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746 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 08

A situação é esta grosso modo e é sem espírito froudeur que a exponho: depois dessa idade o Estado não os admite como funcionários, com as regalias inerentes, podendo quando muito assaluriá-los sem qualquer garantia; os organismos corporativos só podem recebê-los com a sanção do Ministro respectivo; a indústria particular segue por comodidade o exemplo do Estado, e, suspeitando do seu rendimento de trabalho, rejeita-os simplesmente, sem avaliar das suas possibilidades.
Na minha via dolorosa a pedir pêlos outros tenho encontrado casos verdadeiramente aflitivos: homens de 40, 50 ou mais anos, com reconhecidas aptidões e em pleno vigor tísico e mental, alguns com numerosa família a seu cargo, postos de parte como farrapos inúteis. Não exagero... E notem VV. Ex.as que não estou aqui a blasonar de padre Cruz. Tenho a convicção ou, melhor, a consolação de que não há nesta Assembleia ninguém que não tenha a sua via dolorosa. Estou apenas a apresentar o meu depoimento. Como W. Ex.1*, trago na algibeira o meu sudário; e só peço a Deus que a minha sensibilidade não acabe por se embotar.
Consegui até hoje empregar uns poucos, devido certamente à boa vontade, compreensão e ambiente humanitário que encontrei em alguns Ministérios e organismos; aqui lhes deixo os meus agradecimentos e muito me apraz fazer nesta Sala esta declaração.
Quase todos os empregados, talvez pela experiência adquirida ou pelo desejo intenso de servir - soube-o depois pelas informações que colhi-, forneceram mais trabalho útil do que muitos outros na força da vida.
Não é este o lugar nem o momento para alvitrar soluções, quase todas elas discutíveis e nebulosas. O que se verifica, a todas as luzes, é que esta chaga existe e esta gente sofre. Justifica-se, portanto, o nosso apelo ao Governo, em cuja acção confiamos, na demanda da solução adequada, e reconhecemos ao Comissariado do Desemprego autoridade e competência para estudar o problema com conhecimento de causa.
Quando se trata, como agora, da defesa e protecção da família, sobretudo nas circunstâncias descritas, dar trabalho é mais do que dar pão.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Eis tudo, Sr. Presidente, quanto se me oferece dizer sobre a família. "A família - aviário sublime onde as gerações se emplumam" -, como dizia o já citado, o mavioso Alves Mendes. Outro vibrante cultor da forma, o seu contemporâneo Guerra Junqueiro, o "nosso Junqueira", como galhardamente lhe chama o Sr. Cardeal-Patriarca, poderá servir de fecho às minhas considerações:

Ver os lírios das campinas,
Todos cheios de alegria,
E tantas mãos pequeninas
Sem o pão de cada dia.

E dizer que havendo Deus,
Fonte de imensa piedade,
Há criancinhas sem berço
E almas sem caridade!

Falou o poeta.

O Sr. Carlos Moreira: - O poeta só, não, mas sim o filósofo, porque na citação que V. Ex.ª faz está uma critica a Deus.

O Orador:-Já esperava essa interrupção de V. Ex.ª Não vejo aqui uma crítica a Deus, mas sim um ataque aos egoístas.

Portanto, repito: falou o poeta e o filósofo se V. Ex.ª quiser. Tem agora a palavra o chefe da Revolução Nacional. E foi assim que ele falou, na inauguração da primeira Casa do Povo, aos trabalhadores de Portugal: "enquanto vós pensais nos vossos filhos, tenho eu que pensar nos filhos de todos vós".
Estas palavras ressoam como um hino do esperança e de conforto no coração dos deserdados.
Disse.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Almeida Garrett: - Sr. Presidente: não esporava fazer hoje uso da palavra, por erradamente me haverem informado de que havia ainda dois roletas a entrar no debate, e possivelmente três; por isso deixei em minha casa apontamentos que colidi para puder comentar alguns dos pontos que aqui foram versados mais particularmente. No entanto, vou fazer algumas considerações prescindindo desses apontamentos, porque certamente V. Ex.ª fará o favor de me reservar a palavra para a sessão de amanha, a fim de que, possuidor dessas notas, eu possa dar algumas explicações que considero indispensáveis. Assim, por hoje, ocupar-me-ei apenas de alguns pontos que, mesma sem tais notas, poderei tratar.
Antes de mais, tenho a obrigação, aliás muito agradável, de agradecer, extremamente penhorado, as palavras generosas que me dispensaram os oradores que tornaram parte neste debute. A todos estou muito reconhecido.
A Mons Santos Garreto, que, com a sua autoridade superior de eminente eclesiástico, aqui veio defender, como sempre, os princípios eternos da caridade e da justiça; ao Prof. João Porto, colega muito ilustre da Faculdade de Medicina de Coimbra, que trouxe para a discussão o meu saber profundo em todos os assuntos de medicina social, de que é exímio cultor; a Gastão Figueira, que, entusiasticamente, veio dar a sua contribuição, com um calor verdadeiramente sentido de quem compreende os problemas sociais e os quer tratar com profundidade e clareza; a Marques Teixeira que está sempre na brecha quando se trata de tudo aquilo que interesse à colectividade e que mais uma vez provou como sabe trabalhar os assuntos com uma distinção que todos nós conhecemos, e, finalmente - porque os últimos serão os primeiros -, às senhoras que tomaram parte neste debate: D. Maria Margarida Craveiro Lopes dos Reis e D. Maria Leonor Correia Botelho. que foram aqui bem as representantes da mulher portuguesa naquilo que fia tem de soberana mente sublime.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Cheias de coração, mas também de cabeça. Quer dizer: não trazendo apenas a sua sensibilidade feminina, mas também o conhecimento profundo dos problemas a debater, oferecendo-nos, assim, úteis, utilíssimos ensinamentos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A todos estou profundamente reconhecido.

Sr. Presidente: apraz-me, se me permite, começar por um assunto que foi aqui tratado há pouco, tendo provocado muitas interrupções, a provar o interesse que despertou. Refiro-me ao certificado antenupcial.
Ë um assunto que tem sido muito discutido no meio médico, havendo sobre ele as opiniões mais divergentes. Pensam uns que é indispensável, não só para evitar a contaminação por agentes de doenças contagiosas, mas principalmente por uma razão eugénica, porque se presume que os descendentes de indivíduos coin