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550 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 162

João de Brito e Cunha.
João Carlos de Sá Alves.
João Mendes da Costa Amaral.
Joaquim Mendes do Amaral.
Joaquim Pais de Azevedo.
Joaquim de Pinho Brandão.
Jorge Pereira Jardim.
José Dias de Araújo Correia.
José Fernando Nunes Barata.
José de Freitas Soares.
José Garcia Nunes Mexia.
José Guilherme de Melo e Castro
José Hermano Saraiva.
José Manuel da Costa.
José Monteiro da Rocha Peixoto.
José Rodrigo Carvalho.
José Rodrigues da Silva Mendes.
José Sarmento de Vasconcelos e Castro.
José Soares da Fonseca.
José Venâncio Pereira Paulo Rodrigues.
Júlio Alberto da Costa Evangelista.
Laurénio Cota Morais dos Reis.
Luís de Arriaga de Sá Linhares.
Luís Tavares Neto Sequeira de Medeiros.
Manuel Colares Pereira.
Manuel José Archer Homem de Melo.
Manuel Lopes de Almeida.
Manuel Maria de Lacerda de Sousa Aroso.
Manuel Maria Sarmento Rodrigues.
Manuel Nunes Fernandes.
Manuel Seabra Carqueijeiro.
Manuel de Sousa Rosal Júnior.
Manuel Tarujo de Almeida.
D. Maria Margarida Craveiro Lopes dos Reis.
Mário Angelo Morais de Oliveira.
Mário de Figueiredo.
Martinho da Costa Lopes.
Paulo Cancella de Abreu.
Purxotoina Rantanata Quenin.
Ramiro Machado Valadão.
Sebastião Garcia Ramires.
Simeão Pinto de Mesquita Carvalho Magalhães.
Tito Castelo Branco Arantes.
Urgel Abílio Horta.
Virgílio David Pereira e Cruz.
Vítor Manuel Amaro Salgueiro dos Santos Galo.

O Sr. Presidente: - Estão presentes 84 Srs. Deputados.
Está aberta a sessão.

Eram 16 horas e 25 minutos.

Antes da ordem do dia

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Sarmento Rodrigues.

O Sr. Sarmento Rodrigues: - Sr. Presidente: temos acompanhado, todos neste país têm acompanhado, com interesse e emoção, o desenrolar dos trágicos acontecimentos que têm semeado a dor e a desgraça na pátria irmã do Brasil. Campos inundados, aldeias, vilas, cidades submergidas pelas torrentes caudalosas de rios indomados, cuja grandeza, neste momento de destruição, nos dá bem uma ideia das tremendas forças de que a natureza dotou a terra brasileira.
Toca-nos profundamente o bem e o mal do Brasil. O Brasil é o nosso irmão, é o nosso orgulho, faz parte, na lei e aos sentimentos, da indissolúvel comunidade
luso-brasileira. Os seus triunfos são nossas alegrias, as suas desventuras são nossas tristezas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Nunca discutimos, nem apreciamos sequer, a sua política interna, tal é a isenção, a pureza dos nossos sentimentos fraternais. Toda a nossa imprensa tem fielmente traduzido essa geral isenção do povo português. O que apenas nos interessa, perante o Brasil, é a sua prosperidade, a sua grandeza.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Por isso agrada-nos imenso saber como se elevam, fábricas e barragens, se criam indústrias, se constróem cidades, se rasgam os matagais, revendo em tudo isso - seja-nos permitido essa vaidade - esse espírito pioneiro e audaz que, com a cruz de Cristo, transportámos para o continente americano.
Apresta-se o Brasil, sob a orientação activa e patriótica dos seus ilustres governantes, para o grande cometimento da Brasília, a nova capital, numa ideia generosa, ideia bandeirante, que penetra cada vez mais fundo no coração da terra de Santa Cruz. Empenham-se recursos, correm-se riscos, gastam-se energias. E é neste momento que noutros estados da grande República irmã surgem problemas tão prementes que parece quererem ofuscar o brilho de uma hora de triunfo.
Ë justamente nesse Nordeste tradicionalmente batido pela tragédia das secas, onde anualmente, como se de anátema se tratasse, a natureza vai determinando êxodos, tornando cada vez mais áridas as terras, o que por sua vez facilita a formação de torrentes impetuosas, que a pobre e raquítica vegetação não pode deter; Nordeste, palavra que hoje, segundo o testemunho autorizado de Gilberto Freyre, «quase não sugere senão as secas. Os sertões de areia seca rangendo debaixo dos pés. Os sertões de paisagens duras doendo nos olhos. Os bois e os cavalos angulosos. As sombras leves como umas almas do outro mundo com medo do sol. Homens e bichos se alongando quase em figuras de El Greco». É esse calcinado Nordeste de gente sofredora e martirizada pelas estiagens que, por uma trágica ironia do destino, sofre também as devastações das cheias. A mesma água que se torna obcecação e ansiedade, permanente do povo cearense transformou-se agora no mais perigoso agente de destruição. A fonte tão desejada da vida tornada em fonte de desolação e morte.
E os mesmos lúgubres cortejos à busca de sustento, abandonando as terras calcinadas, formam-se neste momento, fugindo à fúria devastadora das águas, que tudo submergem e destroem.
As notícias dizem-nos que, com a rotura do grande açude de Orós, ainda incompleto, mas que já represava cerca de 700 milhões de metros cúbicos de água, foram completamente inundadas as cidades de Jaguaribe, Limoeiro, Castanhão e Jaguaribara, estando ameaçadas do mesmo perigo, com o caminhar da torrente avassaladora, as cidades de Aracati, Jaguareana e Itaicaba. Corpos humanos e de animais boiavam na corrente. Numerosas famílias esperavam resignadamente, nas ilhas formadas sobre as planícies inundadas, que as fossem retirar de tão dramática situação.
O estoicismo do povo cearense é neste momento mais uma vez posto à dura prova. Mas não é apenas neste estado que as chuvas diluvianas fizeram destruição de homens, animais e plantas. Foram flagelados também o Rio Grande do Norte, o Piauí e outros, estados. Os açudes, tão esperançadamente construídos para reter as preciosas águas, estão neste momente gravemente ameaçados.