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2 DE DEZEMBRO DE 1960 85

Se os Estados detentores da soberania cometeram qualquer erro de apreciação e precipitaram as concessões que elevaram tais territórios ao plano de Estados independentes, não hei-de apreciá-lo aqui. Vamos admitir que viram bem e procederam em todas as circunstâncias como deviam, nem cedo nem tarde.
Vamos admitir que os territórios dispunham e outros estão em vias de dispor, no momento em que ascenderam à independência, do escol necessário para orientar a política, dirigir a administração, gerir as finanças, administrar os empreendimentos económicos. Para que estas soberanias não sejam fictícias e estas independências sejam inteiramente responsáveis, em termos de se constituírem membros da comunidade internacional e de conviverem pacificamente com os outros Estados, todas aquelas condições seriam indispensáveis.

Apoiados.

Não é elegante sublinhar qualquer deficiência, e por isso atribuiremos certas atitudes, alguns propósitos e ameaças, a pretensão de expansões imperialistas, à euforia de espíritos plenamente felizes, porque convictos de terem descoberto o Mundo e de estarem na posse de todos os segredos da condução da Humanidade.

Apoiados.

Em geral, nestes territórios, hoje ou amanhã Estados soberanos, para o que se diz virem sendo preparados desde longe, podem, não obstante, surgir conflitos raciais, mesmo dos homens de cor entre si - tradicional flagelo da África antes da colonização europeia. Como na hipótese o branco é elemento de passagem, não fixado nem portador de outro pensamento político que não seja exactamente o da retirada e do abandono, não haveria razão para que certas mutações a que temos assistido suscitassem as violentas explosões de racismo contra o homem branco, credor dos progressos realizados e suposto não necessário já à evolução económica e social dos territórios.

Grandes aplausos.

Há factos a desmentir estas previsões; apesar disso, este caso é o mais simples dos que a África negra nos apresenta.
A questão é de facto muito mais intrincada quando os territórios são povoados por brancos e por negros, sobretudo se o branco ocupou territórios livres, desbravou as terras, estabeleceu as explorações agrícolas ou industriais, financiou os empreendimentos, organizou a administração, manteve a ordem e a paz. A descoberta, a conquista, o trabalho incorporado no solo, a sucessão das gerações, são títulos do legitimidade contra os quais a frase explosiva corrente - a África é dos Africanos - pretende nada menos que refazer a história, sem dispor de força para dar solução ao problema. Esses territórios encontram-se premidos entre o valor da qualidade que é a administração, a direcção do trabalho, a posse dos meios económicos e o peso do número, por si só insuficiente para assegurar o progresso geral. Pretende-se democraticamente resolver o problema, conferindo ao maior número a direcção total da comunidade. Devemos ter a coragem de afirmar que estes casos não têm solução possível - digo solução pacífica, equitativa, progressiva - dentro das ideias correntes; não têm solução nenhuma no quadro do racismo negro nem do racismo branco.

Aplausos demorados.

O único caminho seria enveredar no sentido das sociedades plurirraciais em que as raças se misturassem ou convivessem, vindo a pertencer a direcção e o mando aos mais hábeis e melhores; mas este processo nem sempre é espontâneo e não pode em qualquer caso dispensar a tutela e guia da soberania tradicional.
Através das nuvens de poeira que a campanha anti-colonialista levanta, não se atenta num compreende o drama das sociedades deste tipo, como, entre outras, a Argélia, as Rodésias, a África do Sul. Quando vejo cegos ataques desferidos contra as soberanias responsáveis e contra as providências naturalmente hesitantes ou até contraditórias dos seus governos, em vez de mostras de compreensão e de pacientemente se ajudarem a vencer as dificuldades, pendo a crer que a razão e a justiça são sacrificadas a ideologias sem base e a paixões instintivas ou que há outros interesses em jogo que não são propriamente nem os interesses dos pretos nem os interesses dos brancos que com eles convivem.

Grandes aplausos.

Todos os territórios africanos de uma ou outra composição demográfica, talvez com excepção da África do Sul, se consideram correntemente subdesenvolvidos. Acerca das possibilidades de progresso económico e social andam no ar muitas ilusões e há esperanças que talvez jamais se convertam em realidades, dadas as características do continente africano. Mas de qualquer modo, mesmo nos territórios mais avançados por obra e graça do branco, há longos caminhos a percorrer quanto à saúde, à educação, à produção de riquezas, ao emprego, ao nível de vida das populações.

Apoiados gerais.

Esse trabalho ciclópico e ingrato exigirá largos espaços de tempo e, além de tempo, capitais, técnica, direcção administrativa. Quem os fornece?
Os territórios de que me ocupo não criam capitais suficientes para a sua crescente valorização, não dispõem de técnicos bastantes nem da direcção necessária. Os problemas raciais que estão sendo avivados e suscitados, mesmo onde não existem, importam a inutilização dos valores de organização e financiamento quo o branco representa. Então formulam-se sugestões, umas ousadas e inviáveis, outras ingénuas e ineficazes, para que o vazio criado seja de qualquer forma preenchido, em homens e em dinheiro.
A necessidade de realizar essa tarefa é evidente; mas mais premente será antes a de planear, em harmonia com as necessidades da população e as directrizes e exigências da economia mundial, o conjunto do trabalho nos territórios. E veremos então surgir algures a sede desses cérebros, a central desses técnicos, a banca dessa finança, estranhos aos territórios, mas encarregados de ocupar-se deles, com o que teremos inventado uma nova forma de colonialismo - o colonialismo internacional. Temos exemplos à vista.

Aplausos calorosos.

Quanto aos capitais necessários, o problema é redutível a saber se se caminha no sentido do subsídio dadivoso ou no do capitalismo. As pessoas que têm alguma experiência de governo sabem que mesmo nas nações de mais antiga estrutura as marcas de solidariedade da população podem revelar-se com exuberância, mesmo com entusiasmo, mas sempre acidentalmente; não é essa a forma normal de nos ajudarmos uns aos outros. A intervenção da autoridade é que indica as rotas, define as necessidades e distribui os sacrifícios. Mas na sociedade internacional não só estamos muito mais longe dos sentimentos de coesão fra-