566 DIÁRIO DAS SESSÕES N.º 163
reito a que, como disse, excepcionalmente, desta tribuna sejam formulados votos pelo seu restabelecimento, pois desejo que saiba que os portugueses amigos acompanham o evoluir da moléstia que infelizmente o tocou com o mesmo amor com que cuidou das nossas próprias.
Assis Chateaubriand há-de assim, sentir que do lado de cá do Atlântico a sua personalidade singular é tida com apreço e respeito e que as gentes de Portugal, como as do Brasil, não aparecem apenas nas horas alegres, mas também nas outras.
Esse o sentido mais íntimo daquela Comunidade que no grande jornalista, e homem di; influência encontrou um dos maiores pregoeiros e defensores, pois se estruturava em realidades profundas da vida o sentimentos dos dois países e povos.
Tenho dito.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi muito cumprimentado.
O Sr. Sarmento Rodrigues: - Sr. Presidenta: acaba do regressar de uma visita à Guiné e a Cabo Verde o ilustre embaixador dos Estados Unidos no nosso país. O distinto diplomata deslocou-se à Guiné Portuguesa com a missão de participar na inauguração do monumento ao seu ilustre compatriota Presidente Ulysses Grant, monumento que na cidade de Bolama, e na sua melhor praça, fica a atestar o reconhecimento português à integridade do grande estadista que proferiu a sentença arbitral que terminaria a querela, em abono da razão que a Portugal assistia, sobre os direitos à ilha de Bolama e ao território continental fronteiro.
A parte o significado especial desta cerimónia, que, segundo o testemunho do embaixador Burke Elbrick, vem neste momento acentuar ainda mais os sentimentos de amizade que unem os dois países (membros da aliança atlântica - Portugal e os Estados Unidos) e que não é senão a continuarão de uma amizade nunca desmentida, mesmo sem esse importante significado, uma visita de um homem publico americano ao ultramar português reveste-se para nós de grande interesse. Para a política de verdade, sem sofismas nem esconderijos, que seguimos no ultramar só há vantagens que homens esclarecidos o de boa fé procurem certificar-se pelos seus próprios olhos da situação dos territórios portugueses. Aqueles que, como o embaixador Burke Elbrick, não estão ao serviço de políticas rujo fim é a destruição da civilizarão ocidental e que, como ele servem a nobre causa do entendimento e amigável convivência de todos os homens dentro do respeito das respectivas nacionalidades e culturas, são sempre bem-vindos à terra portuguesa, nas quatro partes do Mundo.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O Orador: - O seu testemunho honesto consciencioso será a- melhor justificarão de toda a razão que lios assiste. Se não precisamos da aprovação de outrem para orientar a nossa vida, também nos não é indiferente que os amigos compreendam os nossos problemas e que mesmo alguns adversários nos prestem justiça. Foi o que tive a satisfação de transmitir a esta Câmara por ocasião do meu regresso da primeira reunião da Comissão Consultiva Africana, que no fim do ano passado se realizou em Luanda. Ali. como disse, apesar das diferences ideológicas que separavam muitos dos participantes, foi no geral, prestada homenagem aos esforços e às intenções portuguesas, tão evidentes no maravilhoso panorama social e urbanístico que a cidade de Luanda lhes oferecia.
É, portanto, da maior utilidade que estrangeiros sérios e categorizados nos conheçam e que, por uma observação atenta e nau fugidia, examinem o nosso sistema de vida, já velho de centenas de anos o que corresponde ainda hoje à formarão cristã e às expressões de fraternidade humana que tem caracterizado, através da. história, com todas as suas vicissitudes, o povo português.
É certo que a maior parte daqueles que, chegam às províncias ultramarinas trazem consigo uma natural desconfiança, uma prevenção, derivada de tudo quanto as propagandas insidiosas lhes disseram sobre os malefícios da administração portuguesa. Essas propagandas têm sempre origem nos inimigos dos valores pelos quais o Ocidente se engrandeceu e se impôs ao respeito do Mundo; algumas delas partem, na verdade, de fora do mundo ocidental; mas outras, não menos violentas e perigosas, geram-se no próprio seio de gloriosas nações ocidentais, que. deixando-as medrar à sombra de uma política de tolerância, tolerância que deveria ter um limite, correm o risco de estarem alimentando, ou pelo menos consentindo, uma obra de autodestruição.
Mas essa desconfiança e essa prevenção dos nossos visitantes depressa se desvanecem em presença de uma observarão directa, à vista dos factos, dos acontecimentos, das pessoas.
Temos tido disso a melhor prova, podendo citar agora, de memória, alguns exemplos:
A visita a Angola e Moçambique do mayor Rishell, de Oakland, Califórnia, em 1956, donde ele trouxe uma enorme documentação fotográfica, que lhe serviu para depois mostrar na sua terra o que ele próprio tinha visto, desfazendo atoardas e desconfia uras apenas com esta simples frase: «Isto vi-o eu!»;
A missão de estudo que Gilberto Freire - este não é, evidentemente, um estrangeiro -, um dos mais ilustres sociólogos contemporâneos, ouvido em todos os meios internacionais, onde a sua erudição só tem igual na sua probidade, a missão que ele realizou a Angola, Moçambique e índia, em 1951 na qual se documentou para a confirmação da sua teoria do luso-tropicalismo que formulara em presença da maravilhosa realizarão social que é o Brasil;
A célebre parada, de jornalistas estrangeiros, de todas as nações e de todos os credos, que acorreram a Goa - terra por muitos considerada um antro tenebroso de violências -naquele famoso dia da anunciada invasão de Agosto de 1954- parada e curiosidade que duraram apenas o tempo para cada um ver a serenidade a paz tranquilidade da índia Portuguesa, falar com os portugueses de todas as origens e verificar que era realmente de portugueses que se tratava;
As visitas que categorizados membros da Organização Internacional do Trabalho realizaram à Guiné em 1954;
E, para não alongar mais, a própria reunião de Luanda a que acabei de .me referir.
É que, na verdade, nada temos que esconder. Temos problemas, felizmente que os temos, porque vivemos em época de progresso; mas problemas que honestamente procuramos resolver, sem a pretensão de agradar ao Mundo, mas dentro do sentimento de aperfeiçoar as condições de vida nacionais.
Todas estas reflexões afinal me sugere a visita do embaixador. Estas e ainda algumas outras. É que o distinto diplomata, ao fazer as declarações que vieram a lume na imprensa, mostrou ter apreciado e compreendido o esforço português, a que, prestou justiça. E este seu reconhecimento directo insofismável, dos problemas da África Portuguesa tem o maior interesse para o esclarecimento idóneo da opinião pública do seu grande e generoso país, por vezes tão mal es-