Talvez em parte. Mas também, sem dúvida, melhor acessibilidade de preços.
É necessário e indispensável corrigir com medidas adequadas o prejudicial desequilíbrio que coloca os vinhos num plano de manifesta inferioridade perante a invasão constante da cerveja.
Eis uma das razões da dianteira que tomaram os vermutes, os sherries, o xerez, os conhaques e o whisky, limitados a poucos tipos.
Ao vinho do Porto impunha-se o mesmo caminho, criando dois tipos fundamentais que pudessem conquistar o mercado.
Um tipo seco, de sabor levemente amargo, a usar como aperitivo; um tipo forte, que pudesse usar-se com o mesmo fim daquelas bebidas mais fortes.
O porto terá de deixar de ser a bebida dos ricos e dos opulentos, para se tornar acessível, no gosto e no preço, à generalidade dos que bebem.
Julgamos que isto é essencial para se poder conquistar os mercados nacional e estrangeiros.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se olharmos a fraca exportação actual e dos últimos anos, veremos como estamos distanciados de outras épocas passadas, em que, segundo os dados colhidos pelo engenheiro Lobo Alves, atingimos números muito mais altos.
Assim, e só a título de exemplo bem esclarecedor, no fim do século XVIII, em 1799, conta-se por 98 742 o número de pipas exportadas; no meado do século XIX, em 1852, 71 729 pipas, baixando nos últimos anos do século, mas andando mesmo assim à volta das 50 000 pipas; no quinquénio de 1936 a 1940 obteve-se uma média anual de 73 000 pipas.
Assiste-se, é certo, nas época? atrás referidas, a crises de abaixamento, cujas razões são diversas, mas de que não pretendo neste momento tratar. O certo, porém, é que a crise iniciada em 1911, ano em que apenas se exportaram 16 510 pipas, crise que, embora atacada, e por esse motivo atenuada, se mantém, reclama enérgicas e decisivas medidas que a detenham, obstando a ruína do Douro e a um grave golpe que, inevitavelmente, virá a sofrer a economia nacional, com os consequentes reflexos no aspecto da vida económica e social das populações que ali vivem e trabalham.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: não quero alargar-me em considerações, mas não devo deixar de apontar algumas razões e factos demonstrativos da minha anterior asserção de que a legislação e a regulamentação desta matéria não podem ser uniformes, precisamente porque, repito, não há nem pode haver uniformidade de plantio, de cultura, de custo de produção, de qualidade, de consumo, de exportação e de preço.
Foi decerto a um critério de diferenciação que obedeceu a política de João Franco quanto ao Douro, quer com a demarcação da região duriense, quer com o restabelecimento da restrição da barra do Porto para a exportação do vinho do mesmo nome e outras medidas derivadas destas.
Repare-se apenas rapidamente no que se passa quanto ao plantio. Em 141 000 milheiros de cepas - tal o número aproximado da região duriense - 131 000 milheiros são de plantação de encosta e dos restantes não chega a 1000 milheiros o de vinhas plantadas em terrenos de aluvião. Os outros 18 000 e tal milheiros- são em terrenos planos de 2.ª e 3.ª classes. Que outras regiões do País poderão equiparar-se-lhe neste aspecto?
Sendo assim, será justo e equitativo que os preceitos sobre suspensão ou proibição de plantio sejam os mesmos?
Não estarão também, quanto à qualidade e ao preço, as vinhas do Douro em situação bem diferente das que existem nas outras zonas do País?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Se nos detivermos tunda sobre o aumento de plantações nos últimos dez anos, verificaremos que no Douro houve um aumento de cerca de 12 300 000 pés, o que é limitadíssimo em relação à totalidade do aumento de plantio no Pais durante esses anos.
Assim, como refere um especialista da matéria, o Sr. Major Guerra Tenreira, que muito tem escrito sobre o problema, «com a proibição ou simples suspensão, agravaremos um mal de que verdadeiramente podemos queixar-nos -o de haver vinhas de mais, não a torto e a direito, mas nas várzeas e terrenos férteis -, pois a economia de tal proibição vai contra as vinhas das encostas - que morrem mais depressa - e favorece relativamente as vinhas do várzea -, que morrem mais devagar e podem ... num morrer ... E desde logo saltará aos olhos que nisto de proibições, mesmo pedidas em coro, há que distinguir».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Julgo que a observação do facto é justa e traduz o reconhecimento daquela necessidade de medidas, em grau diferente e apropriado, que venho defendendo.