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12 DE JANEIRO DE 1956 261

Muito oportunos foram os elementos estatísticos apontados relativos ao aumento do número cie licenciados em Engenharia e Ciências nos diferentes países. Também merecem a melhor atenção as considerações feitas sobre a penúria, que hoje se nota em certas nações, de cientistas que assegurem a investigação e o ensino.
De esperar será que na futura reorganização das nossas Faculdades de Ciências se atenda a este lacto, para que tal penúria, a observar-se entre nós, não venha mais tarde a afectar o nosso desenvolvimento económico.
O número de cientistas e engenheiros necessários hoje para assegurarem o pleno funcionamento das várias actividades dum pais civilizado é tão elevado que excede todos os cálculos que há umas dúzias de anos se poderiam fazer.
Para ilustrar esta afirmação aponto que somente o Comissariado Americano da Energia Atómica ocupava em Março do 1955 14 955 cientistas e engenheiros.
Dos referidos cientistas e engenheiros, 71 por conto provêm das escola de engenharia, 26 por cento das Faculdades de Ciências e 3 por cento das Faculdades de Medicina.
A propósito destaco que no Reino Unido, e também igualmente para um avultado número de cientistas, ;.50 por cento provêm das escolas de engenharia, 20 por cento das Faculdades de Ciências e 20 por cento do ensino médio.
Como curiosidade lembro que o orçamento do Comissariado Americano da Energia Atómica para os próximos cinco anos é de cerca de 04 milhões de contos por ano.
Como a recente expansão das aplicações da física se não restringe ao domínio da energia atómica, o que se deverá dizer a respeito da expansão total da física nos últimos anos ? Não admira, por isso, que se começo a notar uma penúria de cientistas.
Merecem as maiores aplausos pela sua doutrina que encerra m as seguintes afirmardes apresentadas no relatório do Decreto n.° 40378, a que me estou a referir: «a especialização, quando necessária, não deve nunca sacrificar uma sólida formação gorai, mas deverá seguir--se a essa formação».
De acordo com essa directriz se alargou, e muito bem, a representação das disciplinas de Matemática e Física e se criou uma nova disciplina - Sociologia Geral. Pena foi que esta não tivesse sido reservada para c último ou penúltimo ano do curso, para assim o aluno melhor sentir a sua necessidade.
Também lastimo não ter sido criada uma disciplina de Filosofia, base sólida de toda a cultura superior. Mas, já que não foi possível introduzi-la nos cursos de Engenharia, espero que ela não falte na futura reorganização das Faculdades de Ciências, pois deficientemente apetrechado se apresentará, o cientista se não possuir sólidos conhecimentos de filosofia.
E agora um pequeno reparo sobre um ordenamento de disciplinas. Nunca a Física Atómica deveria preceder o curso geral de Física. Só depois de os alunos terem frequentado este curso é que deveriam iniciar o estudo da física atómica.
Em resumo: o ensino da engenharia está de parabéns. Anularam-se as disparidades existentes entre os cursos de Engenharia do Instituto Superior Técnico e os das Faculdades de Ciências e Engenharia. Consequentemente, desapareceram as dificuldades de adaptação dos alunos transferidos entre as referidas escolas. Reduziu-se para valores aceitáveis a escolaridade. Por se ter dado maior desenvolvimento às ciências de base. melhorou-se a formação geral do futuro engenheiro.
Sr. Presidente: espero que na futura reforma do plano de estudos das Faculdades de Ciências, que confio se não faça esperar, se dê à formação dos cientistas puros a importância merecida. Como atrás apontei, por cada sete engenheiros a trabalhar no Comissariado Americano da Energia Atómica existem três cientistas puros.
Bem sei que nem de longe nos podemos aproximar em valores absolutos do que se passa nos Estados Unidos. Mas talvez que num futuro breve nos venhamos a aproximar da referida proporção. Por isso às Faculdades de Ciências deverá competir a formação dos cientistas indispensáveis para o nosso futuro desenvolvimento económico.
Acho conveniente recordar nesta altura algumas das afirmações que fiz nesta Assembleia em 20 de Abril de 1955 quando me referi ao ensino da Física nas nossas Faculdades de Ciências. Disse então que seria necessário criar uma licenciatura em Física. A sua duração não deveria ser inferior a cinco anos. Na elaboração do seu plano de estudos deveria atender-se ao prodigioso e recente desenvolvimento deste, ramo das ciências e à necessidade duma sólida preparação matemática.
Profundas modificações se deverão fazer nas nossas Faculdades de Ciências, para que o futuro físico adquira uma formação que lhe permita abordar sem dificuldades de maior o estudo de qualquer dos seus domínios de especialização.
Sr. Presidente: para terminar, desejo apontar um facto de alta transcendência no domínio do ensino superior. Nada mais nada menos do que a próxima revisão ampliada do Estatuto Universitário.
O Sr. Ministro, logo a seguir à posse da 4.ª secção da Junta Nacional da Educação, encarregou-a de proceder aos estudos da referida revisão. Devido à competência e saber das altas individualidades que a constituem, espera-se dos seus trabalhos os melhores resultados.
Espero que a futura Universidade seja alicerçada nas bases tradicionais da nossa civilização e se destino à criação de facto dum escol que, pelo seu saber, promova o progresso da Ciência.
Também espero que o conjunto das escolas superiores duma mesma cidade formem um todo, isto é, uma Universidade. Não faz sentido, como acontece na nossa capital, que existam dois conjuntos de escolas superiores.
Uma dita Universidade Clássica, outra dita Técnica, sem outro laço a ligá-las senão a dependência da mesma Direcção-Geral.
È necessário que entre as diferentes escolas superiores KC estabeleçam contactos íntimos, não só entre professores, mas também entre estudantes. Só assim e com uma sólida cultura geral se poderão evitar as deformações provenientes duma cultura fortemente especializada.
Como muito bem focou o Sr. Ministro da Educação Nacional, não devemos continuar a consentir Faculdades estanques.
No novo estatuto universitário, ou nas respectivas leis orgânicas das Faculdades, deverão remover-se as dificuldades postas às transferências de estudantes, dum para outro curso, dentro da mesma Faculdade ou entre Faculdades diferentes.
Também espero que venha u dar-se lugar de relevo ao problema da residência dos estudantes, isto é, aos colégios universitários. Lembro que, debaixo do ponto de vista educativo, as horas extra-escolares valem mais do que as de ensino.
Sr. Presidente: termino as minhas considerações fazendo votos por que a obra de reforma do ensino superior já encetada prossiga a passos firmes.
A obra já iniciada, que tem merecido calorosos aplausos, é penhor seguro de que a reforma iniciada seguirá por bom caminho.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.