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DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 191 404

bate o prestígio da sua palavra conceituosa, e que, sem dúvida, eu não sabia emprestar-lhe, tanto mais sendo certo que, afora alguns pormenores, nos encontramos numa impressionante e expressiva unanimidade de vistas em assunto complexo e vastíssimo, em que é legítima e natural uma grande variedade de opiniões com respeito às causas, aos efeitos e às soluções sobre os vários aspectos a contemplar.
Assim, às substanciosas considerações do Sr. Dr. Urgel Horta apenas tenho a fazer um reparo, reparo tanto mais audacioso quanto é certo ser de um leigo a um médico.
É que S. Ex.a, ao referir-se à assistência clínica de urgência na estrada e ao indicá-la como necessidade pro-vadamente útil, mostra-se receoso das intervenções terapêuticas intempestivas ou contra-indicadas, que, como, aliás, eu e todos, condena como possível causa de lesões irreparáveis ou mesmo de complicações mortais, e depois de acentuar o princípio, também unanimemente aceite, de que vale mais não fazer nada do que fazer mal, louvou os cursos de enfermagem para os agentes do trânsito, mas só pelo que a medida tem de boa intenção, e não pelos resultados que dela haja a esperar.
Ora, salvo todo o respeito, permito-me repor o problema no pé onde o coloquei. Assim como não pode haver uma bomba ao pé de cada incêndio -e por isso nem sempre ele se extingue logo e propaga-se-, não pode haver uma ambulância, um médico ou um enfermeiro ao pé de cada acidente - e por isso muitas vezes o socorro às vitimas não é prestado a tempo de salvá-las.
Julgo eu que, em casos extremos, todos devem intervir como puderem e souberem, mas, se estiver presente ou comparecer um guarda que tenha algumas noções sobre o modo de prestar socorro imediato e tantas vezes salvador, tanto melhor.
Invasão de atribuições ? Meu Deus! Então retirem-se das praias ou das fábricas e oficinas onde existam as instruções para imediata assistência aos náufragos, aos electrocutados e aos feridos, mediante n respiração artificial, a desinfecção, o estancamento de hemorragias, etc.
Evidentemente que não me refiro aos traumatismos que, embora reclamem socorro urgente, pertençam unicamente ao foro médico.
Como, porém, estou metendo foice em seara alheia, convém documentar o meu raciocínio em apoio autorizado. E, precisamente hoje, tive oportunidade de ler no Boletim do Auto-Clube Médico o seguinte passo de um interessante e profundo estudo do Dr. Vieira Lisboa sobro o «Traumatismo por Acidentes de Viação»:

Julgamos que devemos antes deixar o acidentado em repouso, estando precavidos e vigiando a evolução do quadro, do que transportá-lo imediatamente para um centro cirúrgico, quando o que está em causa é a vida do doente e não qualquer intervenção ou redução cirúrgica de uma fractura, que pode esperar algumas horas.

Ora, que melhor forma pode haver de salvar a vida do sinistrado do que o socorro imediato prestado por quem tenha algumas noções de enfermagem?

O Sr. Urgel Horta: -V. Ex.ª dá-me licença?
Afinal, aquilo que V. Ex.a está a dizer é a confirmação do que eu digo: transporte intempestivo dos doentes, a aplicação de certas terapêuticas por quem não sabe ...
Esse artigo publicado no Boletim ao Auto-Clube Médico que V.Ex.a referiu dá-me inteira razão.
Não são esses que possuem umas noções tão ligeiras que sabem se o doente deve ser ou não transportado imediatamente.
É evidente que não pode estar uma ambulância em cada local, mas pode haver um médico, um enfermeiro em cada ambulância, e são necessárias algumas.
De maneira que o que V. Ex.a leu agora só confirma aquilo que eu afirmei.

Dão-se muitos desastres por transporte intempestivo. E V. Ex.a sabe que há países onde existem essas ambulâncias preparadas com médicos e enfermeiros, em brigadas que correm constantemente a estrada para evitar esses desastres.

O Orador:-Desde que não pode haver em cada local de acidente uma ambulância, um médico ou um enfermeiro, bom é que surja, quanto possível, alguém com conhecimentos rudimentares de enfermagem suficientes para socorrer os sinistrados enquanto não vêm a ambulância, o médico ou o enfermeiro.
O que imediatamente há a fazer é um tratamento de urgência.

O Sr. Urgel Horta: - Mas esse tratamento tem de ser feito por pessoa competente. Pessoa com um mês vendo praticar enfermagem não sabe coisa nenhuma.

O Orador:-Com um mós já se podem adquirir algumas noções, e, sendo possível, deve-se prolongar o estágio. O ponto fundamental da minha discordância com V. Ex.ª está em eu considerar não só útil, mas indispensável aquela aprendizagem.

O Sr. Urgel Horta: - Indispensável é, mas com a tempo suficiente para essa aprendizagem ser útil.
V. Ex.ª sabe quanto tempo demora a prepararão de um enfermeiro? Uma série de anos.

O Orador:-Mas. como não há possibilidade do realizar esse ideal em relação aos guardas da Policia do Viação e Transito, vá-se até onde for possível.
Merecem a nossa concordância as palavras e os comentários expressivos do Sr. Dr. Augusto Simões, e, com S. Ex.a, entendo ser justo distinguir, entre as classes de condutores, a dos profissionais, que ganham o seu pão ao volante dos transportes pesados e ligeiros, e a dos particulares, até porque não são geralmente aqueles, mas sim estes - que, verdade seja, são mais numerosos -, os que, proporcionalmente, cometem maior quantidade de infracções.
O rigor da lei deve recair igualmente sobre todos os responsáveis, e o seu peso deve ser implacável tratando-se de certos jovens inexperientes, a quem os pais presenteiam nos exames escolares ou no casamento, e até para irem às aulas, com uma espécie de torpedo de «jacto», que eles liquidam em aventura: ou matando ou morrendo.
Porque não há-de estabelecer-se que só se concede a carta de condução a quem tenha atingido os 21 anos de idade, a não ser nos casos de comprovado interesso profissional?
Quanto aos outros colegas, entre os quais o Sr. Melo Machado, a quem a acústica deste hemiciclo cinemascó-pico não tenha permitido ouvir todo o meu despretensioso arrazoado, e por isso imaginem que pretendi tomar partido e responsabilizar e acusar os muitos que não têm culpas e se comportam de conformidade com as regras que a lei e a prudência impõem, informo-os de que no Diário das Sessões está reproduzido com fidelidade o que aqui disse e é testemunho da razão e da imparcialidade que me esforcei por empregar.
O próprio Sr. Melo Machado, que me interrompera, o reconheceu lealmente no seu discurso.
Em dado momento, o ilustre Deputado perguntou-me, à queima-roupa, se não haveria mais acidentes com