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536 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 80

sua dignidade e com a sua sabedoria uma grande e rica província ultramarina, que é hoje uma das mais belas pedras do nosso diadema de expansão e de fé.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Após um período conturbado de desilusões e de amarguras, em que a Pátria vê despedaçados os seus direitos históricos, amarfanhadas as suas naturais esperanças do sonhado mapa cor-de-rosa, e é colocada em condições deprimentes do seu brio e dignidade tradicionais; num momento em que à pusilanimidade da política externa de Barros Gomes se junta a instabilidade da política interna, desvairada em paixões partidárias e de regime, absorvida na mesquinha luta dos interesses pessoais e jamais conseguindo sobrepujar-se à altura dos interesses colectivos; nessa altura, em que, como alcateia esfaimada, se lançam à volta dos nossos territórios africanos os apetites desmedidos e escancarados de companhias majestáticas estrangeiras sob o signo da força das nações imperialistas, dispostas a esfacelarem o que possuíamos na ânsia insatisfeita da sua cobiça; nesses momentos trágicos dos ódios, das ambições, dos desvarios, das indignidades à moral da Pátria, das traições conscientes ou inconscientes feitas contra o interesse da comunidade nacional e atentando contra a glória dos séculos -nessas horas de tristeza, de opróbrio, de amargura, de desilusão e de apetites incomensuráveis-, ergue-se a espada luminosa na mão segura da figura austera e nobre dum militar, relampejando a bravura, a decisão, a dignidade, a grandeza de servir, o espirito de isenção, o provado valor moral, o superior valimento do colectivo, forjando com têmpera firme o bom senso e a sabedoria para servir de fanal luminoso a tudo o que de bom vivia neste povo, em oposição ao que então de mau nos empanava e diminuía.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Em três dias e três noites de marchas consecutivas, na exaltação da febre que o consumia, produto do estudo e da análise reflectida de muitos meses e de muitas horas, numa certeza da alma dos que se devotam inteiramente ao serviço duma mística, em três dias e em três noites, como disse, Mouzinho redimiu a Pátria, e com a sua bravura militar, ao prender o Gungunhana, não era só o régulo que ele abatia, mas sim, acima de tudo, erguia nesta Pátria o lado bom e nobre do seu ser, aglutinando o valor da moral e do espírito de servir e erguendo o lábaro das tradições nacionais, mostrando-se o chefe e guia do exemplo nobre duma história.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Por isso o ignorado capitão, que pacientemente estudara e trabalhara durante anos a preparar-se para servir a Pátria -como é sempre mister dos que servem nas fileiras -, apareceu a Portugal, de repente, como a descoberta luminosa duma estrela. E ele não era mais do que o provado repositório dos valores morais permanentes dum povo.
E na sua vida de militar, de político, de comissário régio, de economista, de financeiro e de educador, brilham sempre os mesmos augustos princípios que o destacaram na sua tão amada carreira de militar-servir apenas e sempre a sua Pátria.
Amesquinhado pelas invejas, atacado pela podridão e pela lama, deprimido pelos mesquinhos, a sua figura foi difícil de julgar e apreciar por muitos dos seus contemporâneos- mas os anos rolam e os juízes imparciais e desapaixonados podem hoje apreciá-lo em toda a sua magnifica pujança como um dos valores eternos da raça portuguesa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-O Exército começou já de há alguns anos a apontá-lo como exemplo seguro da glória de servir; aquela glória que é feita da renúncia de si próprio em entusiasmo consciente pela Pátria.
A arma de cavalaria, embevecida na leitura dos seus conceitos militares, na dignidade dos princípios da sua aplicação táctica, descritos magistralmente nas cartas do comissário régio quando pedia reforços à metrópole, em situação de dar lições militares aos políticos e dar lições políticas aos militares, a arma de cavalaria, como digo, tem-no hoje como um dos mais brilhantes patronos da sua plêiade de cavaleirescos S.Jorge.
Não admira, pois, que tal figura tivesse empolgado a juventude portuguesa e que esta, pela voz da sua Mocidade, tivesse alertado o Pais.
É que ele deu-se também como educador dessa juventude, quer nas fileiras militares, ensinando os seus soldados, quer nos campos de batalha, em horas arriscadas, a guiar os seus companheiros de luta, quer ainda, em horas frias e serenas da paz, a preparar um príncipe na alta missão de vir a ser o chefe de um povo.
Mouzinho foi, pois, um educador firme pelo exemplo, ardoroso pelas qualidades inigualáveis e dedicado pelo futuro a que se devotava.
Hoje é a mocidade que se volta para ele, compreensiva e agradecida pelas horas muitas dum passado em que ele se voltou pára ela. Rejubilemos por que na formação das gerações do futuro a figura dum chefe tenha deixado a impressão mágica das suas qualidades e as atraia e a fascine, a ponto de esta o erguer como símbolo e exemplo duma raça em que a cobardia e a lama têm sido a miserável excepção que confirma a regra da nobreza, do patriotismo e da heroicidade.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Foi o herói servido em sua vida pela figura distinta duma esposa augusta e exemplar, senhora de raras e nobres virtudes, que o acompanhou em todas as horas grandes como nas vicissitudes provocadas pelos mesquinhos e pelos maus.
Da boca dele colheu o aspirado desejo de em sua morte vir a receber sepultura no mosteiro da sua terra, no lajedo frio e grandioso da Batalha.
Por isso, quando a terra africana de Moçambique, pela voz de seus representantes e forças vivas, bradava pelos despojos do herói para figurar nos campos de Coolela, em afirmação eterna do amor pela grandeza da Pátria, ali provado por tão grande português, a ilustre senhora, então ainda viva, a isso se opôs, como num eco longínquo da voz do grande capitão.
Ergueu-se nessa altura a campanha em favor de dar repouso digno aos despojos do herói. Por toda a parte os clamores de aprovação foram gerais, secundados em tese justa por vários sectores, de entre os quais citaremos como não menos valioso o sector católico, saliente em artigos de fundo publicados pelo jornal Novidades. O clero português, como a grei, juntava-se, pois, ao sereno desejo da Pátria em consagrar a figura heróica e lendária de um chefe que brilhara em todos os exemplos da sua vida, pelo valor moral da sua conduta em todos os campos.
Ergue-se de novo o brado de retirar duma campa fria e inexpressiva do cemitério dos Prazeres as ossadas de quem, pela sua glória de trabalhador africano, bem pode jazer na campa rasa, mas digna, dos lajedos da Batalha. Ali, no mosteiro onde jazem os despojos dos primeiros