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540 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 80

visão dos problemas. Ganham moralmente, porque se habituam a sofrer a contradita; porque terão muitas vezes de fazer concessões ao pensar dos outros, e isso os preserva do endeusamento da pessoa, do absolutismo das razões e do fanatismo das ideias, para que tendem, naturalmente, os isolados e os unilaterais.
Para tanto é também preciso, e mais ainda, que esteja sempre presente ao espirito nestes debates a soberania do interesse nacional, a soberania dos direitos da verdade, a soberania dos deveres da inteligência. E que tudo se passe conforme as leis da melhor cortesia e do respeito que se deve aos outros.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -Assim se serve, indissoluvelmente, o bem do espirito e o bem da cidade. Assim se concilia a liberdade da inteligência com a unidade e a paz da Nação.

Vozes: -Muito bem!

O Orador:-Salazar, que na harmonia do seu pensamento e no equilíbrio soberano do seu espírito evoca aquele sentimento de medida perfeita a que os velhos gregos chamavam euritmia, em desterro no desvairo do nosso tempo, numa das suas sentenças lapidares, admirável de claridade e limpidez, sentença em que se projecta a sua alta sabedoria e o seu luminoso bom senso - o luminoso bom senso que é, a meu parecer, a nota mais expressiva e, porventura, a essência do génio, numa sentença de tolerância e humanidade, de liberdade de espirito, que se contém pela serenidade do espirito, e que seria a melhor lei de todo o convívio intelectual, deu-nos um dia, a nós, a este respeito, a fórmula perfeita - a autonomia e a regra, a liberdade e a medida: «estudemos tudo e não nos dividamos em nada».

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: -Fossem os propósitos da iniciativa ou projecto os que se proclamam nos passos da nota que reproduzi, e nada mais legítimo. Viesse a sua actividade a desenvolver-se no plano construtivo e nacional a que venho de aludir, e o seu labor seria mesmo louvável e meritório.
Mas então, a ser assim, também não parecia preciso vir a público com modos de quem reclama uma liberdade inexistente e faz uma reivindicação de direitos que não usufrui. Porque o exercício desta liberdade e deste direito é uma norma que a nossa Constituição consagra expressamente na longa enumeração dos «direitos e garantias individuais dos cidadãos portugueses». Ali se proclama «a liberdade de expressão do pensamento sob qualquer forma».

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Verdade é que, na lógica da nossa doutrina e da nossa ética, esta liberdade não é um direito incondicionado e também se estatui a sua limitação pelas superiores imposições do interesse público.
A propósito se pode dizer, como, mais uma vez lucidamente, proclamou Salazar, em relação a todas as liberdades: «enquanto o liberalismo acabou por cair no sofisma: não há liberdades contra a liberdade, nós, em harmonia com a essência do homem e as realidades da vida, dizemos: é somente contra o interesse comum que a liberdade não existe».
E o artigo 22.º dispõe, literalmente, que: «a opinião pública é elemento fundamental da política e da administração do Pais, incumbindo ao Estado defendê-la de todos os factores que a desorientem contra a verdade, a justiça, a boa administração e o bem comum».

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Mais: esta liberdade de pensamento não é um direito ocioso ou platónico, decorativamente, perfilado no texto solene do estatuto constitucional. É um poder de que amplamente usam -e até abusam- os sectores políticos discordantes da actual situação, e em particular os sobreviventes das velhas facções partidárias. Têm a sua imprensa periódica; publicam livros e revistas; tem possibilidade de realizar palestras e conferências. E, ao menos no plano dos princípios e da doutrina, não sofrem restrições, desde que não afrontem as normas basilares da ordem social e os princípios superiores quo informam a nossa civilização.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: -Se são escassos os resultados do seu labor; se é pobre e desoladora a seara; se, como eles próprios confessam, a juventude é «hoje quase inteiramente indiferente às virtudes do regime republicano» -leia-se inequivocamente regime demo-parlamentar -, é porque a «Causa» é, verdadeiramente, ... uma causa perdida. Estes pobres homens andam fora do seu tempo.
Não puderam ver ainda que o demo-liberalismo é um sistema largamente ultrapassado. Que o seu processo está encerrado e a sentença lavrada e sem apelo. Condenado perante as meditações da inteligência, está também condenado, irrevogavelmente, pelos resultados duma longa e dolorosa experiência histórica.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador:-Para as preocupações graves desta hora, a sua substância ideológica e as suas soluções são desconsoladoras e vazias, terrivelmente vazias e desconsoladoras.
O homem mostra-se um ser bom, mais rico de vida e do conteúdo espiritual. A sociedade uma realidade mais profunda e de muito mais alto sentido humano.
Decididamente, o liberalismo não pode satisfazer as mais profundas inquietações do homem moderno nem resolver nem sequer equacionar os grandes problemas do nosso tempo - hora crucial de revisão e ordenação de valores, a que está vinculado todo o nosso destino.
Por isso a mocidade se desinteressa, e se desinteressa irremediavelmente, dos mitos decaídos e dos ídolos de barro do demo-liberalismo. E nisso se exprime com inequívoca certeza a sua decrepitude e o seu ocaso.
Sembat sentenciou um dia, e com profundo acerto: «quando uma causa deixa do interessar a mocidade é porque vai morrer».

Vozes: - Muito bem!

O Orador:-Mas a verdade, a verdade irrecusável, a realidade que transparece com clareza meridiana, tão patente e inequívoca que só os cegos de espírito a não verão, é que o movimento um projecto nem é propriamente republicano nem é verdadeiramente doutrinário.
Não é propriamente republicano:
O que se tem em vista não é o puro ideal republicano, isento e limpo de compromissos e alianças, e tanto de princípios como de homens. O que se tem em vista ó o ideal republicano em conúbio com certos mitos ideológicos e certos homens de carne o osso; é o ideal republicano empenhado, comprometido, identificado com uma determinada situação histórica.