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9 DE FEVEREIRO DE 1955 543

político, para uma obra construtiva e séria, de resgate da Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Sabemos muito bem o que politicamente nos separa e nos distingue e também o que nos aproxima e nos irmana.
Discordamos num ponto, definido e único - o melhor modo de devolução do supremo poder político. Em tudo mais somos conformes e solidários. Mais: em tudo em que somos conformes e solidários somos diferentes e inconfundíveis com eles: no conceito de política, da sua essência e dos seus métodos; no conceito de Nação e dos seus direitos; no conceito de Estado e da sua missão.
Para eles, no plano dos princípios, o objectivo supremo da política são os mitos e as superstições revolucionárias: a Liberdade, a Igualdade, a Democracia. Para nós, a primeira realidade, na ordem política, é a Nação e os seus direitos. E, enquanto eles apregoam a soberania do ovo, nós proclamamos a soberania do interesse público, a supremacia do bem comum, a primazia do interesse nacional.
Enquanto para eles, na ordem prática, a política se resume quase nas lutas pelo Poder - os que o detêm para o manter, os outros para o conquistar-, para nós a actividade política é o estudo e solução dos problemas de interesse público.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Enquanto para eles a Nação é a soma de indivíduos autónomos -um aglomerado de egoísmos e a sua vontade se exprime na voz da maioria de uma geração transitória ou mesmo de um momento efémero de desvairo -, para nós- a Nação é uma sociedade diferenciada e hierarquizada, uma sociedade constituída por sociedades menores em simbiose de relações e de dependências, um ser histórico, longa e, incessante criação elaborada pelo trabalho secular da natureza e dos homens, obra erguida pedra a pedra, engrandecida dia a dia pelo esforço solidário das gerações sucessivas.
Enquanto para eles o Estado é o usufruto dos bandos partidários, objecto permanente das suas cobiças e das suas lutas, incapaz de altos desígnios políticos, órgão sem vontade, sem continuidade, sem independência, para nós o Estado é o supremo servidor da Nação, o guardião dos seus interesses e da sua honra, o centro coordenador de todas tis actividades, sobranceiro a todos os grupos, árbitro imparcial de todos os antagonismos sociais.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A nossa unidade, a nossa colaboração não é im encontro casual, não é a aliança de uma hora de emoção patriótica assente em vã retórica ou vagas e nevoentas razões sentimentais. É o resultado sólido, estável, consistente, de uma concordância de ideias e de princípios, de uma irmandade de sentimentos e de objectivos claros e explícitos.
É isso que explica que dure e se mantenha há já perto de trinta anos. É isso que tem permitido que tenha sido fecundo o nosso labor e gigantesca a obra que já realizámos.
Que essa obra imponente, levantada com o esforço de todos, o sacrifício de muitos e, até, o martírio e o heroísmo de alguns, obra da nossa piedade e do nosso orgulho patriótico, do nosso amor à terra, à gente e ao espírito da doce e amorável grei portuguesa, que toda essa obra, cheia de grandiosas realidades e de promessas ainda mais grandiosas, nos una e nos irmane, cada vez mais apertadamente, para que tudo se não perca no mar agitado das paixões, no tumulto dos egoísmos, no desencadear das forças de dissociação que eternamente refervem no subsolo das sociedades policiadas, à espera de uma hora de abandono, para a sua tarefa sinistra de perdição.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

Ordem do dia

O Sr. Presidente: - Continua o debate, sobre o aviso prévio do Sr. Deputado Paulo Cancella de Abreu.
Tem a palavra o Sr. Deputado Proença Duarte.

O Sr. Proença Duarte: - Sr. Presidente: também me cabe tomar parte neste debate, suscitado pelo oportuno aviso prévio do Sr. Deputado Paulo Cancella de Abreu, já porque fui eleito para esta Assembleia por um círculo que compreende uma região tradicionalmente vitícola e das mais antigas, já porque tenho assento no conselho geral da Junta Nacional do Vinho como representante da produção de uma região que compreende quatro distritos, conselho esse ao qual compete emitir parecer sobre os vários problemas relacionados com n economia do vinho.
Antes de entrar na apreciação da matéria do aviso prévio quero cumprir um imperativo de consciência, qual seja o de louvar a iniciativa do Sr. Deputado Paulo Cancella de Abreu, por trazer a esta Câmara a revisão de um problema económico nacional, felicitá-lo pela forma elevada, digna, proficiente e desassombrada como o tratou, o que está em perfeita concordância com o seu carácter íntegro e com o brilho da sua carreira política e parlamentar.
Estes louvores e felicitações creio bem que podem merecer a adesão de toda a Câmara.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:- Pessoalmente devo-lhe sentido agradecimento pela honra com que me distinguiu evocando passagens de discurso meu aqui proferido em 1935, a que S. Ex.a generosamente chamou n minha brilhante estreia.
Foi, de facto, a minha estreia nessa legislatura, mas não a minha, estreia parlamentar, porquanto esta remonta a tempos mais recuados - ai de mim - pois efectuou-se em 1919 no parlamento chamado sidonista, já depois da morte do saudoso presidente e num ambiente político e social bem sombrio, no qual começavam a gerar-se; tantos fastos lastimáveis da nossa história política contemporânea.
Mas devo ainda ao Sr. Deputado Paulo Cancella de Abreu agradecimentos mais altos pelo ajustado elogio que aqui fez das populações do Ribatejo, das suas qualidades de trabalho, do seu espírito de iniciativa e ímpeto criador de riqueza, que tanto têm contribuído para o progresso e fortalecimento da economia nacional. Na verdade, como disse o Sr. Deputado Cancella de Abreu, a lezíria ribatejana, com toda a produtividade dos mais variados géneros, com que hoje contribui para a economia do País, é uma conquista do trabalho duro, árduo e persistente de gerações sucessivas, que desbravaram e enxugaram terras, arrancaram matos, regularizaram cursos de água, meteram marachas e fizeram as culturas apropriadas para se defenderem da invasão das