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554 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 97

trocas de energia entre Portugal e a Espanha e, através de um acordo tripartido entre Portugal, Espanha e França, poderemos vir a vender à França alguns excedentes da nossa produção.
Urge levar a bom termo as negociações oficiais para um acordo internacional e estudar em pormenor os espectos contratuais dessas trocas e movimentos de energia.
A indústria de produção, transporte e distribuição de electricidade constitui na época presente uma actividade de notável relevo, que tanto quanto hoje se sabe e se prevê não será deslocada da posição actual, mesmo com a utilização futura em grande escala de outras fontes de energia.
O advento da energia atómica e a sua crescente utilização na produção de electricidade criou em alguns espíritos a dúvida sobre o acerto e a conveniência de prosseguirmos na política de realizações dos grandes aproveitamentos hidroeléctricos.
As opiniões recentes dos especialistas sobre a matéria consideram ser necessário prosseguir no aproveitamento das fontes clássicas de energia eléctrica, por ainda não ser possível, mesmo que se quisesse, satisfazer somente por via atómica as novas e crescentes necessidades de electricidade.
A tendência geral é para aumentar o ritmo das obras, porque o consumo cresce em progressão geométrica.
A impossibilidade de satisfazer para já por via atómica as crescentes necessidades de electricidade resultam da carência de combustível atómico em qualidade e quantidade suficiente, da falta de uma indústria de equipamento nuclear suficientemente desenvolvida e da escassez de pessoal altamente qualificado para tratar dos vários assuntos ligados à indústria atómica.
Além disso, o kilowatt instalado atómico é actualmente mais caro que o das fontes clássicas de energia eléctrica, e quanto ao custo da produção atómica ainda há imprecisões no cálculo de vários elementos que a constituem.
Por tudo isto se pensa que ainda durante largos anos a energia atómica se conjugará e não substituirá a produção pelos métodos clássicos.
Sr. Presidente e Srs. Deputados: a existência de grandes centrais hidroeléctricas, passada a fase de construção, tem pequeno efeito na economia local e no nível de emprego regional. O Picote tem à volta de sessenta empregados permanentes, desde o engenheiro-chefe, electricistas, maquinistas, guarda-fios, etc., até aos porteiros e guardas, e as nossas outras grandes centrais andam pelas cinco dezenas de empregados nos seus quadros permanentes, muitos dos quais, por serem especializados, vêm de fora da região. Mas durante a construção estas obras de grande vulto, pelos operários que ocupam e pelos capitais que movimentam, são de muito favorável incidência nas economias regionais e até na economia nacional.
No aproveitamento do Picote foram investidos cerca de 670 000 contos, dos quais mais de 75 por cento ficaram no nosso país em salários e ordenados, em materiais e transportes, em trabalho e fornecimentos da indústria nacional, etc., com relevante incidência no nosso circuito económico.
Além dos trabalhos intrínsecos à própria obra, muitos outros houve que fazer, derivados da localização do estaleiro a 500 km da fábrica de cimento e a cerca de 350 km do porto de desembarque dos equipamentos pesados, das difíceis ligações rodo e ferroviárias da região com o resto do País e do atraso económico da zona onde as obras se desenvolveram.
Rasgaram-se estradas e caminhos, estabeleceu-se uma rede de transportes para alimentar o estaleiro com 200 t de cimento por dia, além de muitos outros materiais, ergueram-se edifícios nos morros adjacentes ao local da barragem, abasteceu-se a zona com água tratada e com energia eléctrica e criou-se no estaleiro toda a vasta gama de serviços, em que chegaram a trabalhar mais de 3000 homens.
O aglomerado populacional ligado ao estaleiro atingiu 7000 pessoas e, como o local era ermo e inóspito, foi preciso construir uma pequena cidade industrial, junto ao estaleiro da barragem, edificando, além das habitações, todas as instalações de interesse colectivo, tais como refeitórios, centro comercial, capela, posto de saúde, enfermaria, escola, cinema, parque de jogos, piscina, abastecimentos, etc.

O Sr. Alberto Cruz: - Esta é que é a boa doutrina!

O Orador: - Apesar da dificuldade da obra, conseguiu-se, com o esforço tenaz e perseverante de quantos trabalharam na Hidouro, de quantos trabalharam com os vários empreiteiros e com os fornecedores, percorrer em pouco tempo um caminho que se sabia de antemão longo e árduo, e hoje surge naquela paisagem, de grandiosa rudeza e de agricultura pobre, uma obra impressionante, uma poderosa fonte de energia, que o trabalho do homem soube arrancar das forças da natureza e está a converter em riqueza socialmente útil.
Por esse grande esforço, penso que todos os portugueses, desde os operários aos dirigentes, que deram o seu contributo à realização da obra são merecedores de que nesta Câmara se lhes dirija uma palavra de sincero reconhecimento e justo apreço.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - E para que da obra feita e do dinheiro gasto no sector da produção a colectividade possa obter o maior proveito material e social é preciso levar os benefícios da electricidade a muitas regiões de economia rural ainda privadas do seu uso...

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - ... e onde a dispersão das populações, as distâncias a vencer, os fracos consumos iniciais, etc., tornam a exploração das redes de distribuição necessárias de saldo negativo durante vários anos que se seguem à sua construção.
O distrito de Bragança, no qual se localiza o Picote e onde estão em curso de aproveitamento outras poderosas fontes de energia (Miranda, para conclusão em 1960, e Bemposta, que esperamos siga de perto Miranda), é de todos os distritos da metrópole aquele onde se registam as mais baixas percentagens de freguesias electrificadas e de população servida.
Urge melhorar essa situação precária e, através de uma vigorosa política de ordenamento regional, aproveitar da melhor forma possível em todas as suas possibilidades este valioso elemento de infra-estrutura económica, para valorizar e transformar a região trasmontana, extensa e de economia débil.
A realização do Picote constitui impressionante testemunho da capacidade criadora dos Portugueses e da vitalidade da Nação.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Esta obra marca novo avanço na trajectória firme do engrandecimento da Nação, ela é o resultado de uma política de realizações fecundas