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21 DE JANEIRO DE 195 305

O Orador: - V. Ex.ª lembra-se de que houve anos em que chegou a haver dois meses de atraso no pedido de gado e foi preciso criar correntes de matança dupla.

O Sr. Abrantes Tavares: - Um dos hábitos da marchantaria dos arredores de Lisboa é comprar no período da baixa do gado, ter este no pasto, e quando da época de crise vem com o gado para o mercado.

O Orador: - Não há dúvida; isso é uma das consequências de a produção vir toda em período curto, e quando não tem matança possível é vendida por qualquer preço.
Fazendo o estudo do que se passou nos últimos cinco anos a que me prendo, tal como fiz com o bovino, encontro na matança controlada os seguintes números quanto a ovinos:

(ver quadro em imagem)

Média = 956 000 cabeças, com 9 400 000 Kg.

Fazendo o estudo da sua distribuição pelo ano, é fácil constatar o absoluto paralelismo com o que se passa com o gado bovino. Obedecendo às condições ditadas, pelo meio e pelo preço igual através do ano, coincidem as suas pontas de maior ou menor entrega justamente nos meses em que o mesmo acontece àquele gado. Soma, portanto, defeitos e não é correctivo para a má distribuição de carnes através do ano. Assim, em 1950 os meses de menos matança foram, por ordem crescente, Janeiro, com metade da média mensal, Fevereiro, Novembro e Dezembro; a ponta baixa, portanto, em Janeiro. 0s meses de matança para além da média foram Março, Abril, Maio, Junho, Julho e Agosto, com a ponta em Março, e só aí se distanciou do gado bovino.
Em 1951 o mês de menos matança foi Dezembro, mês de ponta, seguido com pouca diferença dos de Janeiro e Fevereiro. Os meses altos foram Maio, Junho, Julho e Agosto, com a ponta em Junho.
1952 volta a acusar a ponta mínima em Janeiro, com meses abaixo da média em Fevereiro, Outubro, Novembro e Dezembro, com a ponta alta em Maio, e meses para além da média Março, Abril, Maio, Junho, Julho, Agosto e Setembro.
A observação dos anos de 1953 e 1954 de igual forma isso não mostra, com as suas pontas mínimas e máximas, respectivamente, em Janeiro e Junho, coincidindo, portanto, a falta com a falta de carne fornecida pelo gado bovino e a sobra já em período de abastecimento regular daquela. Coincide a relativa abundância de carnes desta espécie com os meses de ponta alta daquela.
Como no gado bovino, correspondem aqui os meses de maior oferta em curto prazo a uma quebra do valor dos gados nas feiras, a um falseamento dos índices de valor, pois, embora toda a segurança que a quota de 50 por cento das matanças em Lisboa, reservada à lavoura, podia parecer trazer ao problema, tal não acontece, visto o retardar da entrega pela sobra de matança obrigar a reter em pastagem a outros fins destinada uma massa de gados que estragam pastagem, perdem peso, e que não paga, na relação forragens-valor de carne, manutenção rendosa para além desse período...
Concorrem portanto, as duas espécies nos períodos de mais abundância e não se substituem nos períodos de falta.
Houve a esperança de que, montado o novo frigorífico em Lídima, o assunto viesse a ter o seu arrumo natural. Não se lhe nega larga participação no atenuar das crises, mas o problema, continua em aberto, tanto mais que, em face das despesas de congelação e retenção, o gado continua a comer, perante um preço que se não altera em função dos encargos.
Novo investimento, necessário, pois, e um pura perda, visto a retenção não ter a contrapartida de um aumento de valor ou de reposição. Um puro sacrifício a um artificialismo de preços e à manutenção das razões do próprio problema em si.
A congelação não evita também a saturação de miudezas em certas épocas, e, assim, da mesma, forma, ainda que indirectamente, ataca todo o sistema.

O Sr. Melo Machado: - Em todo o caso, a adopção do sistema de frigoríficos parece que já é uma compensação para o gado não ficar nas pastagens em más condições; e, portanto, já é um benefício.

O Orador: - Perfeitamente de acordo; mas isso deve ser considerado como um processo de nivelamento, e não como um descanso absoluto. Não leva a aumento de produção, mas apenas evita a perda do que já havia.
Em 1952 os encargos de congelação suportados pelo Fundo de Abastecimento foram de 561.259$ quanto a ovinos e em 1951 pagou o mesmo Fundo de despesa de congelação de carnes nacionais 2:163.700$.
Não foram grandes as verbas, pois que de verdadeiro período experimental se tratava, nem havia maneira, de maior extensão se lhe dar então. Fica como ponto de observação para um alargamento de acção neste campo. Uma possibilidade sempre de largo investimento em pura perda, pois que não fomenta a economia da nossa pecuária; só a defende em parte de crises agudas; nada modifica nas causas dessas crises.
A observação assim desapaixonada do que se passa com estas duas espécies pecuárias na sua concorrência ao abastecimento público põe bem patente a sua má distribuição através do ano - uma das causas do problema, e daí uma razão para o descontentamento do consumidor, do comércio, da indústria e da produção.
Antes, porém, de passar adianta uma ligeira consideração, que vem da observação dos números.
quanto a ovinos, para uma população que aumenta, a quota de carnes mantém-se praticamente constante. Assim se vai distanciando das necessidades. Um problema que se complica, pois.
Quanto aos bovinos, acusam os números um ligeiro aumento de oferta dos adultos e grande aumento na dos adolescentes.
O aumento daqueles não corresponde, perante os dados estatísticos, a um aumento real de fontes de produção. Traduz, sim, o desfazer dessas fontes, pela quebra de valor em perda quanto ao boi para trabalho. O aumento dos adolescentes tem a mesma razão na quebra daquele valor e no da descrença de valer a pena levar a criação mais adiante. É uma matança de inocentes ou de fontes de produção que há-de dentro de pouco reflectir-se em curva descendente na oferta de adultos. E este é outro dado grave do problema.
Conjugando ainda o resultado da análise dos números de matança mensal com o valor realizado nas feiras como significado da falta ou sobra para aquela matança temos de confirmar a nossa afirmação.
Ditam as condições naturais do meio e a política de preços constantes o desaproveitamento máximo das nossas possibilidades de abastecimento de carne. A um