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22 DE ABRIL DE 1959 499

Em luta permanente com o mar, eles trazem à nossa terra, era grande quantidade, a rica sardinha, que, sendo consumida nos lares pobres e constituindo a principal matéria-prima da nossa indústria de conservas, lhe dá o direito de ocupar a primeira posição entre as espécies que têm o seu habitat nas águas do nosso planalto continental.
Exercem a sua actividade nesta pesca cerca de 13 000 pescadores, que, lançando e alando as suas redes, levam às fábricas e aos mais recônditos lugarejos da nossa terra muitos milhares de toneladas de sardinha, constituindo assim o produto do sen trabalho um elemento valioso na vida da Nação.
Protegê-los, melhorando as condições de acesso aos nossos portos, é um dever que o Governo não deixará de cumprir, dado que é exactamente quando prestes a entrarem nos seus portos de abrigo se dão com frequência tragédias da natureza daquela que enlutou no domingo passado todo o Pais.
Como lenitivo à profunda dor cansada por aquela tragédia há apenas o conhecimento que o Pais tem de que esta não entra acompanhada, da miséria nos lares daqueles humildes pescadores que sucumbiram nas águas revoltas da foz do Mondego.
A previdência e assistência corporativa contam com estas tragédias e os armadores não esquecem os homens que trabalham nas suas embarcações.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Munoz de Oliveira:- Sr. Presidente: horas amargas e dolorosas, horas de impotente ansiedade, viveu a Figueira da Foz, quando a meia manhã do passado domingo preguiçava pelas suas avenidas e esplanadas, descansando do trabalho da semana sob um sol radiante, que parecia prometer felicidade e bonança.
Ali mesmo aos seus pés, na boca da barra, um golpe de mar envolveu uma traineira que após o primeiro dia de safra da sardinha regressava a terra, tripulada por homens confiantes, tranquilos, homens conscientes de terem cumprido o seu dever.
Ali mesmo, junto ao casario, a dois passos dos seus lares, ouvindo os gritos dilacerantes das suas mães, das suas esposas, dos seus filhos, gritos de dor, que foram também o derradeiro adeus, um punhado de bravos, de valorosos soldados do mar, se perdeu em luta desventurada com um mar que não quis ser generoso, não quis ser leal, não quis ser fiel.
Elevo a minha voz nesta Assembleia para render à memória dos que morreram, sacrificados pelos perigos imensos de uma barra traiçoeira, profunda homenagem.
Honra à sua memória, a mesma que se deve aos soldados que caem em serviço da Pátria; protecção às famílias mutiladas, aos lares sem amparo, aos menores a que um brutal destino quis tornar órfãos; aos sobreviventes, e a todos aqueles que, nobre povo, povo generoso, continuarão arrostando o mor, o voto de fé de que brevemente a vontade do homem dominará a foz do Mondego, amoldando-a aos desejos expressos através de um século.
Sobrepondo-se ao luto, à dor, à tragédia que a Figueira da Foz acaba intensamente de viver, continuará o olhar em frente lusitano, o rumo ao mar do Lusíada.
Pese a quem pesar, a quem quer que seja que por inconfessáveis desígnios descrê ou pretende desmerecer ou depreciar, sejam quais forem as contrariedades a vencer e as dificuldades a eliminar, o porto da Figueira da Foz há-de executar-se a curto prazo.
Assim o exige a memória dos mortos; assim o desejam esses heróis de tez curtida pelo mar salgado, de alma temperada pelos perigos e lutas, que continuam, com majestosa serenidade, arriscando a vida; assim o quer o Governo da Nação.
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Costa Ramalho: - Sr. Presidente: pedi a palavra para fazer umas considerações muito breves sobre um programa da Emissora Nacional de Radiodifusão.
É costume neste pais dizer mal de tudo o que não funciona bem e não só disso. Mas dizer bem daquilo que não está mal é coisa que poucos fazem.
Pertencerei hoje a esse pequeno número para louvar um programa do emissor regional de Coimbra. Trata-se da rubrica «Conversando sobre ...», transmitida no programa nacional à quarta-feira e em Lisboa 2 na segunda-feira seguinte.
Com esse programa o emissor regional de Coimbra iniciou aquela actividade de divulgação cultural que muito bem quadra ao posto emissor de uma cidade universitária. Com efeito, ali estão à mão colaboradores capazes de tratarem uma série muito variada de assuntos, e o emissor regional tem sabido aproveitar os recursos culturais do meio, interrogando as pessoas- na sua maioria diplomados com um curso superior- capazes de trazerem o contributo das suas luzes ao ouvinte comum, que, fora da nossa esfera profissional, somos todos e cada um de nós.
De maneira acessível, sem pretensões descabidas de erudição, com um real esforço, em muitos casos, para colocar as matérias versadas ao alcance do ouvinte não especializado, os interlocutores do Dr. Parreira Cortês - criador e continuador do programa- têm chamado a atenção do público para temas de interesse actual, nos mais variados campos do saber.
Da jurisprudência à arqueologia, da medicina à história da expansão portuguesa, da geologia às relações culturais, da física nuclear à sociologia, com passagem por questões de filologia clássica, de poética, de etnologia, de pedagogia, de linguistica, de farmácia, de arte, de antropologia, etc., de tudo um pouco vem tratando esta espécie de escola radiofónica.
E, assim, a Universidade portuguesa, que frequentemente tem sido acusada de se alhear da curiosidade intelectual e do desejo de saber das massas, de indiferente à sua valorização espiritual, vem agora ensinar para a rua, ou, com mais propriedade, para o ar, através das gravações do emissor regional de Coimbra.
E a Emissora Nacional de Radiodifusão consegue alguma indulgência para o baixo nível de certos programas que nos propina com estes vinte minutos semanais de cada novo diálogo da série «Conversando sobre ...».
Só é pena que a falta de uma dotação especial não permita que os diálogos sejam publicados em volume, agrupados por assuntos, e a preço acessível. Completar-se-ia, assim, pela leitura a lição ouvida através dos receptores.
Como quer que seja, na minha dupla qualidade de universitário e Deputado por Coimbra permito-me apresentar as minhas felicitações à Emissora Nacional pelo êxito e vitalidade do programa «Conversando sobre...».
Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente:-Está na Mesa um oficio da Ordem dos Advogados sobre o projecto de lei, já aprovado, do Sr. Deputado Homem Ferreira. Vai ler-se.